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Damien e Charlotte Hall foram impedidos pela câmara de Leeds de adoptar uma criança porque Damien é obeso: «The council’s adoption service has a legal responsibility to ensure that children are placed with adopters who are able to provide the best possible lifelong care.
“Part of this responsibility is advice for applicants on a range of suitability criteria, including any health and lifestyle issues which may impact on an applicant’s long term ability to adopt»
Não sei quem meteu na cabeça das novas gerações a ideia de que somos um país de clima moderado. Não somos. Portugal é destemperado. Só isso explica a parvoíce e a histeria dos jovens jornalistas que se exaltam com temperaturas negativas como se fosse o fim do mundo e que tratam o fecho de uma estrada no Minho ou «para lá do Marão», por causa da neve, como uma catástrofe a pedir Protecção Civil, «alerta laranja» e primeira página. Muita telenovela carioca, só isso explica a tentação de colocar Portugal nas Caraíbas, ou muito optimismo por causa do aquecimento global. Só assim se compreende esta coisa, citada por «A Protecção Civil recomenda que, em caso de frio, se vista várias peças de roupa em vez de só uma.»
Quando eu era miúdo (bom, eu vivia no meio do frio) vestíamos de Inverno, de meia-estação (bem vistas as coisas, a estação «mais elegante») e de Verão. No Inverno, se havia frio, vestíamo-nos para o frio. Hoje, na verdade, algumas pessoas queixam-se do frio mas estão vestidinhas para um Outono morigerado, com brisas tépidas durante a tarde e sopro de Norte depois do crepúsculo. Portanto, sim, entendo que é necessário que a Protecção Civil avise a pátria, no ecrã da televisão: «Está frio, cidadãos. Tempo de roupinha interior, flanelas, lã à antiga, luvas e cachecol. Se chover, usem botas ou guarda-chuva além da gabardina. Em caso de neve, cuidado com o calçado. Não tomar banho de mar nestas condições. Segue-se um espaço de pedagogia cidadã em que o nosso especialista em meteorologia vai explicar como se usam ceroulas. Continuamos em alerta amarelo.»
Esta ideia supimpa de que é agora mais fácil vender o Património parece-me exagerada. Infelizmente, as autoridades ainda não exploraram convenientemente a vantagem de transformar os Jerónimos em centro de lazer, com esplanadas, lojas de artesanato e cybercafés, além de entregarem o andar superior dos claustros a uma empresa de hotelaria. Falta de visão. A vetusta e vazia sala de refeitório podia ser alugada aos fins-de-semana para banquetes de empresas. O mesmo se pode dizer da Batalha, que podia ser, com vantagem, transformada em hotel de charme com um call-center acoplado, gerando emprego e fundos. A lei não contempla outros casos, a meu ver com prejuízo das contas públicas, como a Torre de Belém que podia ser destinada a um complexo multi-restaurantes. Que queiram conservar o Património, está bem, mas porquê ir mais além da fachada? Veja-se Roma. O Coliseu está transformado num shopping e a Coluna de Trajano alugada a uma empresa de telecomunicações. O nosso património é menos chinfrim do que o deles?
B., ao telefone, contou-me que a psicóloga tinha «explicado» ao seu filho, na escola, que a sua recusa em ler se devia ao facto de tanto a mãe como o pai trabalharem «no mundo dos livros». Tratava-se de «uma revolta», não tão violenta como a dos gregos, mas enfim, uma revolta contra a família, o totem & o tabu. Sugeri que mãe e pai deviam ir fumar charros para o quarto do filho, encher-lhe os ouvidos com death-metal e acid, queimar os clássicos gregos na varanda em cerimónias rituais ou projectarem filmes da Bücherverbrennung nazi, e por aí adiante.
«Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.»
José Gomes Ferreira, extracto do poema «Viver sempre também cansa»
[Contribuição do meu amigo J.S., com sublinhados meus]
Ah, país de moralistas e de vigilantes! Claro que fez jeito «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Na verdade, de outra maneira não poderíamos ouvir de novo Alberto Martins com aquela voz de surda indignação e inequívoca superioridade moral (a mesma que o levou a manter-se surdo e mudo a propósito do caso DREN/Charrua, por exemplo – para provar que democracia é só palavreado), a criticar a falta de cultura cívica? Às 15h40 de ontem, o relato do Jornal de Negócios dizia que toda a sala se tinha rido e que se tratava de ironia. Mas – ah! – não se pode ironizar sobre coisas sérias. As coisas sérias devem deixar-se para as pessoas demasiado sérias.
Sim, dá-lhes jeito, como vigilantes de colégio interno, «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Mas não passa disso mesmo: gente com queda para o pequeno escândalo, levantando a virtuosa batina com a pontinha dos dedos, enquanto dão saltinhos junto dos charcos: «Já te molhaste! Já te molhaste!»
P.S.- Claro que há outra imagem para esta onda de escandalizados, e que vai do toque florentino à divisão Panzer: vamos aproveitar o deslize enquanto não nos apanham nos nossos.
