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Sexo nas estradas de El Chaco. Um apoio veemente.

por FJV, em 20.12.07


A imprensa de língua espanhola está hoje escandalizada com a notícia de que seis professoras da cidade argentina de Corrientes (de um colégio instalado nos arredores, em Pago del Deseo – um nome fantástico) tiveram relações sexuais com o motorista do autocarro escolar. Segundo o Diario del Chaco, tudo explodiu quando a namorada do motorista descobriu as fotos que ele tirou no telemóvel e que guardava no computador: e lá estavam as seis professoras, cinco delas casadas. O rapaz pedia-lhes para fazer as fotos, bem entendido (e, observando-as, não podia ser de outro modo, sorridentes que estão). O correspondente do El Mundo em Buenos Aires diz que «varias de ellas, además de acceder a la solicitud, lo hacían de cara al objetivo y sonrientes», e titula a sua peça como «La 'fiesta sexual' de unas maestras en un autobús escolar escandaliza a Argentina». As fotos e imagens de vídeo foram publicadas no blog El Forro, que ao fim da tarde passou a «service temporarily unavailable». O editorialista diz que «tremendo escandalo hay en Corrientes por la joda de 6 maestras con el chofer de una combi; las fotos las mando a todo el mundo la nobia del chofer cuando las encontro en su computadora.»

Ora, contrariando os pareceres da moral impressa e até do sindicato que vai defendê-las, eu acho que estas senhoras são heroínas. Conheço o Chaco, e conheço Corrientes, no norte da Argentina, a meio caminho do Paraguai e da Bolívia. É uma terra poeirenta e cheia de pântanos (de onde, que eu saiba, só o bom e divertido Mempo Giardinelli pôde arrancar um excelente livro, Luna Caliente, aliás publicado em Portugal pela Temas e Debates), cruzada por contrabandistas que atravessam o rio Paraná. Quem conhece apenas a cidade de Resistencia (coração do Chaco que as­sistiu às guerras de generais enlouquecidos, e que permanece abandonada a caminho do Norte, dos alcantilados que levam à Bolívia) e a estrada que vai para Corrientes, capital provincial, sabe que não há futuro. Lamento, mas é assim. De um lado e do outro da estrada, pântanos e esconderijos. Passei lá uns tenebrosos dias do Inverno local, a ler o Diario del Chaco e a edição do dia anterior do Clarín. Fui salvo (a Iberia tinha enviado as minhas malas para Guayaquil, no Equador, e para Montevideo) pela descoberta de uma caixa de Hennessy na garrafeira de um bar diante do hotel, que vendia uns charutos panamianos perfumados de cianeto. Agora, imagino o Verão, cheio de árvores ressequidas ao longo das ruas e de ruídos das motorizadas, as estradas poeirentas de todo o Chaco onde cavalgavam antigamente generais vaidosos e bandidos loucos, a proximidade das fronteiras da Bolívia e do Paraguai – e do Brasil, ao longe, atravessando rios e estradas esburacadas –, rodeados de mosquitos e de iguanas. Acho que elas mostraram que a solidão do Chaco (como ela vem nos livros de Mempo) é uma coisa desumana. Estão a ser perseguidas pela Argentina inteira. Mas são heroínas.

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Putin.

por FJV, em 20.12.07
A Time escolheu Vladimir Putin como figura do ano. “O prémio é-lhe atribuído pelo extraordinário trabalho de liderança e por ter sido capaz de dar estabilidade ao país que estava um caos”, explicou Richard Stengel, editor da Time. Liderança, estabilidade.

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Universidade Federal e Moderníssima do RJ.

por FJV, em 20.12.07
Flávio Izhaki, no Bohemias, conta uma história deliciosa e trágica ao mesmo tempo. Passou-se na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mãos na cabeça. Pobre Aristóteles da Silva.

