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A Origem das Espécies


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Abrir os braços.

por FJV, em 22.08.08

Jacques Rogge, presidente do Comité Olímpico Internacional, acha que Usain Bolt «deve mostrar respeito pelo esforço dos seus rivais, de acordo com os ideias do espírito olímpico». Haveria muito a dizer sobre o «espírito olímpico» e os jeitos que Rogge fez à China metendo o «espírito olímpico» por baixo do tapete. O jamaicano exorbitou, fez caretas para os segundo e terceiro, que foram desclassificados? Baixou a cabeça, amuado, e escondeu-se do público? Não. O que a notícia transcreve é o gesto de Usain Bolt: «Abriu os braços em direcção ao público, gesto considerado como sendo de gozo para com os adversários». Ora, esse é um gesto de grande respeito pelo público e pela modalidade. O que ele devia fazer era dirigir um manguito a Rogge e não admitir que ele citasse as proezas de Jesse Owens em Berlim precisamente na China. Mas enfim. Ele é só um jamaicano que não sabe preencher os boletins, não é?

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Se calhar. Quem sabe?

por FJV, em 21.08.08

O alemão Tobias Unger acha que o jamaicano Usain Bolt está carregadinho de doping: «Na sua ilha fazem o que querem e não lhes acontece nada...»

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Imaginemos.

por FJV, em 14.06.08

O assunto tem pouca importância mas gosto dele. Até aqui, sobretudo em Portugal e no Brasil (com poucas excepções, que resultaram em agressão), Scolari só respondia ao que queria e, mesmo assim, de vez em quando (apesar dos favores) acusava a «imprensa desportiva» de o perseguir. Tinha a seu favor o tremendismo gaúcho e o feitio de sargento, que caem muito nas graças nacionais. Mas agora não tem ao serviço os jornalistas de The Ball, The Record ou The Game. Agora, os jornais que o vão perseguir são mais difíceis de satisfazer mesmo que ele se atire aos colarinhos dos jornalistas (coisa que só aconteceria uma vez). Por um lado, querem respostas sobre the game. Por outro, não vai ter descanso. A menos que lhe apreciem tanto o feitio que se calem. Duvido.

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Roteiro de Barcelona.

por FJV, em 13.06.08

Afinal, Deco esteve em Barcelona? Parece que não. Saiu da concentração da selecção nacional com autorização de Scolari e partiu para se juntar a Ronaldinho. É a imprensa inglesa contra a portuguesa.

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Metas & objectivos.

por FJV, em 12.05.08

O senhor director da ASAE diz que o documento com metas para apreensões, detenções, encerramentos e outras operações, não era para ser divulgado – e que pertence apenas aos inspectores da sua organização. Estaline também tinha uma lista com quotas de fuzilamentos, prisões e assassinatos sumários – mas não a divulgava à imprensa. Em Moscovo era preciso matar 30 000, mais 20 000 em Kiev e por aí fora. Mao, na China, determinou que 5% da população era contra-revolucionária e mandou que se fuzilassem (depois aumentou o número, claro). O essencial era cumprir as quotas. Os inspectores da ASAE também serão visitados por eventuais mandaretes que irão averiguar o grau de cumprimento dos fuzilamentos, perdão, das detenções e encerramentos que figuram nos objectivos. E assim vamos.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Altíssima conspiração.

por FJV, em 24.04.08
Isto, sim, começa a ser interessante. Eduardo Dâmaso publicou um livro (A Invasão Spinolista) em que toca o assunto; eu recomendo a sua leitura.

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Como se pode conspirar com uma certa margem.

por FJV, em 22.04.08
A China mandou um navio para Luanda mas ordenou-lhe que, de caminho, parasse em Maputo ou em Durban para descarregar armamento ligeiro e ofensivo destinado ao Zimbabwe ainda de Mugabe, o nazi de Harare. Moçambique e a África do Sul recusaram-se a deixar entrar o barco, que há-de ficar em Angola, onde há eleições em breve.
[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Jurisdiquês.

por FJV, em 25.02.08

As novelas da Justiça portuguesa deviam indignar-nos. A palavra está gasta e não significa nada – mas poderíamos ser mais claros: devíamos zangar-nos. Já estávamos preocupados, mas agora devíamos zangar-nos mesmo. Ontem, no CM, João Vaz chamava a atenção para o descrédito que banaliza qualquer decisão dos tribunais sobre questões políticas e partidárias. Tem toda a razão. A mesma coisa acontece nos processos relativos ao Apito Dourado, sob os quais pende a desconfiança de estarem sustentados em profissões de fé, ou pura ignorância, dos investigadores ou dos magistrados. A guerra entre a Procuradoria e o governo é outro dos enredos que pode vir a terminar mal. Para já, desconfiamos das investigações, desconfiamos dos juízes e desconfiamos dos processos. Acabaremos, mais tarde ou mais cedo, a desconfiar da lei – o que seria uma tragédia, num país que tanto gosta de legislar sobre tudo e que se transformou numa cacofonia onde toda a gente fala ‘jurisdiquês’.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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Exactamente.

