Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Estar errado.

por FJV, em 08.03.08
Sobre alguns comentários acerca da posição do Ministério da Educação, convém dizer que a questão não é a de desvalorizar e punir a ministra por estar a ser contestada na rua; digamos que até é um ponto a seu favor. Não ceder à rua é meritório hoje em dia. O problema é outro, completamente diferente: a proposta do ME está errada, cheia de maus critérios. Para os que nunca ou raramente visitam as escolas, ou as conhecem, ou falam com professores, seria melhor ver o que ME fez da vida das escolas e dos bons professores, antes de disparar para os alvos mais à mão para parecerem valentões. Anda tudo de peito cheio a pedir «ponha-os na ordem, senhora ministra».

Autoria e outros dados (tags, etc)

Avaliação de professores, 2.

por FJV, em 08.03.08
Lamento muito. Concordo que deve existir uma avaliação de professores (ao contrário de Vasco Pulido Valente), mas não deixo de notar o tom de ressentimento, que é sempre mau conselheiro, naqueles que não vêem nesta questão mais do que um confronto do governo com o Partido Comunista ou com a Fenprof. A arma é tratar todos como se pertencessem ao mesmo saco («pseudoprofessores», «soldados do Partido Comunista», «preguiçosos», etc.) e, pior, tratar uma manifestação de professores como um ataque ao coração da democracia. É de um exagero absolutamente notável e deselegante.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Avaliação de professores.

por FJV, em 08.03.08
Agradecia aos espíritos disciplinadores que lessem o artigo de Vasco Pulido Valente no Público de hoje.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Escolas, e justiça pelas próprias mãos.

por FJV, em 07.03.08


Ontem visitei uma escola no concelho de Sintra. Era a “semana da leitura” numa escola cuja biblioteca está permanentemente aberta das 08h00 às 22h00 por devoção dos seus professores. Os de várias disciplinas, de Português a Educação Física e Geometria – cada um faz uma escala para garantir um dos objectivos internos da própria escola: mantê-la aberta nesse período. Havia alunos a ajudar no bar e no refeitório, porque não há pessoal suficiente. Alunos, funcionários administrativos e professores promoveram uma maratona de leitura. A ministra da educação pede a estes professores para “trabalharem mais um pouco”, coisa que eles já fazem há bastante tempo; ouvi alunos portugueses, africanos, indianos, do Leste europeu, a falar com orgulho da sua escola. Falando com eles, um a um, percebe-se entusiasmo em várias coisas. Acho natural, são professores. Percebo pela blogosfera uma grande vontade de fazer “justiça pelas próprias mãos” aos professores, mas vejo poucas pessoas com disponibilidade para ouvi-los nas escolas – não nas ruas, onde as parvoíces são sempre amplificadas, mas nas escolas, nos corredores da escolas, quando fazem turnos de limpeza, quando atendem alunos em dificuldade ou fazem escalas para Português como língua estrangeira para rapazes ucranianos ou indianos que não entendem sequer o alfabeto ocidental, ou quando tratam dos problemas pessoais de alguns deles (ou porque não tomam o pequeno-almoço em casa, ou têm dificuldade em aceitar um namoro desfeito, ou andam na droga). Os professores, estes professores, são um dos últimos elos (percebe-se isso tão bem) entre os miúdos e miúdas desorientados e um mundo que é geralmente ingrato. São avaliados todos os dias pelo ambiente escolar, pelo ruído da rua, pelas horas de atendimento, pelas reuniões que o ME não suspeita. Muitas vezes, as famílias não sabem o ano que os miúdos frequentam; não sabem quantas faltas eles deram; não sabem se os filhos estão de ressaca. Os professores sabem.