Não sou economista e não ponho em causa as relações económicas entre Portugal e o país dessa figura exótica que é Hugo Chávez (a classificação é do nosso Ministro dos Estrangeiros). Mas, como cidadão, gostava de saber quando começa a chegar a mandioca, e estranho — sobre essa matéria — o silêncio da blogosfera lusitana. De resto, já estamos preparados.
Graças à Agência Lusa, fiquei a saber que Vila Nova de Foz Côa vai este ano aderir ao Dia Europeu sem Carros, no sentido de “uma política mais sustentável de transportes”. O leitor não sabe, mas a notícia comove-me – nasci lá e sofri, como todos os seus naturais, para ter uma rede de transportes, sustentável ou não. Ainda há menos de 30 anos, familiares meus deslocavam-se dezenas de quilómetros a pé para tratarem das suas vidas e não havia “transportes sustentáveis”. A minha aldeia (o Pocinho) tinha comboio, que era “sustentável”; agora, o comboio vai desaparecer. Muita gente naquelas paragens, antes de se falar de “mobilidade sustentável”, sabia muito do assunto – simplesmente, há vinte anos, não tinha transporte. Eis como Portugal se transforma – pelo topo. Pelas palavras.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O ministro Rui Pereira é uma figura simpática mas, ao que parece, ligeiramente desastrada. Falando sobre o caso do homem baleado anteontem, na esquadra de Portimão, o ministro comparou-o com o da execução de Lee Harvey Oswald (o assassino de J.F.K.) nas barbas do FBI e da polícia, numa esquadra de Dallas. O ministro merece que alguém o esclareça sobre o episódio – ou lhe explique que não são coisas comparáveis. Evidentemente que ninguém previa os tiros de Portimão, e ninguém culpa a polícia. Mas a evocação de J.F.K. e dos tiros que Jack Ruby disparou sobre Oswald pode transformar a tragédia, perigosa, num folhetim do anedotário nacional. Ou o ministro anda a ver filmes de mais ou, então, é um caso de stress pós-traumático, resultado da onda de crimes de Agosto. É do calor.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Em Portugal estamos habituados ao desvelo com que se usam acusações de «censura» ou de «fascismo». Mas a Igreja de Inglaterra está no negócio das analogias com grande destaque: os que não se preocupam com o aquecimento global são comparáveis ao monstro austríaco Josef Fritzl. Toma.
Não sei se já repararam mas, embora pareça impossível, a selecção já chegou à Suíça. Impressionante a forma como a imprensa e a televisão ignoraram o acontecimento e nem sobre a chegada a Lausanne fizeram uma simples reportagem. Estamos aqui, no nosso rectângulo, encerrados e sem notícias do que se passa em Neuchâtel. Não sabemos o que se passa com Cristiano Ronaldo nem o estado físico e anímico dos nossos rapazes, os bravos Viriatos. Há quanto tempo não escutamos uma palavra de Scolari? O que come a selecção ao pequeno-almoço? Que sapatos calçam fora dos relvados? Como será o 'onze' ou, vá lá, o 'dez' principal? A imprensa, ocupada com inutilidades, mantém-nos na ignorância sobre factos essenciais e determinantes da nossa vida contemporânea. A imprensa dorme. Até quando?
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Temo bastante que, ao falar-se de droga & toxicodependência, o pessoal abuse dos químicos. O IDT achou que, uma das formas de afastar das drogas os adolescentes, era explicar-lhes, no seu ‘site’, que ‘careta’ é aquele que não toma drogas, um ‘conservador’ empedernido, um menino da mamã, um betinho. Para isso, arranjou explicações plausíveis por parte de psicólogos e sociólogos que são muito bons em ‘experiências pedagógicas’ mas cujos resultados são maus. Na verdade, o calão da droga não é um instrumento pedagógico e um betinho não é, necessariamente, uma má pessoa. Pessoalmente, prefiro que um filho meu seja ‘careta’ em vez de ‘curtir com o pessoal ‘catita’ que consome ‘pólen’. Mas tendo em conta que o Ministério da Educação colaborou nisto, tudo é possível. São os químicos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Adenda: entretanto, o Dicionário foi retirado do site do IDT.
Parece que a Direcção-Geral de Impostos (DGCI) está a enviar cartas a contribuintes recém-casados pedindo-lhes que prestem informações de natureza fiscal sobre o copo d’água, o número de convidados, a quantidade de crianças presentes, quanto custou e quem pagou o vestido de noiva ou as flores, entre outras matérias. Um dia, para alimentar o Estado, há-de querer taxar os presentes oferecidos aos noivos. A terminar as circulares enviadas aos contribuintes em idade casadoira, depois de fazer pedagogia, as repartições ameaçavam com penalidades e multas caso não obtivessem respostas. Porém, isto aconteceu durante a manhã. À tarde, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, reconheceu que os pedidos de informação eram “excessivos” e ia haver uma “correcção”. Alguém lembrou que não podia ser assim. Que há ou deve haver um mínimo de decência e de inteligência. Ou seja: os cidadãos devem estar alerta para o facto de o Estado nem sempre ter os neurónios no lugar certo.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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