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Ortogafia, sintaxe e algazarra. A Língua Portuguesa.

por FJV, em 26.02.09

 

Por exemplo: a algazarra contra a Dra. Margarida Moreira, directora-regional de Educação do Norte, a propósito da sua forma singular de escrever Português naqueles gentis ofícios que envia aos professores. Há ali um problema geral de sintaxe e de ortografia. Não se trata, creio eu, de um descuido ou de uma distracção pontuais -- depois de ver outros documentos, verifico tratar-se de uma repetida incompatibilidade entre a Sra. Directora e a Língua Portuguesa. É claro, dir-me-ão, que ninguém, só por ser funcionário superior de um órgão da administração pública, é obrigado a ser um Vieira, uma Marquesa de Alorna (que escrevia um Português de primeira), por aí fora; verdade. O problema, aqui, reside na repartição em que esse funcionário cumpre o horário, ocupa o lugar, preenche impressos, vigia os subordinados, emite ordens. Neste caso, trata-se da Direcção-Regional da Educação do Norte, vulgo DREN, ao qual respondem escolas, professores, alunos, encarregados de educação, pedagogos, terapeutas, técnicos de informática para o Magalhães, uma vasta lista de gente relacionada com educação. Ora, em casos destes o que deve o Ministério da Educação fazer? Avaliar. O que fez o ME? Nada. Encolheu os ombros, murmurou: «Lá estão os pândegos a malhar na DREN.» Do fundo do corredor, veio alguém e perguntou: «E que fez ela desta vez? Instaurou mais um processo disciplinar?» «Não. Escreveu uma carta.» Arrepio geral nos corredores da 5 de Outubro. A mesma voz de há pouco ouve-se de novo: «Mas foi coisa privada, não foi?» «Não, tu sabes, hoje em dia tudo vai parar à net.» «Isso é que não pode ser. Não se pode proibir?» «O aspecto que isso dava.» «Então vamos encolher os ombros.» E lá encolheram os ombros.

Acontece que não vale encolher os ombros. Se a ortografia e a sintaxe sofrem tratos de polé, o mínimo que os cidadãos munidos de dicionário e de gramática de Celso Cunha podem fazer é exigir que os altos quadros do Ministério da Educação, respeitem a norma. Não se lhes exija um soneto, um texto de antologia. Mas que as ordens sejam escritas em Português. E é lamentável que o ME encolha os ombros, como se não fosse nada com ele. Trata-se de Língua Portuguesa e trata-se do Ministério da Educação. Com que moralidade se exige à população escolar um mínimo de decência na prática do Português e se desculpam a uma funcionária do ME (e que funcionária!) erros de palmatória? Começa aqui uma campanha pela decência linguística. Onde estão os avaliadores quando precisamos deles?

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17 comentários

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De João Paulo Brito a 26.02.2009 às 11:36

Seria bem interessante acrescentar aos parâmetros de avaliação do SIADAP o domínio, tanto escrito como oral, da língua portuguesa.
Era bem possível que esta, esta...., esta coisa, que dirige a DREN bem como muitos outros invertebrados nomeados pelo PS levassem logo com um medíocre nas fuças.
Esta mulher precisa mesmo de um curso das Novas Oportunidades, mas para se ser um caciquezinho nojento e prepotente, enfim, para se ser uma amostra de nazi, não é preciso saber falar ou escrever português correctamente. Basta que se seja assim, estilo DREN, brutinha, ignorante e bem trauliteira. Um grande viva para a esquerda moderna!
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De Anónimo a 26.02.2009 às 16:56

Se escrever bem português fosse mérito para governar, com o Padre António Vieira como primeiro ministro teriamos simultaneamente deflação e 30% de crescimento ao ano. E com a Marquesa de Alorna como Ministra da Educação, teriamos 30 prémios nóbeis por ano. Isso de "escrever bem" está muito sobrevalorizado.

