O
Expresso deste sábado avançará com uma reportagem sobre
as meninas de Bragança. Ora, nós somos um país sério, em pantufas, metidos connosco, sentado diante da televisão, com uma província cheia de melros a cantar nas oliveiras que ainda restam. Em 2004, a
Time não tinha nada que nos vir incomodar com aqueles retratos, aquelas declarações citadas entre aspas (como manda a decência jornalística), aquelas revelações sobre
as meninas de Bragança. O que é divertido, no entanto, não é a confirmação da existência de «meninas de Bragança» pelo país fora. Até dá um certo colorido. É a existência das Mães de Bragança, entretidas com a moral. Mas Bragança evoluiu, Bragança cresceu, Bragança modernizou-se, Bragança vai na senda do progresso; segundo parece, como conta um agente do SEF, os pobres homens de Bragança, em vez de passearem pelo Largo da Sé e subirem e descerem a Rua Direita discutindo a geada, o futebol e o isolamento do Nordeste, ou consultarem o catálogo do Museu do Sr. Abade de Baçal, são seduzidos por «anúncios publicados na imprensa» e caem na perdição, dirigindo-se na calada da noite até apartamentos alugados por brasileiras. Ah, fossem cidadãs de Vila Flor, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé ou Vinhais -- e tudo se explicava. Mas ainda por cima são brasileiras, não têm bigode e sabem-na toda.
Mas como o Altíssimo é perverso, o
Expresso contará ainda mais esta miséria: «Duas das quatro mulheres mais activas do movimento contra a presença das meninas brasileiras na cidade, estão hoje divorciadas. E uma delas perdeu o marido para uma das prostitutas que tanto repudiava.»
Tudo isto ficaria bem num romance de Jorge Amado, se o retrato tivesse uma luz de decência ou de malandrice. Mas no meio do país sonso, de plástico sujo, incomodado com o espelho, eu limito-me a sugerir que Bragança deve ser defendida como uma explosão de sensualidade. E exorto bandos de machos fesceninos e malandros, a perderem a vergonha e a encaminharem-se para as portas da cidade, ao engate: às senhoras de Bragança, rapazes, às senhoras de Bragança!