No ocidente, a festa do Natal deixou de ser a do nascimento de Jesus, excepto para um número residual de cristãos, a maior parte deles ostracizados ou sitiados. Mesmo entre estes é mais corrente a designação de “festa da família” ou “do encontro” numa sociedade essencialmente laica, gentia ou ateia. O andamento das coisas é o andamento das coisas e não parece que se volte à Missa do Galo, ao presépio, ou à celebração ritual de um Jesus de Nazaré tão histórico como simbólico — uma espécie de paragem no círculo do tempo (como a Páscoa). A velha e tradicional consoada, familiar e doméstica, está a passar para o ramo alimentar, florescendo no negócio dos restaurantes, na sequência, aliás, da institucionalização da “época das compras”. Ao cristianismo ocidental sucede uma espécie de “paganismo da felicidade”, turbulento, comercial e irrisório, como o sinal do início do inverno — mesmo assim, alguma coisa existe que não conseguimos esquecer. Mesmo para quem não é cristão, a “quadra natalícia” é um pretexto para nos vermos. Sobrevivamos à solidão; isso será o bastante.