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Recomendo esta pequena amostra de interesse olímpico português recolhida pelo Pedro Sales.
Apesar de ter sido arquivado, o caso Maddie não terminou. Há aquela dúvida. Aquela – saber o que aconteceu com Maddie. A dúvida permanecerá por anos, inspirará várias ficções e será um caso estudado pelas polícias. Numa sociedade cheia de crispação e ressentimento, como a nossa, o caso acrescenta mais combustível aos sinais de revolta evidente contra as instituições (o Estado, as polícias, a justiça, a família, o jornalismo, por exemplo), que se acusam mutuamente mas em surdina. Poucos casos como este evidenciaram ódios e desleixos tão profundos e o perigo de misturar convicções e evidências no mesmo saco. O que mais sobram, agora, são dúvidas – e custa a crer como o poder político, manhoso, se distancia do assunto como se não fosse nada com ele. O caso não terminou.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Uma notícia da Macedónia: «Um jornalista macedónio foi preso sob suspeita de ser o assassino de três mulheres, crimes sobre os quais escrevia nos jornais em que trabalhava.»
Ver e rever imagens e textos; eles explicam como o jornalismo de causas trabalha no Médio Oriente.
[Via Blasfémias/CAA]
Quando se abordam questões relacionadas com o tabaco, entramos num domínio claramente irracional, comparável ao do futebol. Por um lado, é um método para os blogs subirem audiências; por outro, sobretudo naqueles que têm comentários abertos, é uma oportunidade de abrir debates e de receber vários insultos. Três notas apenas, independentemente do que escrevi antes:
1) O Francisco Mendes da Silva localizou a questão da moral; ou seja, mudou-a de lugar, e fez bem. Eu tinha chamado moralista à notícia do Público; o FMS acha que a questão moral se deve colocar no âmbito da moralidade política básica: para que «nos perguntemos se a lei que com tanta gravidade nos impuseram é verdadeiramente para ser aplicada ou se não passará, afinal, de uma proposta de vida do tipo religioso e, portanto, de letra-morta jurídica». Ou seja, se bem entendi: se se trata de uma lei, é uma prescrição para levar à letra e não para eleger apenas como princípio orientador, sujeito ao livre-arbítrio. Resposta: é uma lei assinada por José Sócrates.
2) O ressentimento seria natural. Se Sócrates assinou a lei, se a Direcção de Saúde evangelizou com espalhafato, e se a larga maioria da sociedade («sociedade» é um termo difuso, sim) apoiou a lei, então é preciso fazer com que Sócrates pague: a multa, em primeiro lugar; politicamente, em segundo lugar. É uma vingança que qualquer fumador exige em nome da coerência. E, no entanto, é de ressentimento que se trata. Ou de como um cigarro abalou a cena política e lançou ainda mais desconfiança sobre os políticos e os jornalistas, uma vez que se podia geralmente fumar nas três ou quatro últimas filas dos aviões das comitivas oficiais. O grau de ressentimento é maior porque a notícia, que podia ser dada há oito anos, quando creio que se deixou de fumar a bordo da TAP, só foi dada agora.
3. O pior de tudo: a declaração de José Sócrates, aceitando a punição e dando um passo em frente. Ninguém lhe tinha pedido para deixar de fumar. Mas, depois de um «mau exemplo» (do ponto de vista da moral), o «bom exemplo», porque vai «deixar de fumar». Mais uma vez, a moral. Não há paciência.
||| Liberdade e libertinagem.
O essencial do artigo de Marinho e Pinto (Público de ontem) sobre o tratamento do «caso Maddie» (referido por Vital Moreira) na imprensa está correcto. Discordo totalmente do apelo «ao combate contra a libertinagem de imprensa». Talvez seja matéria linguística apenas, mas o que é «apenas» matéria linguística há-de acabar por ser também matéria de facto. Há uns tempos, o Prof. Freitas do Amaral mostrou o que era a «libertinagem» a propósito do caso das «caricaturas do Profeta»; ou seja, indicou o caminho para os fariseus (outra questão linguística). Quando se condena «a libertinagem» para se defender «a liberdade» estamos no limite de um labirinto e de um perigo real. O livro de Ian Buruma sobre Theo Van Gogh «e os limites da tolerância» mostra uma parte do problema; Van Gogh seria apedrejado em Coimbra ou impedido de ir à televisão e à rádio. O problema do caso Maddie não é o da «libertinagem» da imprensa – mas o do horror à investigação, ao jornalismo e à verdade; e, naturalmente, o triunfo das teorias da conspiração, da desinformação policial, da maldade e do machismo lusitano. Isso combate-se. A libertinagem só se combate colocando a liberdade em perigo.
[FJV]
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