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Densidade, clausura, minúcia, celebração, libertação – lembro-me disto a propósito de Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar, e da impressão que o livro me deixou na altura, contando a história de um homem que recusa o fechamento da vida rural. Um Copo de Cólera (também na Relógio d’Água), que Nassar publica dois anos depois, em 1978 (aos 43 anos), mostra a outra face da sua escrita, a busca de uma modernidade ousada e libertária, numa história de desamor conturbada – e que continua nos cinco contos de Menina a Caminho (Cotovia), o terceiro e derradeiro livro, de 1994. Há outros sinais que me comovem: a herança da contemplação e de uma certa “melancolia libanesa” (é filho de emigrantes libaneses), as leituras do Corão e da Bíblia, o desprendimento da língua que procura uma espécie de pureza e de simplicidade, de contenção, de procura do essencial. E não, não concordo com a ideia de que os seus livros são de “intervenção política”, como ontem se disse e estranhamente o Ministério da Cultura repetiu. Tudo é, tudo pode ser essa intervenção, mas não é isso que marca a grande beleza dos seus livros: é a beleza, propriamente dita.
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