E o mais certo é não ter sido a directora a escrever o ofício, mas algum subordinado, para ela assinar, como é uso na função pública.

Pedro
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De Cristina GS a 27.02.2009 às 18:08

"E o mais certo é não ter sido a directora a escrever o ofício, mas algum subordinado, para ela assinar, como é uso na função pública."
Ainda que assim tenha sido, de duas uma: ou a Sra. não leu o que assinou e é grave, ou tendo lido não evidenciou grande competência para reconhecer os erros o que é igualmente grave.
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De J2P a 26.02.2009 às 17:58

Isto nem sequer tem a ver com a lei das probabilidades - é fatal como o destino.
Sempre que se conhece mais uma das muitas "broncas" do poder "sucia"lista,surge imediatamente um inefável e compreensivo colega de manjedoura a alvitrar "plausíveis" explicações e desculpas para o(a) quadrúpede em causa...
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De agent-provocateur a 26.02.2009 às 19:59

A senhora não sabe escrever. So What?
A senhora é educadora de infância: só tinha que ensinar os meninos a fazer puzzles e juntar cubos da Majora.
O posto que tem na nomenklatura ganhou-o com muito esforço: colando cartazes, dirigindo o sindicato, comendo croquetes e bolinhos de bacalhau (que lhe fizeram muito mal à cara, como se vê nos retratos), organizando estratégias noites a fio...
Não foi fácil, nem é para todos.
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De João a 26.02.2009 às 20:41

"Se a ortografia e a sintaxe sofrem tratos de polé, o mínimo que os cidadãos munidos de dicionário e de gramática de Celso Cunha podem fazer é exigir que os altos quadros do Ministério da Educação, respeitem a norma"

Permita-me uma pergunta: a segunda vírgula está "bem posta"?
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De Tira-nódoas a 27.02.2009 às 16:59

Ai, ai, ai, não está bem posta, coisa nenhuma!
No melhor pano cai a nódoa, que é o melhor elogio que se pode fazer ao FJV, ser um bom pano, ou nem isso, apenas o melhor pano, dependendo da companhia (o universo dos panos a considerar para a comparação), pode até nem ser grande elogio.
Vai um tira-nódoas?
Tautau no rabinho, Francisquinho, sempre com o dedinho apontadinho, sempre atento e exaltado, e uns pezinhos de barro assim frágeis...
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De Natália Pinto a 26.02.2009 às 20:50

Independentemente das mãos redactoras do documento em causa, o certo é que tem a assinatura digital da Dr.ª Margarida Moreira. Por isso, sobre ela recai a obrigação de responder por tudo quanto é emanado pela Direcção Regional de Educação do Norte. Não há desculpa possível.
Além disso, o tom coercivo utilizado é próprio de alguém que não se afirma nem pela sua competência, nem pela sua capacidade de serenar conflitos, de argumentar ou convencer. Prefere "malhar" nos subordinados. É preocupante pensar que, 35 anos após a instauração da democracia em Portugal, se estejam a adoptar, não só na educação como em outras tantas áreas, estratégias que lembram a repressão e a ditadura, contra as quais só se podia lutar na clandestinidade, sem rosto, ou no exílio.
Já não há decência por parte das pessoas responsáveis pelos destinos do nosso país, nem sequer dignidade, pois, se assim fosse, essa senhora ter-se-ia demitido de imediato, por vergonha, ou teria sido despedida, por notória incompetência.
Mas não admira: Margarida Moreira é mais uma flagrante variação da falta de competência e da incapacidade da equipa ministerial. Apenas espelha mediocridade.
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De Anónimo a 27.02.2009 às 10:12

Natália, a questão é exactamente essa: a prepotência da senhora directora. O resto, a conversa sobre o bom português, etc, não interessa grande coisa. sacanas e incompetentes a escrever bem há por aí aos montes.