Essa vontade de disciplinar os professores, eu percebo-a. Durante trinta anos, uma série de funcionários que abundou “pelos corredores do ME” (gosto da expressão, eu sei), decretou e planeou coisas inenarráveis para as escolas – sem as visitar, sem as conhecer, ignorando que essa geringonça de “planeamento”, “objectivos”, princípios pedagógicos modernos, funcionava muito bem nas suas cabecinhas mas que era necessário testar tudo nas escolas, que não podem ser laboratórios para experiências engenhosas. Muitos professores foram desmotivados ao longo destes anos. Ou porque os processos disciplinares eram longos depois de uma agressão (o ME ignora que esses processos devem ser rápidos e decisivos), ou porque ninguém sabe como a TLEBS é aplicada. Ninguém, que eu tivesse ouvido nas escolas onde vou, discordou da necessidade avaliação. Mas eu agradecia que se avaliasse também o trabalho do ME durante estes últimos anos; que se avaliasse o quanto o ME trabalhou para dificultar a vida nas escolas, com medidas insensatas, inadequadas e incompreensíveis; que se avalie a qualidade dos programas de ensino e a sua linguagem imprópria e incompreensível. Sou e sempre fui dos primeiros a pedir avaliação aos professores, porque é uma exigência democrática e que pode ajudar a melhorar a qualidade do ensino. Mas é fácil escolher os professores como bodes expiatórios de toda a desgraça “do sistema”, como se tivessem sido eles a deixar apodrecer as escolas ou a introduzir reformas sobre reformas, a maior parte delas abandonadas uns anos depois. Por isso, quando pedirem “justiça”, e “disciplina” e “rigor” (coisas elementares), não se esqueçam de visitar as escolas, de ver como é a vida dos professores, porque creio que se confunde em demasia aquilo que é “o mundo dos professores” com a imagem pública de um sistema desorganizado, oportunista e feito para produzir estatísticas boas para a propaganda.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Abrir a escola?

por FJV, em 23.02.08

A ministra da Educação garante que o decreto sobre o novo regime de autonomia e gestão escolar vai proporcionar “uma maior abertura ao exterior”. Precisamente o que eu temia. Exactamente aquilo que o leitor deve temer. Esta anunciada abertura da escola aos “agentes da comunidade local”, como pais, autarquias e “outros agentes” é muito perigosa. Já acho duvidoso que a gestão das escolas possa albergar pais e autarcas; o seu limite deve ser, apenas, uma espécie de conselho consultivo. Mais nada. A ideia de “abrir a escola à sociedade”, muito certinha, não quer dizer absolutamente nada. Penso, aliás, que a escola já está “aberta” demais à sociedade, que a enche de lugares-comuns, erros ortográficos, sintaxe de 'sms', discursos sem nexo, e vários elementos de distúrbio. A democracia, que transformou as escolas em “estabelecimentos de ensino”, uma espécie de “fábrica de cidadãos” em regime industrial, ainda não se desfez da ideologia que a conduziu ao desastre.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

Autoria e outros dados (tags, etc)

As faculdades de Letras.

por FJV, em 18.01.08
Texto de Daniela Kato no A Destreza das Dúvidas (via Superflumina):

«Para os que, como eu, ainda acreditam que se a poesia tem alguma função esta não pode ser se não, parafraseando o poeta americano Jonathan Williams, «evitar que o gelo se forme nos corações humanos», a passagem por uma Faculdade de Letras sugere antes um frio
glacial. A maior das provações, sem dúvida, a que pode ser submetida essa crença na capacidade da Literatura para (co)mover. Desenganem-se os que pensam que as Faculdades de Letras são hoje (se é que alguma vez foram) lugares de cultura, se por «cultura» entendermos todo um conjunto de valores, linguagens, práticas e atitudes perante o conhecimento, transmitidos de geração em geração.»

Autoria e outros dados (tags, etc)

Novas oportunidades.

por FJV, em 11.01.08
Novas oportunidades validadas por Roberto Carneiro; vai ser este o sentido da avaliação prometida. Roberto Carneiro foi o ministro que começou a tratar os alunos por aprendentes, o que teve consequências ainda mais nefastas do que se previa. O país dos aprendentes, da novilíngua, da nivelação por baixo, está para durar. Mas permitam-me que cite um depoimento (anónimo) à notícia do Público. Vale a pena:

«Como professora/formadora a trabalhar em Centro de Novas Oportunidades numa escola pública, posso afiançar que o facilitismo está presente nas nossas reuniões de validação. Não acrescentamos nenhuma aprendizagem ou ensinamento aos adultos que se pretendem certificar. Nunca lhes ministrei uma única aula... Ainda esta semana uma colega nossa, com base num trabalho escrito pelo adulto em processo (2 páginas A4 com uma reflexão sobre a aplicação das novas tecnologias) conseguiu validar 5 das 28 competências que o adulto precisa para ser certificado (ganhar?) o 12º ano, entre outras razões porque descreve que sabe mandar mails, usar o telemóvel e ler instruções do gravador de CDs...A mediadora /avaliadora achou correcto (eu e outras que ainda têm consciência nada pudemos obstar!) Será preciso dizer mais?»

