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Há dezoito anos que não nevava com tanta violência em Londres e a cidade parou por horas - metro, autocarros, taxis e, naturalmente, aviões com voos cancelados. Os mais irónicos e sarcásticos veriam nisto a confirmacão de que o aquecimento global pode ser uma treta, embora o modelo de alteracão climática suponha acontecimentos destes. Seja como for, todos os meus voos foram cancelados - o que deu tempo para ver uma cidade como ela só é nos filmes: casais passeando na neve crepuscular do Hyde Park (e mesmo à noite, como num cenário de Delvaux), miúdos construindo bonecos de neve em Kensington ou atirando bolas em plena Gloucester Road. Subitamente, o frio siberiano devolveu-nos um pouco da vida. Fechado num aeroporto, recordo o dia em que Londres voltou a ser um bairro do século passado.
No A Causa Foi Modificada, um relato de viagem de comboio do Algarve para Lisboa com princípio de uma outra para norte de Vila Franca de Xira. Aprendam.
Cinco graus abaixo de zero, frio, humidade, as montanhas à volta à espera da neve. E as árvores da minha infância: castanheiros, carvalhos, faias, choupos. E o silêncio no meio do frio. Um dia ou dois bastam para recuperar.
A velha magia de Brasília é apenas uma sombra na memória; tão sombria que os melhores momentos são o entardecer, visto das alturas, e o amanhecer às cinco e meia da manhã. Uma burocracia mal vestida e marcada pelo ferrete da suspeita habita os hotéis e restaurantes, os corredores das passagens subterrâneas e o mau gosto geral da arquitectura e da cidade, onde, a muito custo, se descobre Niemeyer. Contento-me com o amanhecer, que é silencioso.
Por estes dias: em Brasília, onde o céu escurece mais tarde.
1. A morte de Bergman e de Antonioni. É uma parte do «meu» cinema que desaparece. Uma parte de mim.
2. A livraria Michelena, em Pontevedra. Tomara a província portuguesa ter livrarias assim...
3. O restaurante El Crisol, no O Grove (Galiza). A qualidade gastronómica e a simpatia no atendimento. Parabéns, D. Digna!
4. O bar de copas Vinilo, também no Grove. Para um urbano-depressivo como eu, um oásis no meio das férias. E com fumo, como convém.
5. O Terras Gaudas, que descobri há muitos anos atrás pela mão do Paco Feixó. Continua um vinho branco excelente, a provar que o Albariño pode ser acertadamente misturado com outras castas.
6. Os contos de Hemingway, numa excelente edição (e tradução) espanhola da Lumen. O reencontro com um dos "meus" escritores.
7. Estar no Algarve fechado num hotel como se o Algarve não existisse. A felicidade às vezes anda perto de nós.
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