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Clica, clica.

por FJV, em 20.03.09

Ontem à noite, num jantar, alguém dizia que «já não estou habituada a folhear um livro; gosto mais de clicar  e de ver as páginas a passar». E lê muito?, pergunta alguém. «Ainda há poucos livros em formato digital, não é?» (mentira, mentira). Subitamente, a mesa fica dividida entre os que clicam e os que folheiam. E sinto-me de repente de outro século, de outros séculos, com uma enorme nostalgia de páginas húmidas, devoradas pelo tempo, manchadas, comidas pelos micróbios, enquanto a pessoinha à minha frente clica permanentemente num ecrã, lendo páginas que não lê, anotando a lápis num ecrã moderadamente limpo, procurando pilhas para continuar a poder ler o Tristram Shandy. Clicando, clicando. E eu folheando, folheando.

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12 comentários

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De Rodrigo Adão da Fonseca a 20.03.2009 às 08:23

Há depois os que clicam e folheiam, bichos raros esses :)
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De Fuschia a 20.03.2009 às 09:45

Além de que me cansa mais a vista ler em monitor, soa-me sempre a leitura mais transversal. Agora ler um livro LIVRO no ecran acho horrível! Sei que agora está na moda e inclusive já ouvi razões do tipo: "Podemos ter muitos livros sem ocupar espaço", mas o livro, se é novo tem cheiro de novo, se é velho tem o encanto de velho e nada como ter um livro na mala para ler em qualquer lado. Ah farta de monitores estou eu!
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De João Sousa a 20.03.2009 às 09:50

Se eu, enquanto leio num desses aparelhos, o deixo cair e se parte, vão-se duas ou três centenas de euros à vida. Se, pelo contrário, deixo cair o livro, fico talvez com uma capa vincada.

Além disso, imaginemos que eu estava na Faculdade de Letras a ler a "Recherche" num desses aparelhos e o meu irmão gémeo (se existisse) estava ao meu lado a ler a mesma coisa num livro. Qual de nós teria mais possibilidade de seduzir a miúda gira e menos de parecer um "geek"?
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De LUIS BARATA a 20.03.2009 às 10:46

Duvido muito que no futuro próximo os "kindles" e afins se tornem uma forma habitual de leitura. Por mim, prescindo deles. Agora e sempre.
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De João Gundersen a 20.03.2009 às 11:16

É a última fronteira. Passo para o digital em tudo; a música, os filmes, o jornal, as fotografias. Tudo. Mas os livros... E no entanto vai ser só uma questão de tempo.
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De henedina a 20.03.2009 às 11:46

Ler um livro on line é como cerveja sem álcool.
Ler literatura online só nos blogues.
Talvez seja o início do meu envelhecimento mas gosto de degustar. Sentir o cheiro do livro, passar a folha, encontrar o autor, perder-me e encontrar-me. Sentir. Sentir. E viver outra vida. Estar mesmo lá. Ouvir perfeitamente a música ou o ruído descrito no texto não as teclas, não o clique.

FJV anda muito futebol e "antiga senhora", agilize os seus neurónios. Só concordo plenamente com a sua paixão pelos livros. Tss!Tss!
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De Porno Vate a 20.03.2009 às 12:57

Concordo com a ambivalência.
Esta semana chegou-me o Prólogos Com um Prólogo dos Prólogos do JLB, ao reparar em bocados carcomidos pelo bicho, irritei-me, invejoso, gosto de ser eu a roer os meus próprios livros. Pelo outro lado, esse instrumento de discórdia e de leitura é uma máquina bem inventada, o ecrã fornece uma leitura igual à leitura em papel, sendo portátil e capaz de conter uma grande quantidade de livros, é isso de desdenhar?

Andar a apalpar lombadas tem os seus encantos, mas bom mesmo é o que está lá dentro, ou estamos a pôr os livros no mesmo domínio de consumo que as mulheres bonitas...?
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De henedina a 20.03.2009 às 14:14

O seu último paragrafo.Tss!Tss!
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De Porno Vate a 20.03.2009 às 14:57

Eu sei, Henedina!

Iria escrever algo ainda mais censurável, embora também verdadeiro (na perspectiva de um homem), e não inibo as más ideias quando as sinto genuínas...

Não espero que concorde com a ideia, mas ela existe no mundo, por muito condenável que seja para si.

Agora pergunto-lhe: acha errado consumir beleza (feminina e masculina, ou todas as variações possíveis), sendo que não há que exigir-se que esse consumo seja sexual?
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De essagora a 20.03.2009 às 14:04

Juro que não percebo esta nostalgia pelo livro objecto.

Eu adoro ler e ando sempre com um livro atrás de mim, pela trela (curta) para que não me fuja quando mais preciso dele. No entanto, tal como com as mulheres, aquilo de que eu mais gosto é o conteúdo e não o aspecto exterior. Claro que dá uma certa excitação passar a mão pelo lombo, cheirar, virar e revirar, mas quando se chega ao âmago da questão tudo isso passa a ser secundário.

É por isso que nunca quis saber muito de capas duras ou não, papel mais ou menos brilhante... o que me irritam são os erros tipográficos ou de tradução, a falta de talento do autor, os enredos com falhas, os desfechos apressados, etc, etc.

O que me impede neste momento de comprar um é parecerem-me demasiado caros para o conforto de leitura que permitem. Quando isso for ultrapassado, entro na carruagem.
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De Niet a 20.03.2009 às 17:46

" Tudo é bom quando é excessivo; Ver é acreditar; mas sentir é estar convicto ". Sade

Sabiam que D.A. Sade tem grande número de livros disponíveis na Net? Niet
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De Miucha a 20.03.2009 às 22:36

E o cheiro? Tem nuances: livro novo, livro húmido, livro com nódoa de ketchup, livro guardado e com pó (faz comichão no nariz), livro com areia da praia... digam o que disserem um livro é mais interactivo do que o elivro: corte no nó do dedo pela folha do livro novo, arma de arremesso quando há fúrias... e tem surpresas: postal de há 11 anos guardado dentro deste livro, recibo em escudos do lanche no Café Y, comentário datado na beira da página (que tola que eu era...). Um livro é um objecto que nos faz viajar no tempo: no dele e no nosso, e assim sucessivamente como um espelho em frente ao outro.

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