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Tal como o Pedro Correia, também eu acho que esta é uma passagem sublime, e sugiro que tomem nota: «O que a sensatez exige é que o Estado e a lei não se metam no que não é do Estado e da lei.» Palavras de Francisco Louçã.
Bagão Félix tem razão; ele queixava-se das leis laborais agora propostas pelo governo, que seguem a par e passo aquilo que o próprio Bagão Félix definiu quando estava no governo de direita. No mínimo, trata-se de um plágio; no máximo, estamos diante de uma traição. Na época, o PS (com o actual ministro à frente) fez ruído e, com o PCP e o BE, prometeu a revolução social, protestos na ruas e imolações nos sindicatos, com toda a esquerda à volta. Hoje, no governo, o PS não só não apagou a herança de Bagão, como até ‘dramatizou’ certos artigos da lei dos despedimentos. Ninguém de bom-senso vem para a rua queixar-se de o PS ‘não ser socialista’. A tentação socialista do PS, actualmente, é apenas 'fracturante & moderna', reduz-se ao aborto, à lei do divórcio, à ideia de que o povo é bom, e a pouco mais. António Costa dizia há uma semana que defender ideias de esquerda é bom quando se está na rua, mas muito aborrecido quando se chega ao poder. De facto, é a vida.
[Da coluna do Correio da Manhã.]Em matéria de futebol espanhol, sou do Real. Mas causa impressão esta desfiguração do escudo do Barça, justificada com problemas de marketing no mundo islâmico. Pessoalmente, ainda, acho que o dia de Sant Jordi (cuja cruz está mo escudo do Barcelona) é uma comemoração feliz: dia dos namorados, dia das rosas e dia dos livros. É um problema do Barça mas, a breve prazo, será um problema de todos nós, mesmo dos que (como eu) não apreciam cruzes. Enfim, como dizia um célebre ministro português, temos de ser compreensivos quando nos atacam, não podemos ofender mesmo sem saber, e não podemos favorecer a licenciosidade.
[Via O Insurgente.]
O João Távora chamou a atenção para o apelo matinal de um ecologista, pedindo ao povo para consumir menos bacalhau este ano – porque se trata de uma espécie em vias de extinção. Compreendo o apelo; os finlandeses também já comem menos rena e eu só fumo habanos algumas vezes por ano. Eles, porque sim; eu, porque não.
Eu também me associo ao apelo do ecologista: comam menos faisão, não bebam tanto sakê com película de ouro, evitem a cozinha de Ferran Adrià, poupem o caviar de legítimo esturjão do Cáspio (nada de Beluga nem de Osetra) nem que lhe acenem com blinis feitos com trigo puro do sul da Ucrânia, abdiquem das ostras gratinadas com zabaglione de champanhe, bebam apenas um dedal de Tokai, em vez de Vezúvio Vintage de 2000 escolham outra bebida, torça o nariz se lhe oferecerem um Millésime 1969 de Delamain.
Bem se vê que esta gente não tem família.
«Uso a bicicleta como meio de transporte, não uso capacete e também não gosto de astronautas. Quanto à lycra uso-a exclusivamente nos desportos aquáticos porque, além de não a achar confortável em terra, associo-a directa e inconscientemente ao desporto hardcore e a transpiração extrema, de tal forma que só de ver alguém vestido de lycra sinto comichões.
Há uns meses vim trabalhar para Sines onde fiz uma descoberta aterradora. Descobri então que algumas pessoas desta pequeníssima cidade se fazem deslocar diariamente de carro para todo o lado (por vezes em distâncias inferiores a 400 m). Fiquei ainda mais surpreendido quando encontrei algumas dessas pessoas trajadas de astronauta, com calções de lycra, sweat-shirts e garrafinha de água na mão, a marchar furiosamente pela marginal aos pares e aos trios... com o espanto demorei a perceber que estavam a praticar o footing porque, dizem os médicos, é uma actividade desportiva muito benéfica para a saúde e muito eficaz na redução do risco de doenças cardio-vasculares. Apeteceu-me gritar: Vão-se Footing, pá! Passam o dia sentados no escritório ou no café, para onde vão sentados no carro, e ao fim da tarde vão suar que nem umas bestas, a praticar o footing!!!
Como urbanista, considero esta perspectiva da actividade física perversa e perigosa para as nossas cidades... pessoalmente acho-a completamente idiota e só encontro explicação para ela no domínio da psicanálise.» CONTINUE A LER AQUI.
