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A skyline de Frankfurt e a Römer, o velho centro da velha Frankfurt am Main. De Goethe à Feira do Livro que começa amanhã – e um velho poema já publicado:
O CREPÚSCULO
Carvalhos amadurecidos deixam cair as suas folhas
numa praça de Frankfurt. Por pouco seriam
contemporâneas de Goethe, essas folhas castanhas,
quase secas, sem perfume. As ruas escurecem,
a cidade morre como as outras cidades, entre
cartazes de circo e o odor do frio, as ruas molhadas
como as ruas de outras cidades, o céu negro
como a noite de outros lugares. Carvalhos. Bétulas,
rosas, faias, castanheiros ao longo do Meno,
recordações de passeios e de inclinações – tudo desaparece
com o Outono e a literatura, sem excepção.
Dizem-me que, depois de a marca de automóveis retirar da Praça das Flores, o jardim ficará melhor, haverá obras e requalificação, tudo pago pela Skoda (porque a CML não tem dinheiro). É isto um preço bem pago pelo uso do espaço público? Tema para debate.
Há um debate sobre a responsabilidade directa de José Sá Fernandes ou de Marcos Perestrelo na cedência da Praça das Flores à Skoda. Ora, a responsabilidade é da CML. E é das autarquias, em geral, que julgam deter o título de propriedade das cidades que administram. Este problema gerado pela Praça das Flores adquiriu mais notoriedade porque vive lá mais gente que pode protestar e que tem opinião publicável, o que não impede de ser classificado como escandaloso. Os moradores das cidades são maltratados, e é estranho que os malfeitores sejam, em geral, as autarquias. Mas são.
Retirar 15 dias de vida de jardim à Praça das Flores em nome de um contrato que até pode ser lucrativo para a CML não me parece um bom princípio. Os moradores do Bairro Alto maltratados pelo lixo, seringas no chão e toda a merda deixada pelos frequentadores barulhentos que não deixam dormir ninguém, também me parece um escândalo. Os das Janelas Verdes são continuamente massacrados pela fauna adolescente que vomita nos passeios, à porta de suas casas, com protecção da polícia e da Direcção Geral de Saúde, que não toma posição sobre a venda livre de shots a crianças de 12 anos. E os moradores de zonas permanentemente em obras, com jardins espatifados, valas abertas, árvores destruídas, muros derrubados, máquinas a arrasarem tudo (por dois, três ou quatro anos), também me parece que mereçam a nossa atenção. Quando se organiza um «evento», mesmo que seja «a merda de um evento» com o apoio das autarquias, os direitos dos munícipes são sempre esquecidos. Há sempre uma corrida de amadores que espalham centenas de garrafas de água mineral pelo chão. O trânsito alterado por causa de uma agremiação que vai fazer gincanas na rua, é abusivo. Os moradores de Chelas sofrem o Rock in Rio durante um mês. Os foguetórios privados que arruinam a paciência e o sono dos moradores também me incomodam. E os festivais de rua em que os decibeis sobem dentro de casa (mas os organizadores e frequentadores moram noutro lado). O espaço público é uma treta.
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