Sobre a autoria da carta, é apenas uma precisão sobre a alegada forma de escrever da senhora de que fala o FJV. apenas isso. Não me interessa grande coisa que a senhora, pela sua mão, consiga escrever uma obra prima de sintaxe, semântica e pontuação.

Pedro
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De FJV a 27.02.2009 às 17:37

Como «não interessa grande coisa»??? Se não interessa grande coisa que um funcionário do ME escreva bem ou mal na sua Língua, então vou ali e já venho.
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De Natália a 27.02.2009 às 18:27

Sei que a nossa língua anda pelas ruas da amargura, mas discordo em absoluto, Pedro.
A língua portuguesa também é um aspecto importantíssimo a ser considerado nesta questão, por várias razões. Em primeiro lugar, Margarida Moreira é portuguesa e tem instrução, por isso é vergonhoso que redija daquela forma. Em segundo lugar, ocupa um lugar de responsabilidade no Ministério da Educação, devia ser um modelo a seguir, não a evitar. Em terceiro lugar, a forma de se exprimir é reveladora de um pensamento desordenado, sem profundidade, muito pobre. Qualquer pessoa comum que se candidate a um emprego num quadro superior tem de realizar provas que atestem a sua competência. As provas que M. M. tem prestado só indiciam um espírito obtuso incompatível com a área da educação. Em último lugar, dado que contribuo para o pagamento do seu ordenado através dos meus impostos, tenho o direito a exigir competência e qualidade.
Só deixaremos de ser um país pouco desenvolvido, quando mudarmos a nossa mentalidade, pusermos de lado a indiferença que explica a nossa "brandura de costumes" e reivindicarmos aquilo a que temos direito.
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De Manuel Anastácio a 27.02.2009 às 12:51

Pior (ou melhor) que a ortografia é o facto de lhe ter fugido a boca para a verdade, ao justificar uma imposição e um atropelo à autoridade de um órgão de gestão de uma escola (a autonomia das escolas existe apenas quando dá jeito aos de cima), com a necessidade da "socialização" das crianças. Ao menos, é politicamente transparente. Valha-nos isso.
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De Ana Martins a 27.02.2009 às 19:58

Como «não interessa grande coisa»??? Se não interessa grande coisa que um funcionário do ME escreva bem ou mal na sua Língua, então para que andam a fazer exames de Língua Portuguesa os alunos?
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De José Batista da Ascenção a 28.02.2009 às 13:04

Parabéns pelo seu escrito, FJV.
Eu, que sou professor, tenho vergonha do modo como se escreve nas escolas, nas estruturas do ME, e fora das escolas, naturalmente...
Por isso, acho muito importante que todos os funcionários do ME, a começar no topo da hierarquia, e abrangendo todos os professores, sejam sujeitos a uma prova de português, sem cruzinhas... Depois excluía-se quem tivesse que ser excluido, mesmo que fosse a maioria. O país ganharia com uma tal lavagem... Obviamente, ofereço-me para ser o primeiro a ser sujeito a tal prova. É que não se aguenta...
José Batista da Ascenção, professor do ensino secundário, Braga.
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De João a 06.03.2009 às 09:23

Na sequência do melhor pano e da nódoa, já agora corrija esta concordância:
"Neste caso, trata-se da Direcção-Regional da Educação do Norte, vulgo DREN, ao qual "

Isto não impede que eu concorde com tudo o que escreveu sobre a Sra. da DREN, mas... quando escrevemos textos a reclamar o respeito pela decência linguística, não podemos dar-nos ao luxo de dar erros de palmatória no uso das vírgulas e na concordância. Sobretudo um escritor laureado! É que ocupa um lugar de destaque, que lhe dá responsabilidade e visibilidade no uso da língua. É uma questão de pudor.
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De maria a 07.03.2009 às 20:27

purista..
E António Lobo Antunes, já para não falar de outros autores lusófonos?
Querer comparar vírgula a mais vírgula a menos com:
"Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável(..)"
é pura desonestidade.

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