Um outro comentário à mesma notícia:

«Mesmo que conceptualmente o programa Novas Oportunidades não tenha o carácter facilitista a que se está a assistir, a pressão que o governo coloca aos CNO (Centros Novas Oportunidades) com as metas só pode levar a isso. Quem não atingir as metas, perfeitamente loucas e irracionais, não tem futuro. Os horários dos profissionais RVCC (Reconhecimento, Certificação e Validação de Competências) é desumano só em nome das ditas metas. Estatística! A qualidade não interessa. Como vamos continuar a ter alunos no Secundário regular a estudar e a trabalhar com empenho se é tão mais fácil reprovar e obter certificação via CNOs? É o desprestígio total para os docentes e os alunos das turmas do ensino regular. Não interessa quem faz os dossiers; apresenta-se, entrega-se e estamos certificados. Simplex em acção.»


Aí está. O mundo dos aprendentes veio para ficar. Espero, sinceramente, mas com muitas dúvidas, que Roberto Carneiro tenha a presciência (eu gosto da palavra) de denunciar estas inanidades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Nem podia ser de outra maneira.

por FJV, em 05.01.08
A edição de hoje do Sol dá conta da apresentação de uma tese de mestrado, em Coimbra, sobre a má qualidade dos manuais escolares portugueses «e que aponta este factor como uma das principais razões para o mau posicionamento do nosso país nos índices internacionais de competências literárias na leitura». Não é uma novidade, mas é bom que se elaborem e se publiquem esses estudos. Convinha, no entanto, que a culpa não recaísse, inteira, nos editores, cujas sérias responsabilidades são evidentes. Essa responsabilidade deve ser atribuída, também, e em larga percentagem, ao Ministério da Educação, que esteve longos anos sem perceber (aliás, creio que ainda não percebeu) a monstruosidade que se montou em redor das inanidades, erros e disparates de muitos dos manuais que circulam pelas escolas. Como escrevi várias vezes, os pedagogos e ideólogos do ministério andaram demasiado tempo em roda livre, produzindo textos incompreensíveis e experiências pedagógicas que têm prejudicado os alunos, as escolas e os professores.

PS - No texto publicado na edição em papel, o jornal apresenta o caso de um conto de Miguel Torga «adaptado» para um manual de Português. Convido-vos a apreciarem o caso.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Estapafúrdio.

por FJV, em 04.01.08
Nesta disputa para saber quem tem razão ou quem diz a verdade, entre o Ministério da Educação e o Correio da Manhã, a propósito dos nomes de santos a atribuir às escolas, evidentemente que é preciso ter em conta o hábito de o Ministério da Educação não contar toda a verdade ou o de ser ultrapassado pelas várias direcções regionais (por exemplo).
Mas o que é completamente estapafúrdio é o documento que contém as «instruções necessárias e suficientes» (o termo é o das directivas pombalinas) para denominações de escolas. Não basta que os programas escolares não se consigam ler em Português de sujeito, predicado e complemento directo. Não. É preciso que o Ministério elabore um documento sobre toponímica geral e denominações. Tudo regulamentado, tudo, para que nada saia da alçada burocrática.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Santo debate.

por FJV, em 11.12.07
O debate sobre educação seria uma oportunidade de confronto, aparentemente perdida. Em vez disso, o que passa para a imprensa, em primeiro lugar, é «um novo modelo de gestão escolar». Daqui a alguns anos as escolas estarão excelentemente geridas (até coloco essa hipótese), mas sem nada para ensinar.