por FJV, em 24.02.08
Post de Bruno Sena Martins sobre o espremedor de citrinos, O  Monte dos Vendavais e Orgulho e Preconceito, a falta de educação sentimental do Ministério Público e o ridículo que vem aí; o post leva o título de «Pinto da Costa e John Le Carré».

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Teoria da conspiração, 2.

por FJV, em 10.02.08
Sobre este assunto, ler o post de Manuel Jorge Marmelo: «Carolina Salgado confessou, num livro, ter cometido um crime: foi a mandante da agressão sofrida pelo ex-vereador da Câmara de Gondomar Ricardo Bexiga. Apesar desta confisssão expressa, o processo foi misteriosamente arquivado. Alguém pode, depois disto, julgar que entende o funcionamento da Justiça? O que acontecerá aos outros inquéritos abertos a partir do livro e nos quais nem sequer há confissões?»
Exactamente. Por isso, deve ser muito bem explicada a razão por que o processo do vereador Bexiga foi arquivado.

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Teoria da conspiração.

por FJV, em 09.02.08
Penso que as instâncias judiciais devem explicar muito bem a razão por que o processo do vereador Bexiga foi arquivado. A menos que pretenda validar as teorias da conspiração que lembram que ao colocar no banco dos réus uma das testemunhas cruciais num outro processo, estariam a desvalorizar essa acusação. Ou seja, há quem afirme que diante de duas investigações se desistiu de uma, a menos importante. Isto tem importância e deve ser explicado.

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Informação & conspiração, 1.

por FJV, em 03.02.08
Não partilho a ideia da superioridade moral do jornalismo, e considero que José António Cerejo é um bom jornalista que criou justificados anti-corpos no PS. Entrevistei J. A. Cerejo no longínquo «Falatório» (RTP-2, 1997; às sextas à noite era dedicado aos média), no dia a seguir à demissão de António Vitorino provocada pelo seu artigo no Público. Era uma emissão com os média da semana, que antecedeu o «Primeira Página», que era diário. Lembro-me do corredor que dava para o estúdio; eu tinha escrito no meu bloco as primeiras perguntas a José António Cerejo, o jornalista que tinha levado o vice-primeiro-ministro e ministro da defesa à demissão. Foi já no estúdio que decidi alterar o guião; em vez de começar pelas perguntas da ordem (como se sente por ter provocado esta demissão?, quando começou a sua investigação em Almodovar?, etc.), disse «boa noite, J.A. Cerejo, tem os seus impostos em dia?» Lembro-me da resposta de Cerejo, resumida: «Mas eu não sou um político.» Era um facto. Mas era bom saber-se se um jornalista que investiga um suposto deslize fiscal de um político deve estar, ou não, sujeito ao mesmo escrutínio. Pessoalmente, penso que os jornalistas devem fazer as suas declarações de interesses e devemos conhecê-las para não desconfiarmos (enquanto cidadãos) do que escrevem. Talvez se acabasse com a ideia dos inconfessáveis interesses dos jornalistas, ou de um jornalista de cada vez. É exactamente a falta dessa declaração de interesses que tem mantido a ideia de que o jornalismo deve ser bacteriologicamente puro.
Acontece que a atitude de António Vitorino foi a de demitir-se, mesmo garantindo que estava inocente e que não tinha cometido qualquer ilícito fiscal. Claro, houve zunzuns sobre o apetite de Vitorino sobre o governo: que não lhe apetecia estar lá e que aproveitou a oportunidade. Não acredito, apesar de tudo.
A ideia de que o Público imprimiu estes artigos sobre José Sócrates movido pelo interesse da Sonae em derrubar o primeiro-ministro parece-me zunzum igual. Devemos desconfiar, sim; devemos sempre desconfiar. Mas convinha esclarecer o assunto, ou não? Devia o Público abster-se de publicar as notícias apenas porque o patrão é um grupo económico distribuído por telecomunicações, madeiras & hipermercados?
Vamos e venhamos: 1) primeira parte: do ponto de vista do rigor da informação, a primeira peça de Cerejo sobre as assinaturas de favor é inatacável; são factos; 2) segunda parte: tem interesse público o conhecimento desses factos? Essa é outra matéria. Não é crime, já se sabe, fazer aquilo que Sócrates fez, se o fez; mas não é nada ético. Sinceramente, e sem querer fazer piada, é um beco sem saída: se o fez, é mau; se elaborou os estudos e os projectos daquelas casas, é ainda pior. No primeiro caso, é mau politicamente. No segundo caso, é mau em geral. Interessa, à opinião pública, conhecer estes aspectos da vida anterior de José Sócrates? Não estamos a falar da sua vida pessoal;  não estamos a entrar na esfera da privacidade; são factos públicos. Provando-se que são factos, têm eles interesse político? Servem para avaliar o comportamento político de José Sócrates ou, até, do primeiro-ministro? Estas são as questões essenciais. As outras relevam do puro comentário e, aí sim, da teoria da conspiração e do combate político.
Fazer juízos de ordem moral é fácil, mas não é apenas isso que está em causa (ah, porque sim, porque estamos todos a fazer juízos de ordem moral, agora ou noutras circunstâncias), independentemente dos supostos «inconfessáveis interesses» do Público. Uma coisa é desconfiar das afirmações dos políticos; outra é desconfiar de todas as perguntas aos políticos.
Há uns anos, num dos seus textos, Agustina Bessa-Luís falava do novo exemplar de homem político; que seria o homem comum. Infelizmente, referia-se a Santana Lopes. Viu-se.

