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Os pobres e os empobrecidos, os frágeis e os desprotegidos não entram naqueles anúncios televisivos da nova ideologia sentimental, corolário do “sofrimento lifestyle”. Os do “vai ficar tudo bem”, “vamos superar”, “vamos ficar ainda mais unidos”, “vamos ficar juntos” e semelhantes, todos lidos pelas mesmas vozes fofinhas que parecem estar a sussurrar e a dizer “vamos ficar em casa a evitar problemas psicológicos enquanto fazemos ioga e pedimos comida pela net porque não podemos ir comer tailandês”. Acontece que os desprotegidos serão sempre desprotegidos. Não são atendidos nos hospitais (de que têm medo, porque estão cheios), não entram nas estatísticas (porque os lares são pobres ou porque não há certidões de óbito), não sabem se terão emprego no fim do mês, não sabem se a empresa ainda funciona ou, no caso dos lojistas e pequenos empresários, se terão meios de pô-la a mexer. Uns e outros estão do mesmo lado da barricada, mesmo quando não desistem. A maior parte deles não ficou em casa. São pessoas obrigadas a ser heróis – não são para eles os anúncios fofinhos, cheios de sussurros.
Da coluna diária do CM.
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