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Diálogos bufos e facetos.

por FJV, em 28.01.21

De entre os “romances políticos” do século XIX, há três que vale a pena ler a propósito dos nossos tempos: As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis (com o suplemento militante e o idealismo infantil de Os Fidalgos da Casa Mourisca), o extraordinário Eusébio Macário (e a continuação em A Corja), de Camilo, e O Conde de Abranhos, uma comédia burlesca (a que se podem acrescentar A Capital e Os Maias) de Eça. É um mundo: os diálogos bufos e facetos, as nomeações de conveniência, a corrupção, os pantomineiros e velhacos, as conveniências, a impunidade dos peraltas e caciques, a ignorância provinciana, a boçalidade, a apropriação de vantagens; mas também o povo maltratado e pobre a quem se pode mentir e que não sabe nem quer distinguir a verdade da mentira, bem como a manipulação sem vergonha que passa por habilidade pura. A classe que está hoje no poder (bem como a que espera que, por milagre, o poder lhe caia no colo) sabe que tudo isto lhe podia ser fatal noutro país – mas só aqui os 303 mortos da pandemia podiam ser anunciados apenas depois do debate parlamentar.

Da coluna diária do CM.

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