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Quando uma coisa destas é publicada, devemos parar por instantes. Apesar de ser hoje discreta a sua presença, Vitorino Nemésio (1901-1978) é um dos autores que marcará definitivamente a poesia do século XX – sem falar da importância de Mau Tempo no Canal (1944), um dos últimos grandes romances do nosso tempo. O primeiro volume da Poesia de Nemésio acaba de ser publicado pela Companhia das Ilhas e pela Imprensa Nacional (com edição de Luiz Fagundes Duarte) e abrange os anos de 1916 a 1940, incluindo títulos como O Bicho Harmonioso ou Eu, Comovido a Oeste. Poesia desta dá uma volta inteira aos desertos da nossa língua, como uma luz rara, um lirismo sem choro nem lamúrias, cheio de ironia: “Eu gostava de ter um alto destino de poeta,/ Daqueles cuja tristeza agrava os adolescentes/ E as raparigas que os leem quando eles já são tão leves/ Que passam a tarde numa estrela,/ A força do calor na bica de uma fonte/ E a noite no mar ou no risco dos pirilampos.” Uma harmonia brava, desconhecida hoje, atravessa estes versos – não os percam. É do melhor da nossa língua.
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