Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



O tempo da comida.

por FJV, em 06.05.17

Lembro-me bem do tempo em que os inteletuais, por exemplo, evitavam falar de comida – um assunto que sujava os dedos (ao longo da minha vida conheci gente que desprezava ostensivamente assuntos de comida e que garantia que se devia “comer para viver e não viver para comer”, o que é uma trafulhice de todo o tamanho). Na década de 80, inclusive, chegaram a vender-se apartamentos sem cozinha. O mundo mudou; hoje a comida transformou-se numa obsessão: ou com dietistas que possuem a fórmula mágica da saúde eterna, ou com a avalanche de loucuras ‘gourmet’, ovas de caracol, festivais de comida, ‘showcooking’, festas de ‘street food’, cursos de cozinha, mostras de cogumelos ou tofu, delírio com sushi, a moda das sopas orientais, ‘ramen’, ‘souping’, ‘hibachi’, bebidas à base de carvão, abacate, etc., etc. Por instantes, eu – que cozinho todos os dias, e gosto – tive saudades de outro tempo. Havia comida. Havia cozinheiros. Gostávamos do que gostávamos. Procurávamos produtos naturais que não eram “biológicos”. E comer era simples como viver. Exceto para gente palerma, ontem e hoje.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)



Ligações diretas

Os livros
No Twitter
Quetzal Editores
Crónicas impressas
Blog O Mar em Casablanca


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.