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 23.10.07
||| Educação Artística.
Atenção ao Educação Artística Forum, animado pelo Carlos Araújo Alves. Objectivo: promover um debate público e aberto sobre os rumos da Educação Artística em Portugal. O link é este e para participar é necessária uma inscrição, coisa de meio minuto.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 24.09.07
||| Incentivos aos alunos.
Rio de Janeiro paga até R$ 4.560 a aluno que se formar com nota boa.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 24.09.07
||| TLEBS: em que ficamos?
Ficamos em que o Ministério da Educação não teve coragem de pôr a TLEBS a andar. Essa é a primeira conclusão depois de ler esta notícia:
«O Ministério da Educação suspendeu em Abril a experiência da TLEBS, mas não deu instruções aos editores dos manuais sobre o que fazer com os livros que já continham a nova terminologia. Os editores dos manuais escolares perguntaram, mas a tutela não deu resposta a tempo e horas. Resultado, mesmo com a Terminologia Linguística para Básico e Secundário (TLEBS) suspensa no ensino básico, há manuais do 4.º e 7.º ano a ser usados que contêm a nova terminologia.»
A segunda conclusão: não se sabe se o Ministério não sabe usar o seu poder, ou se não tem poder para decidir, ou se não tenciona cumprir aquilo que promete. Sobre a TLEBS já se disse o que havia a dizer. Resta pô-la a andar. Escrevi em Abril passado: «Como acontece no ensino do Português, tudo o que dá maus resultados é geralmente aprovado pelo Ministério da Educação. Espero que a ministra da Educação ponha ordem nessa corporação.» Não pôs. O Ministério é que parece refém da TLEBS.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 16.09.07
||| Computadores na escola.
No De Rerum Natura, um texto sobre computadores na escola. Este assunto, eu acho que deve ser discutido. E muito.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 18.08.07
||| Arquivos. Delete, a tecla que eles descobrem.







Não conheço o caso nem o arquivo, mas acho que vale a pena reflectir (e, depois, actuar) sobre o apagão denunciado por J. Adelino Maltez. São 183MB de ficheiros que deixam de estar online. A ser assim, é um escândalo.

P.S. - Já em tempos foi aqui denunciado o caso de uma parte dos arquivos online do IPLB, a Base de Dados de Autores Portugueses, que foi retirada da net. Verifico, com alívio e contentamento, que está de novo disponível. Parabéns, Paula Morão.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 01.08.07
||| Dúvidas benignas, 4.
A propósito da onda de computadores que vai encher as nossas escolas e das dúvidas benignas que aqui se levantaram, era bom que nos interrogássemos sobre a tabuada, por exemplo. E quem diz tabuada tem de dizer, também, calculadoras. Carlos Fiolhais tem uma proposta, a propósito da «utilização massiva de calculadoras no primeiro ano do ensino básico». Simples.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 26.07.07
||| Dúvidas benignas, 3.










Sobre Dúvidas Benignas, Ana Luísa Mouta, por email:
«Há algum tempo, em conversa com duas professoras do 1º ciclo, descobri que as “cópias” estão fora de moda. Hoje em dia, já quase ninguém manda os alunos fazer “cópias”, as “cópias” ficaram definitivamente fora do “ensino moderno”. Há ainda quem faça isso, mas esses professores são vistos como antiquados. Pois a mim mandaram-me fazer muitas “cópias” e olhando para trás não me parece que fosse um erro. Não será uma forma simples de interiorizar a ortografia e a gramática? As “cópias” estupidificam os miúdos? Não estimulam o raciocínio, é verdade. Mas será que para aprender temos de estar sempre a raciocinar? Será que interiorizar as ferramentas básicas não é mais importante do que sermos (parecermos?) modernos?»
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 25.07.07
||| Livros, Steiner. [Dúvidas benignas, 2]











