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Neve.

por FJV, em 28.02.18

Telefonaram-me a avisar: “Lembras-te daquele caminho que subíamos na serra e que se enchia de neve quando éramos miúdos? Está outra vez coberto de neve.” Não nevava ali há dez, onze anos. Peço desculpa aos lisboetas para quem a neve é um episódio de “férias de inverno”, chique e vagamente nos Alpes, mas a aldeia onde eu vivi parte da infância ficava isolada pela neve durante semana e meia, todos os anos. Sem correio, sem autocarro, sem aulas durante um ou dois dias. E havia frio porque era inverno. Há três semanas, a Proteção Civil e a imprensa coligaram-se para decretar que Portugal era uma espécie de icebergue; o alarme irritou-me: havia sol e, como estava de viagem, verifiquei que os picos da Serra da Estrela estavam escuros como num dia de verão. Ontem, ao fim da tarde, o tom de tragédia regressou, mas foi acompanhado do telefonema familiar: onde há trinta, quarenta anos, nevava todos os anos, voltou a nevar. Eu sei que é mau para o lifestyle lusitano, que promulgou uma meteorologia eternamente estival e de manga curta. Bem vinda sejas, neve. É inverno. Como deve ser.

[Da coluna no CM]

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