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Ontem deparei com uma frase fantástica de Tom Waits: “O mundo é um lugar infernal, mas a má escrita está a destruir a qualidade do nosso sofrimento.” Waits sabe do que fala; algumas das suas canções – estranhas e imprevisíveis – são monumentos literários. Justamente, vendem-se cada vez menos livros de literatura (romance e poesia) e o que aparece, na maior parte das vezes, são arremedos de uma banalidade monstruosa; não me admira que a não-ficção (sobretudo história, biografia e ciência) tenha cada vez mais sucesso, diante da crise da ficção literária. A “qualidade do sofrimento” é uma coisa que procuramos valorizar com bons livros. Ao contrário do que dizem certos tolos, a leitura não nos faz melhores cidadãos (ou seja, a não deitar lixo no chão, pagar os impostos, ser amável); desperta-nos para o mistério, para o enigma, para a melancolia, para a maldade e – claro – para o sofrimento, a falta ou o amor. A má escrita é, por isso, um pecado contra a beleza. E, se na escola não houver bons livros a circular, os leitores de amanhã não saberão distingui-la no meio do ruído. E do lixo.
Da coluna diária do CM.
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