«Escrevo-lhe, já com algum atraso, em resposta ao seguinte conjunto de linhas, por si redigido no seu blog A Origem das Espécies. Perdoe-me o atraso da encomenda, mas se consideramos que este mês de Setembro é dedicado à mobilidade europeia e ao dia europeu sem carros, veremos que a abordagem do assunto é até bastante acertada. Adiante.Caro Tiago: uma conversa nunca se agradece. O que eu escrevi no meu post foi o seguinte: os candidatos à CML aparecem «de bicicleta, pedalando, certamente para incentivar os lisboetas a usar o velocípede colina acima, colina abaixo». O incentivo é meritório. Mas, repito, parece-me que a orografia não ajuda. Já andei de bicicleta nos meus tempos de Finlândia, e diariamente; a cidade era perfeita, com pistas (aquilo que agora se chama ciclovias) e parques. Tenho ali uma bicicleta para passear no Guincho. Andei de bicicleta em Amesterdão, só por falar em cidades. Mas não me estou a ver a subir até à Graça a partir do Terreiro do Paço. Pergunta-me o Tiago: por que não? Respondo logo: porque apanho um táxi ou um autocarro (podia referir a minha condição física mas o meu médico lê este blog). Quando ando em Lisboa, de um lado para o outro, ando de metro e de táxi. Parece-me desagradável subir até ao Príncipe Real vindo do Cais do Sodré, se bem que achasse graça ir do Campo Pequeno à Praça de Espanha (mas a fazer o quê?). Passear à beira do Tejo? Perfeitamente. Fá-lo-ia a pé, se não preferisse o paredão do Estoril. Tem toda a razão quando diz que a bicicleta «é benéfica»; do que eu não gosto é das fatiotas dos ciclistas que andam na marginal, em lycra, com os capacetes de astronauta. Não sei o que lhe diga.
Uma das coisas que sempre me surpreendeu foi a mania dos jornalistas portugueses falarem dos mais variados assuntos com uma familiaridade alarmante. Nisso, parecem estar bastante próximos dessa arte sofista do falar sem dizer nada: falam de cultura, debicam autores, peroram ideias, conjugam gostos, apontam opiniões, e com uma segurança tal que o leitor mais ingénuo julgará estar perante um arauto da sapiência. Claro que há uma hipótese que o poderia ilibar da minha suposição: como qualquer pessoa tem direito à opinião, o FJV que escreve no blog é rapidamente transmutado, e logo de seguida, no FJV jornalista, no FJV escritor ou no FJV director da Casa Fernando Pessoa e não necessariamente por esta ordem. [...]
E perdoe-me a eventual diatribe; parece-me ser um homem bastante razoável e o seu trabalho na Casa Fernando Pessoa foi uma lufada de ar fresco na vida cultural da capital, mas… Mas, o que afirma sobre as bicicletas em Lisboa é ridículo: não sei o que é um astronauta pedalante mas sei que FJV nunca verá jamais nenhum jornal ou pessoa que lhe explique a razão pela qual usar a bicicleta é um absurdo; pela simples razão de haverem pessoas que o fazem e pela simples razão de tal ser insofismável. A sua parca análise considera a Lisboa ciclável como o somatório de trajectos entre as sete colinas. E nos vales? E nas próprias colinas? E a passagem da colina do Castelo, via margens do Tejo, para a colina da Madragoa, só para indicar um exemplo? E a restante Lisboa que não é o centro e onde não existem colinas? E os transportes públicos entre colinas adequado ao transporte de bicicletas? Bastante falacioso, o que escreveu, não concorda?
A bicicleta, fora de qualquer enquadramento político, é benéfica e deve ser vista como um meio de transporte. Os benefícios que proporciona são inegáveis, quer a nível individual, quer a nível colectivo, porque constitui uma alternativa ao automóvel que assalta e sufoca, diariamente, as ruas da nossa capital e dos espaços que deveriam ser nossos, das pessoas. O automóvel, símbolo da liberdade individual, no princípio do século XX, está hoje reduzido ao protagonismo supérfluo, incómodo e desconfortável, que estraga a cidade. Não sou contra o automóvel, mas continuar defender o seu uso nesta cidade é um disparate. Há que reequilibrar a balança da mobilidade, favorecendo os modos suaves e os transportes públicos.
Queria portanto convidá-lo para, no próximo dia 28 às 18h no Marquês de Pombal, vir descobrir por si próprio a facilidade de andar em Lisboa de bicicleta e as condições actuais que desfavorecem os utilizadores de bicicleta em Lisboa. Num ambiente descontraído, circularemos por Lisboa e apelaremos a uma maior adesão a este meio de transporte. Por Lisboa.
Mando-lhe em baixo algumas fotos de ciclistas em Lisboa [estão publicadas no início deste post], nos tempos dos nossos avós, disponíveis no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
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