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por FJV, em 30.10.07
||| Escutas.
Afinal, segundo o Procurador-Geral da República, todos estamos sob escuta. Todos podemos ser alvo dos «aparelhos para escutas ilegais à venda no mercado»; não nos bastavam os aparelhos legais para escutas aparentemente legais ou ligeiramente abusivas, como ainda há aparelhos para escutas ilegais. Isso é uma grande novidade, sim senhor. O que as autoridades propõem, portanto, é que se impeça a venda dos «aparelhos para escutas ilegais» em Portugal; a partir daqui, os aparelhos ilegais passarão a vender-se apenas pela internet ou a quem vá a Espanha, ao Brasil ou aos EUA. Que coisa pechisbeque.

Já agora, para quem quiser, os aparelhos a que se referem as autoridades estão à venda por preços inferiores na ABC Electronica, na Digital Centre, nas lojas da Cnel. Toledo e do Hijazi Centre, em Ciudad del Este
, fronteira do Paraguai. Há uma pequena amostra da área no filme Miami Vice, mas quem está no Brasil pode dar um saltinho até lá; eles adaptam ao sistema europeu-português e tudo.
[FJV]

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por FJV, em 28.10.07
||| Não esquecer. A estação das chuvas.
A pedido de amigos, e para não esquecermos, chamo de novo a atenção para estes extractos do livro Purga em Angola, de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (edição Asa). Ver também artigo no JN desta segunda-feira.







«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»

[FJV]

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por FJV, em 26.10.07
||| BCP, BPI.
O assunto é financeiro, político e «estratégico», como ouço. Os analistas dividem-se, Jardim Gonçalves apoia, a imprensa online agita-se permanentemente. Siga o folhetim. Deste lado, porém, vejo ainda o que resta de uma tragédia que, a espaços, viveu como comédia. O «folhetim BCP» é outro dos casos em que, à vontade, podemos dizer «é bem feito». Rostos envelhecidos e derrotados, mas sobretudo envilecidos. É muito pior. Merecem.
[FJV]

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por FJV, em 24.10.07
||| Justiça.
«Devem os juízes ser eleitos?» É este o tema da conferência de Carlos Abreu Amorim, na Universidade Lusófona, na próxima sexta-feira, às 11h00.
[FJV]

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por FJV, em 17.10.07
||| 27 de Maio de 1977. Estação das Chuvas. Correcção.
Mão amiga corrige um dos dados do livro Purga em Angola: o filho de Sita Valles foi entregue à família, criado por Francisca Van Dunem. Doutorou-se em economia em Inglaterra, trabalhou para o Banco Mundial em Maputo e está a fazer um pós-doutoramento na Dinamarca.
[FJV]

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por FJV, em 17.10.07
||| 27 de Maio de 1977. Estação das Chuvas.













«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»





«Na margem sul do Tejo, faleceu recentemente um angolano, antigo membro do MPLA, a quem por alturas do 27 de Maio foi atribuída a tarefa de coveiro. Há quem se lembre de o ouvir contar que fora obrigado a sepultar pessoas vivas. Milhares de famílias de angolanos nunca puderam enterrar os seus mortos.»

