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O Brasil cansa. Mas devia ser uma lição – é o retrato de um país que, para escolher uma expressão local, podia “dar certo”. Mas, tirando períodos muito raros e especiais (como o da recuperação económica e modernização do Estado, protagonizado por Fernando Henrique Cardoso, 1995-2003), não deu. Produziu um grupo de ricos e poderosos e uma multidão assustadora de pobres, políticos corruptos e imprestáveis, juízes de asilo, regionalistas reacionários e tribais, populistas abjetos – o último deles, Bolsonaro, transformou-se rapidamente numa espécie de asno encartado, obtuso e absurdo (como tudo prometia). O mesmo país onde vivem ou viveram Chico Buarque ou Amado, Érico Veríssimo ou Tarsila do Amaral, Niemeyer e Portinari ou João Gilberto e Jobim, tanto como heróis loucos e trágicos à medida de Getúlio Vargas ou o seu imperador triste, assistiu ontem à ameaça de um desfile militar em Brasília, uma coisa estranha e desusada em democracia. Mas o Brasil conseguiu reunir, sem espanto, uma esquerda anquilosada e uma canalha reacionária e populista. A beleza do país não merece este destino desafinado.
Da coluna diária do CM.
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