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Eu escrevo «O Cantinho do Hooligan» mas acabo de ser batido aos pontos por este amigo sportinguista.
João Moutinho não tem culpa; mas naquela altura, com um resultado periclitante, devia ter entrado Bruno Alves, mesmo com o argumento de que Moutinho seria o ideal para fazer «circular a bola». Quatro bolas falhadas na segunda parte também são argumento para ter entrado Bruno Alves, só que Queirós ainda não sabia que depois das «tentativas» de Simão, Danny, Nani e Nuno Gomes só o penalti nos aproximaria do resultado ideal.
Discordo, por isso, de Tomás Vasques; a Dinamarca não foi a «classe operária» na arena da luta de classes — foi, antes, a divisão luterana; pelo contrário, fascinados com a «beleza do jogo» (nem por isso), a rapaziada descurou o essencial, que não era preciso ter sido ensinado por Scolari: perde a equipa que deixa entrar mais golos. Foi a nossa; estava na cara desde o minuto 62.
Os jogadores do meu clube deviam ser açoitados por não terem ganho àquele grupo de baile mas, mesmo assim, há duas conclusões imediatas: 1) Quim merece ser o guarda-redes da selecção nacional; foi o melhor naquele campo em que os adeptos podem saltar para o relvado a fim de agredir o árbitro auxiliar; 2) o FC Porto jogou razoável, mas é mau resultado empatar com uma equipa (a da galinha) que vai ser o bombo da festa (A Bola e o Record vão ter de inventar bastante para manter a imaginação das suas capas...).
Outras conclusões secundárias: 1) O Sr. Flores não vai ter vida fácil; 2) as cãibras do Benfica são um espectáculo digno de se ver, mas ser do Benfica cansa muito; 3) continuo a gostar muito de Aimar (no jogo com o Rio Ave tocou três vezes na bola durante a primeira parte) – o banco do Zaragoza é um alfobre, já as opções do Atlético de Madrid compreendem-se perfeitamente; 4) apesar de tudo, vai ser mais fácil do que esperava.
Com tanta coisa esquecia-me deste momento importante.
Ricardo Quaresma não é apenas um jogador do FC Porto – ele é um artista no meio do futebol de régua e esquadro que os burocratas querem promover a todo o custo. Inconstante, extravagante, mau-feitio – e muito perto do talento puro, o do bandoleiro que de repente começa a dançar no meio do relvado e consegue passes estranhos, trivelas fantásticas. Esse mau-feitio prejudica-o, tal como a ambição fora de tempo. Nada disso o impede de figurar no quadro de honra. Jogadores como ele sentem-se bem no palco da tragédia, que é o do jogo de vida e morte. É um prazer vê-lo jogar; basta dar-lhe um mínimo de confiança. No flamenco, ele é um bailador que também canta, ora a solo, ora em coro mesmo quando desobedece. Vê-lo escondido, no balneário, de castigo – é um desaforo que não mereço.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Não. Eu sou um dos que defende Ricardo Quaresma independentemente das razões do treinador. Quaresma é um artista que deve ser defendido e essas tretas do «grupo de trabalho» não me convencem. Aliás, viu-se. E repetiria tudo o que escrevi aqui: uma arte sobre o fio da navalha.
«Um jogador como o Ballack mostrou o espírito da liberdade frente a Portugal.»
Movimentos geométricos dos russos, em estilo compressor, desprezando a utilização do compasso; régua e esquadro bastavam, e arcos de meia volta desenhados à distância, com a criatividade de Zhirkov, e dos fantásticos Arshavin e Pavlyuchenko. De repente, e pela primeira vez, apeteceu-me ir à Rússia.
Heptacampeões, em todas as condições e no terreno do inimigo. É o primeiro dia do Verão.
Médio de ataque ou descaído sobre a ala esquerda, escrevem eles. É o primeiro dia do Verão.
1. O aborrecido em futebol é que alguém tem que perder e às vezes quem perde são os nossos. Antes assim, do que aumentar a bolha do «somos os maiores»; porque não éramos, dadas as circunstâncias de termos um treinador que insiste em burrices consagradas ao som de Roberto Leal. Com outro treinador, estes jogadores iriam mais longe. Maiores foram os alemães, mais rápidos, mais sólidos, mais concentrados e com uma bússola que lhes mostrava a direcção da baliza. Mesmo assim, a rapaziada não jogou mal mas a verdade é que depois de rever as partidas contra o Azerbaijão, a Polónia ou a Finlândia, compreende-se: Scolari gosta de futebol de flippers: cada jogador transformado num botãozinho, Ronaldo preso ao lugar menos indicado e todos a jogar para a equipa (eu nunca percebi isso), com a excepção de Deco, que esteve genial (apenas ele, valha a verdade). Alguns comentadores falam da Alemanha fria e calculista; eu vi ali futebol, passes, entradas pelas laterais & geometria descritiva. Que os jogadores portugueses são mais talentosos; então encontrassem jogo mais talentoso, porque Ballack, Schweinsteiger e Podolski não são nada de deitar fora, pois não?