«[...] Eram presos e enviados, sem qualquer processo, para campos de concentração. Muitos dos que morreram nem sequer sabiam quem era Nito Alves. E eram muitos os que tinham menos de 18 anos. Entre os detidos encontravam-se, até, soldados que não estavam em Angola no dia 27 de Maio.»

«Houve pessoas que foram presas e até mortas, porque eram amigos ou parentes afastados. Pior, quando eram parentes próximos.»

«De modo que os soldados entravam nas casas perguntando onde estavam os intelectuais ou os estudantes. E acabaram por matar muitos.»

«A chamada Comissão das Lágrimas foi criada pelo Bureau Políticos do MPLA com o objectivo de seleccionar os depoimentos dos presos do 27 de Maio. No entanto, como veremos, alguns dos seus membros interrogaram ou provocaram os detidos. Dela fizeram parte: Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé), Ambrósio Lukoki, Costa Andrade (Ndunduma), Paulo Teixeira Jorge, Manuel Rui, Diógenes Boavida, Artur Carlos Pestana (Pepetela), José Mateus da Graça (Luandino Vieira), Mendes de Carvalho, Henrique Abranches, Eugenio Ferreira, Rui Mingas, Beto van Dunem, Cardoso de Matos, Paulo Pena e outros não identificados.»

«O inquiridor principal foi Artur Carlos Pestana (Pepetela). Num registo particularmente agressivo, queria saber quais eram as suas actividades, se e quando tivera reuniões, quem contactava, como funcionavam as ligações entre os sectores da educação, da saúde e da função pública. [...] Foi também interrogado por Manuel Rui. [...] Maria da Luz Veloso, na altura com 47 anos, também se lembra de ter comparecido nesta Comissão, onde foi interrogada por Pepetela e por Manuel Rui. [...] Como não fazia o que pretendiam, Manuel Rui não hesita em dizer: “A minha vontade era dar-lhe um par de bofetadas. Você não colabora. Vejo-me obrigado a entregá-la aos militares.” Os detidos passavam para os militares. E para as torturas.»

«Presos atirados pelas escadas e, no pátio, brutalmente espancados. Berravam e pediam clemência. Quase desfalecidos eram atirados para dentro de viaturas. Um mercenário norte-americano comentava: “Já vi muita coisa na minha vida. Mas nunca tinha visto tal coisa.”»






«João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, morreu com o garrote do nguelelo. Também consta que o tinham cegado. Foi interrogado por Pedro Tonha (Pedalé), o qual, possivelmente como prémio, subirá do 10º para 4º lugar na hierarquia do MPLA. No entanto, nem coragem tinha para lhe fazer as perguntas. Os algozes deixavam na sala um gravador, para depois reproduzirem o que dizia. E iam apertando o garrote. [...] Ao que parece, atiraram o corpo de um avião.»







«A indicação para o seu fuzilamento [Nito Alves] terá sido do presidente da República, embora na Fortaleza, onde estava, a ordem tenha sido dada por Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé) e Carlos Jorge. Nito não quis que lhe tapassem os olhos, pois queria ver os que o iam matar. O corpo foi varado por umas três dezenas de balas. E um dos chefes ainda lhe foi dar o tiro de misericórdia. O seu corpo foi atirado ao mar, com um peso.»

«Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteia-no [a Costa Martins], batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Uma das vezes puseram-no numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Ainda cheirava a carne queimada.»








«Em meados de Junho [Sita Valles] é presa com o marido [José Van Dunem]. Entra no Ministério da Defesa de mão dada com José. [...] Terá ido para a Fortaleza de S. Miguel. Terá sido torturada e violada por elementos da DISA. [...] Várias fontes, entre as quais um responsável da DISA, declaram que se encontrava novamente grávida. Terão esperado que tivesse a criança para depois a fuzilar. O bebé nunca foi entregue à família. [...] Uma presa ouviu contar que, antes de a matarem, lhe deram um tiro em cada braço e em cada perna.» [Correcção aos autores, por mão amiga deste blog: o filho de Sita Valles foi entregue à família e foi criado por Francisca Van Dunem. Doutorou-se em economia em Inglaterra, trabalhou para o Banco Mundial em Maputo e está a fazer um pós-doutoramento na Dinamarca.]

