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Vivemos de símbolos e de mitos. Isto vem a propósito do filme Che: O Argentino, de Steven Soderbergh. Ernesto Guevara de la Serna foi um rapaz do seu tempo (Diários de Motocicleta, de Walter Salles, é o seu panegírio), um herói da revolução. Os mitos são amados – pelo menos até que a revolução se decomponha. Tanto o filme de Salles como o de Soderbergh são servidos por dois actores bonitos, Gael García Bernal e Benicio del Toro. Essa beleza (como a de Cristo) prolonga o mito mas tem pouco a ver com a verdade e com a decomposição do rosto de Guevara, que gostava de fuzilamentos e tinha um gatilho irregular. Prolongar o mito vende mais t-shirts. Mas depois de contar os mortos que a revolução deixou para trás, custa a crer que o guevarismo continue a devorar Guevara.
[No Correio da Manhã.]
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