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Dilma Rousseff, a presidente que não conseguia juntar um sujeito e um predicado e colocar ambos em concordância com um complemento directo (e que pronunciou esta nobre pérola, «todo mundo pode cometer corrupção») diz que, afinal, errou ao ter escolhido Michel Temer para vice na chapa eleitoral. Ai dela, Dilma. Não é a pior, valha a verdade. A esta hora, também Lula deve pensar que errou ao escolher José Dirceu como ministro da Casa Civil, porque, ai dele, foi preso por corrupção. Lula errou também ao ter permitido que José Genoíno assumisse a presidência do PT porque, ai dele, foi detido e condenado por corrupção. Lula também errou ao escolher Marcos Valério como tesoureiro do partido porque, ai dele, foi preso por corrupção. Lula errou ao aliar-se aos radicais evangélicos porque percebeu que estava perdido quando o bispo Edir Macedo, finalmente, não lhe atendia os telefonemas (já tinha tido a prova de que não valia a pena espanejar o chão evangélico porque tinha escolhido José Alencar como vice da sua chapa). Ai dele, que errou ao ter escolhido os seus filhos, sob quem recaem suspeitas e processos de corrupção e de favorecimento ilícito em posse de bens estatais, para cuja atribuição ele concorreu. Errou porque foi apenas mansamente racista nos seus insultos contra Francisco Barbosa, o presidente do STF, que condenou a canalha do mensalão. Também errou quando tentou expulsar do país o correspondente do NYT, uma coisa que nem a ditadura militar conseguiu, ai dele. Também errou quando deixou que o então presidente do PT (que ele, Lula, tinha nomeado) escolhesse aqueles funcionários que foram capturados num aeroporto «com dólares na cueca». Sim, Dilma errou ao escolher Temer como vice, porque não lhe bastava – como não bastou a Lula – ter o PP como vice aliado; precisava de comprar o partidão do regime, o PMDB, como sempre rebolou os olhos, em delírio, de cada vez que fazia alianças com Paulo Maluf (dá para acreditar, Lula a beijar Maluf na boca?) ou recebia o apoio de Delfim Netto (esse, Delfim Netto, esse, o ideólogo da economia do regime militar)? Não sei se Dilma também errou quando mandou a sua tropa (a CUT, o MST, por aí fora) invadir a rua para impedir que leis fossem aprovadas e, de caminho, queimassem jornais e revistas desafectas, mas deve ter errado quando, com o seu português maravilhoso (ah, ela tem esra frase gloriosa: «Por isso que eu me comprometo a trabalhar diuturna e nocturnamente»), enquanto ministra de Lula, ela não sabia de nada. Tanto assim que, depois de Palocci, o ministro da Fazenda de Lula, ter sido envolvido no mensalão e declarado culpado de corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto, Dilma errou também – ai dela – ao nomear ministro da Casa Civil, quem?, António Palocci, esse mesmo, que teria de abandonar o cargo por ser suspeito de «improbidade administrativa» e, depois, condenado por esse e outros crimes, desde recebimento ilegal de fundos em dinheiro vivo até falsificação de aquisição de molho de tomate na prefeitura de Ribeirão Preto. Lula também errou, ai dele, por não ter insistido no esclarecimento das circunstâncias em que foi assassinado o prefeito de Santo André, Celso Daniel, nem as sete testemunhas do caso, todas relacionadas com o PT. Pobre Dilma, que errou ao escolher Michel Temer, e que, tentando um golpe, errou querendo nomear Lula como ministro para este escapar ao inquérito legal em curso. Erros de ambos, Dilma e Lula, amor ardente. A lista de azares é longa, mas escusam de mandar cançonetas sobre «o golpe» e de chorar em público. Aliás, Dilma e o PT patrocinaram, directa ou indirectamente cerca 50 pedidos de impeachment, a maior parte deles contra Fernando Henrique Cardoso (e alguns tão mal instruídos pelo segundo ministro da Casa Civil de Dilma, Jacques Wagner, o campeão das ilegalidades enquanto governador da Bahia, ou por Tarso Genro – o mais ridículo, a fazer jus ao bigode – e Genoíno, o campeão das virtudes que liderou parte substancial do mensalão), mas também contra Collor e Itamar. Não venham com cançonetas sobre «o golpe», sobretudo depois de quase destruirem o Brasil.
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