«Os cálculos sobre o número de mortos variam. Um responsável da DISA, ouvido por nós, fala em 15 000. A Amnistia Internacional fez um levantamento e avançou com 20 000 a 40 000. Adolfo Maria, militante da Revolta Activa, e José Neves, um juiz militar, falam de 30 000 mortos. O jornal Folha 8 falou de 60 000. E a chamada Fundação 27 de Maio foi até aos 80 000. [...] Quedemo-nos pelos 30 000 mortos. Dez vezes mais mortos do que no Chile de Pinochet. Na própria família política. Sem qualquer julgamento. E em muitos casos sem qualquer relação com os acontecimentos.»

«Em Malanje foram fuziladas mais de mil pessoas. No Moxico, Huambo, Lobito, Benguela, Uíje e Ndatalando aconteceu o mesmo. No Bié mataram cerca de 300 pessoas. Em Luanda, os fuzilamentos prosseguiram durante meses e meses.»

«As cadeias eram sucessivamente cheias e sucessivamente esvaziadas, desaparecendo as pessoas. [...] Um grupo de militares foi morto na periferia de Luanda, junto a uma praia. Foram abatidos um a um, com tiros na cabeça. Os vivos que assistiam à cena pediam clemência. Os verdugos divertiam-se. E continuavam a matar, com um tiro na cabeça.»

«As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.»

«Estudantes que estavam na União Soviética, na Bulgária, na Checoslováquia e noutros países do Leste, foram mandados regressar. No aeroporto de Luanda foram presos. E muitos foram decapitados, sem saberem a razão. [...] Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»





«Onde param os fuzilados? Uns foram depositados em valas comuns. Outros lançados de avião ou de helicóptero para o mar ou para a mata. [...] Um ano depois do 27 de Maio, ainda se matava. Ademar Valles [irmão de Sita Valles] foi morto em Março de 1978.»

«O juiz José Neves conclui: “Foi um verdadeiro genocídio. Em Angola devem ter morrido umas 30 000 pessoas.”»

«A questão dos presos portugueses em Angola era tratada com a máxima moderação, ao contrário do que acontecia com na imprensa ocidental com casos de idêntica natureza. [...] A solidariedade com os presos políticos angolanos era, também, um tema de excepção na imprensa portuguesa, evitando-se qualquer crítica ao regime do MPLA. Apenas a poetisa Natália Correia, no Jornal Novo, se referira a um regime de sistemática repressão policial, falando mesmo no Gulag angolano.»

«Muitos dos “libertadores” sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra. Só que a guerra, que tantos matou e estropiou, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas.»

Dalila Cabrita Manteus e Álvaro Mateus, Purga em Angola. Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunem e o 27 de Maio de 1977. Edições Asa.

Alguns links úteis:

Sobreviventes dos acontecimentos de 27 de Maio de 77 ainda procuram explicações. || O silêncio que grita. ||O dia mais negro. || Recordações de um desastre, por Ferreira Fernandes. || Associação 27 de Maio. || Carta de Carlos Pacheco a Pepetela.


[FJV]

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por FJV, em 14.10.07
||| Vidas.
Segundo parece, a matéria publicada no The Sun de ontem sobre um conhecido personagem português não pode publicar-se em Portugal. O assunto é desinteressante e apenas ligeiramente cómico. Como não se podem publicar notícias sobre a matéria, fui à tabacaria comprar o The Sun; estava esgotado. É o bloqueio.
[FJV]

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por FJV, em 18.08.07
||| Dossiers anónimos.








Como se sabe, um dossier «anónimo» é um dossier a que falta assinatura ou a que apagaram a assinatura. Por exemplo: alguém pode elaborar um dossier «anónimo» e, para lhe dar credibilidade (imagine-se!), é necessário retirar-lhe a assinatura; se a tivesse, ninguém ligaria. Mas as autoridades fizeram-lhe a vontade.
Agora, apareceu um novo dossier «anónimo». As autoridades, postas diante da evidência, têm de apreciá-lo, porque não é possível desprezar um dossier «anónimo» e apaparicar o outro. Há, como se sabe, uma ética do tratamento do dossiers «anónimos»; faz parte da originalidade portuguesa. Procuradores, polícias, investigadores anónimos, em vez de chamarem o pessoal do CSI de Las Vegas, para encontrarem impressões digitais, manchas de uísque, pingos de sardinha, sentam-se tranquilamente nos seus gabinetes (vá lá, é uma imagem literária), ajeitam os óculos, empilham uma série de blocos para apontamentos ao lado de uma dúzia de lápis afiados, e iniciam a leitura. Não contribuem em nada para a sua ilustração. Mas fazem a vontade aos autores dos dossiers «anónimos». É uma alegria. Vou pensar em escrever um dossier anónimo. Está na moda. Convido-vos à escrita.
[FJV]

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