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O meu avô era um termalista. Durante quinze dias ia a águas, disciplinado e conformado; bebia a água, tomava os banhos, passeava no parque. Creio que acrescentou mais de dez anos à sua vida. Quarenta anos depois, levanto-me às sete, tomo a água indicada em três doses, até às oito e meia; faço o resto dos exercícios, entro em gabinetes onde há água, sou fustigado por água, massajado por água, volto a beber água durante a tarde, passeio no parque, leio. Um cavalheiro local, vendo-me como um pacóvio a caminhar pela rua, recomendou que olhasse para o céu, onde estão os bosques do Gerês – e não para o chão. Fez bem: é lá que se repousa, no céu onde estão os bosques. Não sei onde tenho andado que ainda não tinha descoberto este lado do planeta. Às vezes, tomada a água, passeio pelo parque do Gerês e julgo encontrar o meu avô, que sabia tudo sobre comboios e quase tudo sobre as termas. Os meus médicos sugerem que me falta uma vitamina qualquer que se encontra debaixo do céu, tal como as termas – um reduto da civilização de outrora, juntamente com a caligrafia, a leitura e a contemplação.
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