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A vida é como é e nada impede o governo português de negociar com a Venezuela; preferia era que o meu governo não andasse aos abraços com o arrivista de Caracas, o homem que ameaça e chantageia os venezuelanos durante a campanha eleitoral que termina esta semana. Chávez ameaça as regiões “rebeldes” com tanques e cortes de verbas, usando dinheiros públicos para promover os seus candidatos, para não repetir os resultados desfavoráveis do referendo com que pretendia ser nomeado ditador. Uma das novidades, desta vez, foi a promessa de prender pessoalmente os opositores e de incendiar as câmaras da oposição. Se é preciso petróleo venezuelano, pois que se compre – e que Sócrates se reúna com Chávez. Mas, repito, evitem as cenas de abraços amorosos e cúmplices diante das televisões.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
P.S. Já imagino o discurso de Alberto Martins sobre a falta de cultura cívica...
A justiça não pode ser feita com preconceitos. Um deles, o mais grave, é o da admissão prévia da culpabilidade dos suspeitos, ainda nem sequer acusados – uma espécie moderna de ressentimento e de maldade. Os casos Apito Dourado e Maddie são exemplos disso e de como a opinião pública pode perder a confiança nas investigações e na própria justiça. Chegámos a um impasse e regressámos ao ponto em que ‘as coisas vão dar em nada’. Por mais que o Ministério Público recorra automaticamente (como manda o PGR) fica a desconfiança sobre os métodos, as razões e os orçamentos gastos numa investigação que pode acabar afogada em desprestígio. A justiça tem de ser mais cuidadosa com o foguetório que lhe gasta os fundos, lhe malbarata a credibilidade e a associa a gente muito duvidosa.
Um estudo concluído pela Universidade do Minho alertava ontem as consciências mais modernas da Pátria para o facto de 25% dos jovens entre os 15 e os 25 anos já terem sido vítimas de violência numa relação amorosa. Entenda-se: as moças, em larguíssima maioria. Essa violência inclui o ‘sexo forçado’ ou a violação, se bem que, para os energúmenos entrevistados (adolescentes a precisar de estaladas) o ‘sexo forçado’ não signifique ‘violação’. Aí está uma não-definição primorosa. Na ‘relação amorosa’ desta rapaziada cabem ‘sovas, murros e pontapés’. Não fico espantado ao ler os números nem as descrições. Tratados como ‘bons selvagens’ pela escola e pelo Instituto da Juventude, eles fazem tudo para merecer o atributo. O amor pode ser cruel, mas há coisas que escapam ao entendimento.
Eu já tive outra opinião. Notícias como esta merecem atenção porque configuram uma nova realidade na net ou, se quiserem, na web 2.0. Aviso que estou cada vez mais céptico em relação às suas maravilhas; atribuo o problema à idade e evito discutir o assunto, mas acho, na mesma, que o código genético da web 2.0 não oferece todas as garantias. Penso que é um tema que nos devia ocupar.
Há uns meses rir-me-ia das excessivas cautelas de Andrew Keen, neste livro (O Culto do Amadorismo. Como a Internet está a Matar a Nossa Cultura e a Assaltar a Nossa Economia, edição Guerra e Paz). Hoje penso que os danos colaterais da web 2.0 estão a ser cada vez mais prejudiciais para a nossa cultura, para a nossa liberdade e para o nosso trabalho. Releio George Steiner para não cair em tentação.
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