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Tive uma experiência extraordinária um destes dias: confrontar alunos universitários com o pedido de elaborarem uma lista dos dez livros de que mais gostavam. Não a dos dez bares do Cais do Sodré ou a das dez marcas de roupa, ou a dos dez youtubers mais patetas, ou a dos dez rockers deste verão. Como se tratava de alunas e alunos do último ano de humanidades, esperava uma lista condizente e à altura, mas 80% deles foi incapaz de chegar lá. Pensei tratar-se de um problema de memória; mas não: era mesmo falta de conhecimento. Não tinham lido dez livros, não se recordavam de dez títulos (mesmo que os não tivessem lido, romances ou ensaios) nem manifestavam qualquer sentimento de culpa. Eu nem queria clássicos, da Odisseia ao Amor de Perdição ou Cem Anos de Solidão. Queria dez. Ernestine, a professora do romance A Mancha Humana, de Philip Roth, diz a certa altura: “É muito difícil ler os clássicos; logo a culpa é dos clássicos. Hoje o estudante faz valer a sua incapacidade como um privilégio. Deixou de haver critérios, para só haver opiniões.” Fiquei velho de repente.
[Da coluna no CM]
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