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Informadores de rotina.

por FJV, em 19.12.07
Na entrevista de Marques Vidal ao Correio da Manhã, há uma passagem interessante para autores de romances policiais. O antigo director da PJ diz que «a Judiciária tinha um leque de informação que abrangia todas as áreas criminais. E muitas vezes de um furto de uma carteira ou de um automóvel pode chegar-se à solução de enorme burla, de um crime de homicídio ou até de uma associação de malfeitores.» Depois, a Judiciária passou para «uma actividade destinada à investigação daquilo a que se chama a criminalidade grave», deixando de lado a pequena criminalidade. Ou seja: perdeu uma rede substancial de informadores. O progresso é inevitável.

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Vídeo, memória.

por FJV, em 19.12.07
Há uns anos, durante o meu primeiro trabalho como jornalista fora de fronteiras (na Alemanha, em Hamburgo, onde decorria o julgamento de Konrad Kujau, o «autor» dos Diários de Adolf Hitler, que a revista Stern comprou como verdadeiros), o que mais me impressionou nesse Outono de Hamburgo foi a existência de uma associação designada como «Cidadãos Vigiam a Polícia» e cujo objectivo era identificar as câmaras de vídeo espalhadas pela cidade, publicando depois essa informação. Um pouco de folclore, claro. A Alemanha tinha vivido vários Outonos violentos e a Fracção do Exército Vermelho (Baader-Meinhof) não era uma ficção que actuava na Ribeira portuense. Um dos principais animadores da associação era um carteiro, que cheguei a conhecer, e que passava férias no Algarve. É verdade que havia um pouco de folclore. Hoje não nos importamos que instalem câmaras em todo o lado. A videovigilância serve vários propósitos, protege-nos de outros, vigia-nos nos elevadores, nas estações de correios, no metro, nas praças, nas lojas de flores. Já não somos nós; ou uma parte de nós é apenas pixels. Daqui a uns meses, reunindo as imagens das câmaras instaladas um pouco por todo o lado, seremos capazes de reconstituir uma parte substancial dos nossos passos, a forma como descemos as escadas do metro, como nos comportámos enquanto esperávamos a nossa vez numa repartição, o cigarro que fumámos numa paragem de táxi, os jornais que comprámos numa banca, se atravessámos determinada rua, se fomos a um bar e com quem. Por outro lado, as companhias de telefones poderão ajudar-nos a lembrar para que números ligámos nos últimos dois anos. Uma loja de electrodomésticos a quem fornecemos um número de «telefone de contacto» sabe que aparelhos comprámos nos últimos cinco anos e em que dia exacto. Ao verificar as gravações de um shopping, podemos recordar que lojas visitámos. A Brisa pode saber a que horas passámos numa portagem de auto-estrada, se usámos Multibanco -- e pode saber se ultrapassámos os limites de velocidade. Um hotel tem acesso a vários dados pessoais (incluindo cartão de crédito), se decidir utilizar a chave electrónica que usámos para abrir a porta do quarto. A Amazon sabe que livros comprámos nos últimos anos e faz o favor de no-lo lembrar. É fácil reconstituir a nossa vida. Espalhamos memória por todo o lado. Nem precisamos de hackers. Passamos ao lado de todos os perigos.

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Revista da imprensa. Questões de justiça e a carne descoberta.

por FJV, em 18.12.07
«O rei Abdullah perdoou uma jovem que tinha sido condenada a seis meses de prisão e 200 chicotadas depois de ter sido vítima de uma violação colectiva, noticiou ontem o diário Al-Jazirah», lê-se no Público.
Eles têm razão. Recordo as sábias palavras do eminente xeique Taj el-Din al-Hilali, por exemplo. Ele tinha dito com inegável sabedoria: «Se você pegar um pedaço de carne descoberta e deixar na rua, no jardim, ou no parque, e os gatos vierem e comerem… de quem é a culpa, dos gatos ou da carne descoberta? O problema é a carne descoberta. Se a mulher estivesse na sua sala, na sua casa, no seu hijab, não teria acontecido nada.» Mesmo assim, tendo sido violada, esta jovem foi perdoada; é infinita a generosidade dos homens.

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