
O delegado Espinosa de regresso à ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza, em
Na Multidão (depois de
Espinosa sem Saída). E, com ele, Ramiro, Welber, a solidão nostálgica do Bairro Peixoto em Copacabana, a gastronomia vagabunda de Espinosa das suas paixões. Só quem sabe, só quem sabe.
Para ler mais sobre Garcia-Roza: Entrevista com Luis Alfredo Garcia-Roza publicada na revista Ler há uns tempos. E, aqui, um Espinosa de A a Z.

Ruy Castro, o autor das biografias de Garrincha (
Estrela Solitária), Nelson Rodrigues (
O Anjo Pornográfico) e Carmen Miranda (
Carmen: Uma Biografia), além da belíssima biografia do Rio de Janeiro,
Carnaval no Fogo, regressa à ficção depois de
Bilac vê Estrelas, com
Era no Tempo do Rei, romance que nos leva à chegada da corte portuguesa ao Rio, com o príncipe D. Pedro como figura principal na noite carioca de então.
Deixem-me recordar a sua evocação do Rio ou da Guanabara no princípio do mundo (em
Carnaval no Fogo):
«Se Vespúcio voltasse hoje à cidade, quinhentos anos depois, como seria? Em 1502, ao defrontar-se com o Pão de Açúcar, ele vira na Guanabara algo muito parecido com a ideia que os antigos faziam do Paraíso: um carnaval de montanhas, serras, praias, enseadas, ilhas, dunas, restingas, manguezais, lagoas e florestas, tudo sob um céu que não tinha fim. Uma obra-prima da natureza, habitada por uma gente feliz, bronzeada e amoral. […] Uma vida tão feliz e paradisíaca que deixava muito mal a ideia, então corrente entre os jesuítas, de que os selvagens não tinham alma.» P.q.p., hã?

E Tim Maia, que morreu em 1997, agora com biografia à altura. Devastador Tim Maia, selvagem e surpreendente como só ele era, descrito e escrito por Nelsinho Motta em
Vale Tudo. O Som e a Fúria de Tim Maia. Recado de Tim para Nelson em 1997, Nova Iorque: «
Ô Nelsomotta, eu tô aqui sentado numa cadeira e tomando café numa mesa tão antiga que estou me sentindo um Dom João VI, porque tudo é antigaço nesse hotel, mas o fogão está funcionando e você está convidado a tomar um breakfast e a torrar unzinho comigo. Now!»

Marcelo Rubens Paiva, o autor de
Malu de Bicicleta, de
Feliz Ano Velho ou de
O Homem que Conhecia as Mulheres, agora reedita algumas das suas crónicas exemplares em
As Fêmeas. Extracto de uma delas: «T
ive um colega de faculdade que morava na Augusta sobre um bar-padaria suspeito, fachada para tráfico de pó e de putas. Antes de dormir, costumava tomar uma cerveja e olhar o movimento. Numa noite, a puta “xis” discutia com um freguês, que passou a agredi-la. Deu cinco minutos, meu colega se levantou e a defendeu, expulsando o inoportuno do bar. Pra quê? Foi adotado. A menina o convidou para ser seu gigolô. “Não, sou um estudante da USP, futuro profissional liberal. Não convém ser um gigolô” — ele não disse, mas seria sua resposta se a honestidade fosse um hábito. Inventou uma desculpa qualquer que não colou. A menina descobriu que ele morava em cima da padaria e passou a deixar uma parte dos seus ganhos debaixo da porta. Ele procurava devolver a grana. “Mas você é o meu homem, merece o dinheiro.” O que fazer? A universidade não tem respostas para situações triviais. Nada.»