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Não sou como as pessoas intrépidas, cheias de nervo e prosápia, que continuam a proclamar a sua valentia e indiferença, encolhendo os ombros às cautelas diante da Covid. Lamento muito, mas tenho tanta coragem como medo. Perdi pessoas queridas devido à Covid-19; são minhas as dores, e não uma ocorrência estatística a enfrentar com a galhardia dos que dizem que 20, 30, 50, 100 mortos diários são uma ninharia. Não tenho esse heroísmo bravo, tomatudo e frio de fuzileiro à civil. É verdade que me acomodo; não evito fazer seja o que for, mas não exulto de alegria natalícia comparecendo aos jantares de amigos e de comemoração, às festas de rua ou aos ajuntamentos exagerados. Tenho tanta coragem como medo, e penso que a maior parte dos meus leitores também sofre do mesmo. Poupamo-nos para os dias que hão de vir? É verdade. Evito os outros, de quem sou próximo? Não, nunca o fiz. Agimos com cautela? É verdade. Como diz um amigo que, ao contrário de mim, gosta de provérbios: “Quando o fogo chegar ao rabo não culpem a palha.” Mas o pior de tudo, nisto como na vida, são os forcados de garganta.
Da coluna diária do CM.
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