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O Tomás comentou o meu post sobre o encerramento das linhas do Corgo e do Tâmega juntando-lhe a referência de Maria João Avillez sobre «as duas linhas de ferro no Douro, usadas apenas por 200 pessoas por dia». Eu seria o grego, a MJA seria a troiana (o inverso não me convém). Há um problema nisso: já vi encerrar as linhas do Sabor (de Pocinho a Miranda) e do Corgo (de Vila Real a Chaves) bem como a do trecho do Douro Superior (do Pocinho a Barca d'Alva -- e ainda me lembro da ligação a Freixeneda) e percebo o argumento. Duzentas pessoas? Talvez mais, talvez menos. Talvez muitas mais. Como eu dizia no meu post, «hoje há pouco a fazer». Acabaram. Não vão recuperar-se: «Há alcatrão, cimento, camionagem e gasóleo. Tudo caro. Os comboios portugueses inventaram um país, povoaram-no, desenharam a nossa geografia. Era um país mais bonito do que este.» Tenham bom proveito; eu sou o grego. Ao contrário dos que pensam que há solução para uma parte do país, eu não acredito. Por isso, «a culpa não é da CP». É das opções que tornaram improvável e sem futuro a ferrovia regional.
Adenda: Tomei muitas vezes o comboio das 04h20 da manhã para sair de Chaves rumo ao sul. Chovia lá dentro; as janelas deixavam entrar o frio (e a geada já tinha entrado antes); o aquecimento, a carvão, só funcionava aos dias ímpares; as carruagens eram limpas na Régua de vez em quando; os atrasos nunca eram justificados. Estávamos nos anos setenta. Nos anos oitenta, o cenário repetia-se. Desde há muito tempo que essas linhas estavam condenadas. A camionagem susbtituía, com vantagem, os comboios do Tua, do Corgo e do Sabor -- e havia uma indústria do asfalto mortinha por mais investimentos nas estradas. O troço entre Régua e Vila Real (26 quilómetros) demorava uma hora; se eu fizesse a viagem Chaves-Lisboa de comboio, demoraria ainda mais do que as 12 horas do autocarro. E aqui o Tomás perguntará: «E tens saudades de quê, então?» De nada. De uma ninharia. De um país que andava de comboio; eu sou o grego.
Adenda 2: O Douro transformado em «pólo turístico» sem a linha de comboio parece-me impossível, de resto. O investimento de 4 mil milhões de euros no TGV Lisboa-Porto-Lisboa, que gerará prejuízos, transformar-me-á em troiano.
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