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Poemas perdidos. Bai Juyi.

por FJV, em 24.07.08

 

A neve derrete, dias cada vez mais quentes,
o gelo desaparece, raios de sol inundam a terra,
pouco a pouco os rebentos ganham força.
A Primavera só não desfaz a geada branca em meus cabelos.

 

Bai Juyi [772-846]

 

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Poemas perdidos. Bernardo Pinto de Almeida

por FJV, em 23.07.08

 

Falamos das coisas e elas acontecem

por isso ciciamos o que nos pede o corpo

não são as coisas só aquilo que dizemos

nossas pobres palavras não as dizem inteiras?

As palavras são coisas, extremas, luminosas,

quando tu dizes porta, há uma porta que se abre

quando tu dizes sexo, há um amor que se cumpre

não sabemos sequer o poder das palavras

nem o poder das coisas nem o poder dos rostos.

As coisas são palavras feridas pela morte

são agulhas finíssimas que trespassam a noite

os teus lábios dizem coisas os teus lábios cintilam

por eles fala o mundo, por eles se faz o oiro

pois o mundo acontece sempre que o pronuncias.

 

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Poemas perdidos. Manuel António Pina.

por FJV, em 22.07.08

 

Real, real porque me abandonaste?
E, no entanto, às vezes bem preciso
de entregar nas tuas mãos o meu espírito
e que, por um momento, baste

que seja feita a tua vontade
para tudo de novo ter sentido,
não digo a vida, mas ao menos o vivido,
nomes e coisas, livre arbítrio, causalidade.

Oh, juntar os pedaços de todos os livros
e desimaginar o mundo, descriá-lo,
amarrado ao mastro mais altivo
do passado! Mas onde encontrar um passado?

 

Manuel António Pina, Os Livros. Assírio & Alvim

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Maio de minha mãe.

por FJV, em 01.05.08


O primeiro de Maio de minha Mãe
Não era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do Avô
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.

Já não se usa poesia descritiva.
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mão?
O primeiro de Maio nas ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cúmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
Límpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mãos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por essa época: eu é que não sabia!)

A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu Avô,
Cujas quedas iguais, gravíficas, profundas,
Muito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,

Muita estrela atraíram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Favas de Maio do meu tempo!
Havia poder popular
Nas mãos de minha Mãe, que as descascava como flores
E flores eram de si, na Flórea abada
Como se já guardassem flor de laranjeira e açaflor
Nas suas intenções de Maio 1918, para as depor
(Nem pensada sequer) na fronte à minha amada.

Vitorino Nemésio

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Um Goya para Carlos do Carmo e Fernando Pinto do Amaral.

por MAV, em 03.02.08
Deu há pouco em directo na TVE. O "Fado da Saudade", de Fernando Pinto do Amaral, que Carlos do Carmo interpreta a abrir a película "Fados", de Carlos Saura, ganhou o "Goya" para a melhor canção original. Como disse o Fernando, é uma grande vitória da poesia (portuguesa)... e do fado.

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Um Solar para a poesia.

por FJV, em 25.11.07









Tiveram ontem lugar os 3ºs Encontros Internacionais de Poesia promovidos pelos CS Hotéis. As duas primeiras edições realizaram-se no CS Suite Hotel de S. Rafael (Albufeira); a edição deste ano mudou-se para o Douro, tendo como cenário o Solar da Rede, em Mesão Frio.
Eduardo Pitta, Helga Moreira, Maria do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral e valter hugo mãe foram os poetas portugueses presentes; de Espanha veio Juan Carlos Mestre.Para além da noite de poesia, os poetas e jornalistas presentes puderam usufruir da qualidade hoteleira e restaurativa, quer do Solar da Rede, quer da Vintage House, no Pinhão, unidades que integram agora o grupo CS.
Cabendo-me desde o início a missão (fácil) de coordenar estes encontros, regozijo-me com duas coisas:- a disponibilidade de uma empresa privada para apoiar uma iniciativa cultural minoritária;- o ambiente cordial que se consegue criar entre poetas de gerações muito diferentes, transformando um recital de poesia num convívio fraterno e enriquecedor, em que não há ânsias de protagonismo nem invejas.
Foi assim em 2005, foi assim em 2006, voltou a ser assim em 2007. E já lá vão 17 poetas: 13 poetas portugueses e 4 poetas estrangeiros.
[MAV]

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por FJV, em 29.08.07
||| Lacerda.
Um excelente texto de Eduardo Pitta, para entender a obra de Alberto de Lacerda:
«Alberto de Lacerda, que morreu anteontem, a um mês de completar 79 anos, viveu sempre numa terra de ninguém. A Moçambique, onde nasceu, e que deixou na adolescência, voltou uma única vez (em 1963). Portugal não passou de um intervalo. Não admira que tenha sido em Londres, cidade de que era cidadão honorário, onde viveu durante 56 anos consecutivos, que a morte o tenha surpreendido. John McEwen, o crítico de arte com quem tinha combinado almoçar no domingo, estranhou o atraso e acabou por arrombar a porta. Alberto de Lacerda ainda estava vivo, porém em coma. Morreria horas depois. Conhecendo-o como conheci, sei que teria apreciado o detalhe final.»
[FJV]

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por FJV, em 08.08.07
||| João Vário (1937 - 2007).