Ainda não li, mas sirvo-me do post de João Gonçalves para dizer que está na lista para os próximos dias; citação de Steiner:
«A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também uma saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros. Reduz o tempo aos instante e vai instilando em nós, até enquanto sonhamos, uma amálgama de heterogeneidade e de preguiça.»
Steiner abordou este assunto em outros livros, naturalmente -- mas a sua experiência relatada em Errata, a sua fascinante «autobiografia intelectual» devia ser tida em conta no actual clima de experiências novitecnológicas que alastram como salvadoras no espírito dos governantes. O computador como elemento salvífico é a principal dessas ilusões que, no fundo, não faz senão prolongar o espírito de infantilização do ensino. Ontem, escrevi aqui sobre a perda antropológica que significava, por exemplo, o abandono do desenho de losangos no quadro, ou o fim do estudo da tabuada. Há uma excessiva preocupação com o aspecto que as coisas têm e a facilidade com que se estuda. Pode haver erros de percurso sérios se não mostramos que o aspecto que as coisas têm é resultado de um longo processo de maturação e de experiência, de tentativas e de erros (por exemplo: até desenharmos um losango perfeito); da mesma forma, estudar não é fácil -- implica participar nesse processo de tentativas, erros, sacrifícios (não ir ao cinema para ficar a praticar equações), coisas absurdas (decorar fórmulas essenciais, como a tabuada, os elementos químicos, as declinações -- ou seja, as ferramentas). Ou seja, pode haver recompensas. Recompensas imediatas, por que não?. Em Errata, Steiner falava das recompensas puramente espirituais, que resultavam do esforço de praticar uma tradução do grego ou uma partitura de Bach. Mas a recompensa pode ultrapassar a dimensão de puro enlevo, de prazer puro -- pode significar que se ultrapassou um ritual de iniciação (ao conhecimento dos números, da métrica ou das dinastias). O resto é pirotecnia.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 24.07.07
||| DREN.






A ministra da educação arquiva processo contra Charrua sem aplicar sanção disciplinar. Diz o despacho: «A aplicação de uma sanção disciplinar poderia configurar uma limitação do direito de opinião e de crítica política, naturalmente inaceitável [...]». Podemos ficar mais tranquilos; a Dra. Margarida Moreira, que tinha coleccionado todas as reacções dos blogs, da imprensa ou de sms a propósito da sua sanha policial, foi desautorizada sem uma única vez se ter escrito o seu nome. Ora, cumpre fazer essa pergunta: o que acontecerá agora à Dra. Margarida Moreira? Alguém lhe explica o essencial?
Também é necessário dizer qualquer coisa ao coordenador dos deputados socialistas na comissão de Educação, que dizia que «é evidente» que «é preciso fazer qualquer coisa quando os políticos são achincalhados na rua». Tenham cuidado com esta gente. Às outras pobres almas, enfim.

Adenda - Espera-se o comentário de Paulo Gorjão. No fundo, passaram-se 62 dias (sessenta e dois!) desde que o Presidente da República pediu para ser esclarecido sobre o assunto. Pessoalmente, não me considero esclarecido. Continuamos sem saber o que levou a DREN a promover um inquérito que só teve forma pública neste despacho, e passados sessenta e dois dias. Continuo sem saber se as denúncias por sms têm relevância política e disciplinar na função pública. Continuo sem conhecer a natureza do processo disciplinar. Continuo sem saber, naturalmente, qual a natureza da ofensa. Tal como o Paulo, eu também não sei o que é «rapidamente esclarecido» na opinião do Presidente da República. Mas sei que há coisas que ainda não estão esclarecidas.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)

...

por FJV, em 24.07.07
||| Dúvidas benignas, 1.
Não tenho nada contra o uso de computadores em salas de aula. Não é preciso dizer isto, mas fica dito. Suponho é que qualquer um tem o direito de duvidar – benignas dúvidas, diga-se de passagem – sobre o argumentário novitecnológico que está a ser usado. Por exemplo, aquele que dizia «às vezes os professores desenhavam um losango e não se percebia muito bem, porque não tinha jeito para o desenho; agora, com computador, está tudo resolvido». Deixamos de usar a mão, de apreender «o processo», de esperar pelo desenho -- tudo aparece no computador; é uma perda antropólogica. Como já deixámos de convencer os meninos a estudar a tabuada e a exercitar a memória. Mas é uma dúvida benigna, atenção.
[FJV]

Autoria e outros dados (tags, etc)



Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.