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O presidente da entidade que vigia a comunicação social, a ERC, acha que o programa da SIC ‘O Momento da Verdade’ é “uma forma de prostituição”. A acusação é grave e merece ser lida com atenção, vinda de quem vem. Os dicionários são claros sobre o que significa “prostituição” e a palavra deve ser utilizada com cuidado. Passei os olhos sobre o programa e parece-me – estando o mundo como está – que há evidente exagero na designação, mas não o verei mais. Um dos problemas é que o Sr. Nogueira, o mais criticado dos concorrentes, não tem a aura de prostituto de luxo, que se desculpa em situações semelhantes, quando os personagens se vendem por muito mais, mas com aplauso chique; o outro problema chama-se “comando da televisão”. Tem uma série de botões e serve para mudar de canal.
Da coluna do Correio da Manhã.]
O título deste post é Cabeça a Prémio porque esse é o título do livro que está à minha frente, um livro de Marçal Aquino. Podia ser Televisão. Normalmente uso a televisão como um electrodoméstico vulgar, bom para ver algumas coisas de informação, séries no Cabo, alguns filmes e desporto. Graças ao Euro, passei duas noites a vaguear entre «canais generalistas», portugueses e estrangeiros. Lembro-me sempre, e isto não tem nada de snob, do género «que horror que anda a nossa televisão», da tirada de Paulo Francis quando, chegado ao Brasil, passou um tempo a ver televisão e declarou, no «Manhattan Connection»: «Declaro-me tecnicamente morto.» Estou tecnicamente sem reacção. Vi dois minutos de cada uma das telenovelas da TVI, as portuguesas, e fiquei sem reacção. Vi uns minutos de um suposto espectáculo sobre «talentos» na RTP, e fiquei sem reacção. Vi, por uns minutos, uns rapazes na SIC Radical a imaginarem ter graça sobre já não sei o quê. Uma coisa chamada PortoCanal transmitia um debate sobre futebol, a SIC Notícias anunciava futebol para daí a bocado, e acabei por parar num canal francês onde a reportagem captava uns rostos vagamente familiares, pertencentes a uns corpos que estavam aos saltos em Neuchâtel, a dizer «Portugaaaale, Portugaaaale», e o pivot sorria, com aquele ar, vocês sabem. Cabeça a prémio. Tenho a cabeça a prémio.
Apanhei um programa de Artur Albarran na SIC a anunciar «vídeos divertidos» de animais e chamei a minha filha para ver. Quando ela chegou já não havia pandas a espirrar e estavam com uma reconstituição de cenas de violência doméstica. Mudei de canal e ficámos a ver um meeting de atletismo na Grécia e fiquei a saber que aquela rapariga Stela Pilatou, do salto em comprimento, vai aos Olímpicos. Fico à espera, embora prefira a Naide Gomes.
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