Morreu nesta madrugada, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde, o poeta João Vário (aliás cientista e neurocirurgião João Manuel Varela, aliás poeta Timóteo Tio Tiofe, aliás contista G. T. Didial), o meu eterno candidato africano ao Prémio Camões.

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E então subimos aquele grande rio
e as portas do Ródão, chamadas. Era em abril
dois dias depois da neve
e da cidade dos nevões, na serra.
E olhamos para os penhascos da beira-rio,
as oliveiras, o xisto, a cevada
as ervas de termo, e as colinas.
E, junto da via férrea, os homens do pais
miravam-nos como se fossemos nós
e não eles os mortos desta terra,
homens do medo e do tempo da discórdia
que trazem para o cimo das estradas
a malícia que vai apodrecendo
seus pés neste mundo e em terras de outrém.
Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável, os homens,
perdidos que estais, hoje como ontem,
entre a casa e o limiar?
E evocamos, mais uma vez, esse provérbio sessouto.
E, na verdade, porque regressaremos,
após tantos anos, a este tema?
Será que a morte nos ensinou
a olhar para o homem com pavoroso êxtase?

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Há muito passado no estar aqui com o tempo,
Fim e reconhecimento, e não sofrendo nada mais do que o tempo concede,

Fim de novo e reconhecimento de novo
E tudo é crime, ou crime sempre, crime ou crime,
Criminosissimamente crime,
Quando arriscamos a intensidade, comemorando.
Aumento e festa, ou cilício, e tempo de cair e tempo de seguir,
Tempo de mal cair e tempo de mal seguir,
Oh amamos tanto, amamos tanto estar aqui com o tempo
E sabendo que há nisso pouco passado.
Porque maiores que os desígnios da vida
São os desígnios da medida e, divididos
Em dois por eles, com eles indo, se por eles
Ganhamos o tempo, pedimos a forma mais fácil
De indagar que vamos morrer e, um dia, se
O tempo for deles e, a memória, de outros,
Havemos de ser úteis como mortos há muito,
Sem que a causa, o delírio, a designação,
O julgamento nossa medida abandonem,
Dividida em duas por elas, e ganhando constância.

Depois, depois faremos ou fará o tempo, por sua vez,
Aquele blasfemíssimo comentário,
E então consta que amámos.


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Mais poemas de João Vário aqui.

[FJV]

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por FJV, em 14.06.07
||| Al Berto em Coimbra, 1992.













A não perder, esta gravação de Al Berto, a 17 de Janeiro de 1992, durante «uma noite de poesia nas instalações do bar da Associação dos estudantes» (disponibilizada no blog da Frenesi). São dezasseis minutos: «Os estudantes já então preferiam música pimba, anedotas porcas, cerveja a rodos e praxar as colegas... A poesia saiu vaiada.» A fúria de Al Berto diante dos energúmenos que preferiam Quim Barreiros de capa e batina. Ai Coimbra.

Para ouvir, clicar. Pode fazer-se download.


Adenda: Escreve o Miguel Direito, por mail: «Escrevo porque estive no "local do crime", em 1992, no café D. Dinis, em Coimbra. O que lá se passou foi uma vergonha, ainda que previsível. É verdade que alguns (terei vergonha de dizer vários!?) pós-adolescentes alcoolizados vaiaram o Al Berto, mas, se bem me recordo, a maioria até estava lá para o ouvir e fruir o raro momento. O facto de metade das pessoas se encontrar no local por causa do Al Berto mas de a situação ter descambado por causa de cerca de 1/4 dos presentes não desculpa estes últimos e não deixa de ser representativo do tipo de "jovens letrados" que o pais anda a criar. Por outro lado, tudo isto pode ser um sintoma da democratização do ensino, pois se os filhos de todo o "bom povo Português" têm acesso ao ensino, não é de esperar que chegados a "Coimbra" se tornem e actuem, por artes mágicas, como uma elite cultural ou arautos de civismo. Mas qual será a alternativa a curto prazo? Mas, de facto, tenho que concordar com a ideia geral de que Coimbra mantêm o pior do elitismo provinciano e praxista e adquiriu o pior da galopante falta de civismo e cultura dos jovens estudantes. Contra mim falo, que por lá andei de 89 a 94, em Direito.»

[FJV]

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por FJV, em 14.06.07
||| Al Berto na Casa Fernando Pessoa.










Na Casa Fernando Pessoa, até dia 19, uma pequena mostra bibliográfica de Al Berto, que inclui materiais cedidos pelo Centro Cultural Emmerico Nunes, de Sines -- entre eles, trabalhos gráficos do poeta. Pode também rever o vídeo da última entrevista de Al Berto na televisão, ao programa «Escrita em Dia», então na SIC.
[FJV]

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por FJV, em 13.06.07
||| Dez anos sem Al Berto.











[FJV]

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por FJV, em 20.05.07
||| Desculpem lá, rapazes...









«Ó meu Porto onde a eterna mocidade
diz à gente o que é ser nobre e ser leal
teu pendão tem o escudo da cidade
que na História deu o nome a Portugal

Ó campeão... (etc.)

[MAV]

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por FJV, em 27.04.07
||| Fragmento. Cecília Meirelles.












«Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. [...]»

[Reprodução de um quadro de Tarsila do Amaral]

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