2. Espero que a pátria entre em certo sossego.
3. Quanto ao resto, espero que Stamford Bridge conheça em breve Roberto Leal, a N. S. do Caravaggio, e o guarda-redes Ricardo.
1. Uma horda de jornalistas repete até à exaustão que «hoje é o dia do mata-mata». Desde há uma semana que «hoje é o dia do mata-mata» porque já estava escrito que podíamos perder com a Suíça, e perdemos, e mesmo assim «hoje seria o dia do mata-mata». Nunca mais acaba o suplício. Matem lá.
2. Petit deu um «chupa-chupa» a Cristiano Ronaldo (CRonaldo, como escreve o Ferreira Fernandes). Que coisa superlativa. Todas as rádios anunciaram a dádiva e houve mesmo um comentador que acrescentou que Ronaldo tinha sido de uma enorme elegância. Comeu o «chupa-chupa» de boca fechada.
3. Não vi mais de metade dos jogos. Não vi três quartos dos jogos. Estou apenas à espera dos Jogos Olímpicos para dizer mal da China.
Não, não me apanharão a atirar a primeiria pedra, a menos que me digam que se tratou de bolas mal chutadas. E, para os mais incrédulos, advirto-vos que não vejo a selecção portuguesa a jogar os últimos quinze minutos do Turquia-República Checa.
Desde que se soube da saída de Scolari para o Chelsea que houve movimentações estranhas na selecção. Mas é escandaloso que, durante esta manhã, e com o conhecimento e autorização do sargento, Deco tenha estado em Barcelona a negociar a sua saída do clube catalão e a ida para Londres, com manifesto prejuízo da selecção nacional de futebol.
A vida não é fácil. Mas reconhecem-se à primeira vista os campeões da treta. Ao constituirem-se assistentes do processo, passam a ser oficialmente os queixinhas de serviço.
Assim, de repente, sinto que me falta qualquer coisa.
1. É fartar vilanagem. Aqui está, agora, a oportunidade de saquear e de humilhar. Estais no vosso direito. Guerra é guerra. Voltaremos.
2. O FC Porto errou desde o início ao não recorrer da decisão de uma espécie de tribunal plenário do regime, que não só já tinha decidido antes de ter acesso aos documentos, como não aceita defesa do réu. Um dia poderá fazer-se a história destes bastidores. Agora, deixemos que a poeira assente: é fartar vilanagem. O país benfiquista rejubila. Vale a pena ver o espectáculo, esse abraço entre Luís Filipe Vieira e Cunha Leal. É o abraço entre Calabote e o Benfica no estádio do Algarve. É o clube do regime que regressa.
3. Ao não recorrer da decisão desse tribunal plenário, o FC Porto errou. Havia uma questão de honra implicada; a honra do clube, a honra do nome. Ganhou a perspectiva «manhosa». Foi mau.
4. A propaganda também ganhou. Houve má comunicação. Sobretudo deixando tudo entregue aos mesmos protagonistas, o que permitiu que um caso de justiça desportiva se transformasse em novela de costumes, com o seu enredo de perfídias e de vergonhas. Nada a ganhar quando isso ganha o palco.
5. A declaração de guerra (ao FCP e à FPF) do presidente do Benfica é óbvia. É a declaração da vergonha. É fartar vilanagem. O homem é o que é.
6. Se o FC Porto não for à Champions, é uma oportunidade. Limpeza, regeneração, paciência, renovação, clarificação. Pagar as contas, liquidar as dívidas, arrumar a casa. Faz jeito. E uma equipa nova, se é isso que falta. Uma equipa nova e líderes novos, garantido o bom nome aos que se retiram. E ganhar com 30 pontos de vantagem sobre a Galinha, em vez de 20. É uma boa perspectiva. Pelo menos teríamos oportunidade de reler os melhores textos que jamais se escreveram sobre o Benfica. Gosto de adversários à altura.
7. Arrumada a questão, seguir em frente.
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