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Admito a tese de que se trata de um instrumento de opressão das mulheres pelo Islão, mas, pessoalmente, gosto do burquíni. Lamento informar, mas também gosto dos velhos e saudosos maillots, fato de banho feminino de uma só peça. Sou um tarado. Posso imaginar a curiosidade que existia, logo a seguir à II Guerra (quando o suíço Louis Rénard inventou o biquíni), acerca do corpo feminino e, sobretudo, do de Brigitte Bardot. Mas o mundo mudou. Roland Barthes teorizou, muito apropriadamente, sobre a «fenda erótica» – a intermitência, o espaço entre a revelação e a ocultação, a pequena suspeita –, que invoco em minha defesa, até porque Barthes era insuspeito de devassidão heterossexual. Hoje, quando qualquer dama posa nua para as gazetas (até a mulher de Donald Trump), o burquíni, humedecido pela água salgada das praias, escondendo as divinas imperfeições mas suscitando a imaginação e os seus maravilhosos pecados, intensifica a dimensão erótica do verão – assim o saibamos receber sem deixar que os imãs mais hirsutos e as escolas de jurisprudência islâmica suspeitem que o aprecio desta forma lasciva.
[Da coluna do CM]
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