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Por exemplo: a algazarra contra a Dra. Margarida Moreira, directora-regional de Educação do Norte, a propósito da sua forma singular de escrever Português naqueles gentis ofícios que envia aos professores. Há ali um problema geral de sintaxe e de ortografia. Não se trata, creio eu, de um descuido ou de uma distracção pontuais -- depois de ver outros documentos, verifico tratar-se de uma repetida incompatibilidade entre a Sra. Directora e a Língua Portuguesa. É claro, dir-me-ão, que ninguém, só por ser funcionário superior de um órgão da administração pública, é obrigado a ser um Vieira, uma Marquesa de Alorna (que escrevia um Português de primeira), por aí fora; verdade. O problema, aqui, reside na repartição em que esse funcionário cumpre o horário, ocupa o lugar, preenche impressos, vigia os subordinados, emite ordens. Neste caso, trata-se da Direcção-Regional da Educação do Norte, vulgo DREN, ao qual respondem escolas, professores, alunos, encarregados de educação, pedagogos, terapeutas, técnicos de informática para o Magalhães, uma vasta lista de gente relacionada com educação. Ora, em casos destes o que deve o Ministério da Educação fazer? Avaliar. O que fez o ME? Nada. Encolheu os ombros, murmurou: «Lá estão os pândegos a malhar na DREN.» Do fundo do corredor, veio alguém e perguntou: «E que fez ela desta vez? Instaurou mais um processo disciplinar?» «Não. Escreveu uma carta.» Arrepio geral nos corredores da 5 de Outubro. A mesma voz de há pouco ouve-se de novo: «Mas foi coisa privada, não foi?» «Não, tu sabes, hoje em dia tudo vai parar à net.» «Isso é que não pode ser. Não se pode proibir?» «O aspecto que isso dava.» «Então vamos encolher os ombros.» E lá encolheram os ombros.
Acontece que não vale encolher os ombros. Se a ortografia e a sintaxe sofrem tratos de polé, o mínimo que os cidadãos munidos de dicionário e de gramática de Celso Cunha podem fazer é exigir que os altos quadros do Ministério da Educação, respeitem a norma. Não se lhes exija um soneto, um texto de antologia. Mas que as ordens sejam escritas em Português. E é lamentável que o ME encolha os ombros, como se não fosse nada com ele. Trata-se de Língua Portuguesa e trata-se do Ministério da Educação. Com que moralidade se exige à população escolar um mínimo de decência na prática do Português e se desculpam a uma funcionária do ME (e que funcionária!) erros de palmatória? Começa aqui uma campanha pela decência linguística. Onde estão os avaliadores quando precisamos deles?
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