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Supernanny.

por FJV, em 23.01.18

Regra essencial: sempre que alguém iniciar ou concluir uma indignação em nome dos “sagrados princípios”, da moral, da ética, às vezes do Estado de Direito – desconfie. Geralmente é palhaçada. O caso da SuperNanny (que não penso ver) é o mais recente. Eu gostaria, antes, de me defender das crianças sempre que oiço as suas vozes, já devidamente idiotizadas, a fazer publicidade na rádio e na televisão a produtos financeiros (lembram-se daqueles mais ruinosos e aldrabões?), a saldos nos hipermercados e lojas de informática, a telemóveis e férias no Algarve, sem que “as instituições” saltem para a rua, indignadas, em saiote e camisa de noite, a fingirem de mamãs fofinhas e a servirem-se do seu estatuto intocável para ameaçar e silenciar. Ah! E quero que “as instituições” vigiem muito bem aqueles programinhas de rádio e colunas de jornal assinados por pedagogos e psicólogos, geralmente marcianos em trânsito, cujo único objetivo é destruir a vida dos pais, explorando o seu sentimento de culpa. Isso sim, era um grande favor. Isso e agilizarem os processos de adoção e deixarem de pregar.

[Da coluna no CM]

 

Adenda: 1) Quando este texto foi publicado na edição em papel do CM, esta manhã, recebi cinco mails de protesto e alguns amigos enviaram-me «reacções do Facebook». Eu gosto particularmente das «reações do Facebook», que me acusam de «apoiar» o programa de televisão, que não vi – nem penso ver. Não passa pelas pobres almas que «reagem no Facebook» a ideia de que o assunto me é indiferente desde que me não obriguem a ver o programa. Já passaram pela TV tantas indignidades, tantos Big Brothers, tantas coisas que fariam corar de vergonha os produtores de SuperNanny, que – sim – corro o risco de vir defender o programa que não vi nem penso ver. Mas o mais hilariante foi a reação de um grupo de médicos ou psicólogos que a redação de lifestyle do Observador convidou para ver o programa e que chegou à fantástica conclusão de que «o happy end do último programa» não era «verdadeiro». Tamanha descoberta encheu-me de piedade. Pois se é televisão! Pois se é um «big brother»!

2) Quanto aos «programinhas de rádio» que menciono, não tenho nada contra as pessoas que os fazem – profissionais dedicados e complacentes que dão conselhos exactamente como SuperNannies. Num dos últimos que ouvi, por alturas do Natal, os dois psicólogos disputavam o papel de marciano, relembrando aos pais-ouvintes que nas férias de Natal não podiam deixar «os filhos ao abandono, em casa, e que, pelo contrário, deviam acompanhá-los «nesta temporada» provavelmente para não os traumatizar. Portanto, as pessoas «metiam férias» e seguiam os conselhos dos psicólogos – ou ficavam a alimentar a culpa por não poderem fazê-lo. Marcianos e é já com bonomia.

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