Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



O Filipe joga em Coimbra e vai ganhar.

por FJV, em 09.12.08

 

Hoje, 9 de Dezembro, na Livraria Bertrand do C.C. Dolce Vita, em Coimbra, pelas 21.30h, vamos estar com o Filipe Nunes Vicente no lançamento do seu novo livro, Amor e Ódio (edição Quetzal). Paulo Mota Pinto apresenta.

 

Alguns textos do livro:

«Anos a fio a ouvir histórias de amores e é sempre a mesma coisa: elas querem tudo, eles só querem uma coisa. Se há um amor feminino, ele é uma mancha de óleo no mar do norte. Elas querem filhos, carinho, segurança, dinheiro, diversão. É um amor adulto, total, absoluto.
Se existe um amor masculino, ele enrola-se na posse. O corpo delas, evidentemente, mas também a cabeça. O ciúme masculino é sempre um adiantamento que a imaginação faz ao lençol. Mas esgota-se quando chega o novo catálogo. É um amor igual ao que as mulheres têm por um par de sapatos novos.»

 

«Ter prazer é o programa oficial para a família ocidental de hoje. É um bom programa, melhor até do que o anterior que assentava na cooperação e na reprodução. O problema é que é um programa curto. A maioria das pessoas divorcia-se porque deixa de ter prazer na convivência com o outro. Este desprazer pode advir da essência ou dos reflexos dos aromas ( jogo subterrâneo, recusa da humilhação, etc). Uma vez livre, a pessoa inicia outro projecto de prazer familiar. Tudo correcto. Subsiste, no entanto, um pequeno aroma a rolha na degustação. A antiga estabilidade da família , robusta e encorpada, desaparece para dar lugar a um arranjo molecular altamente volátil. Como ainda somos animais, transportaremos este hábito para o espaço social ( repetição, repetição, já dizia o Deleuze das longas unhas). Daqui decorre que em breve os alunos de sociologia substituirão a ladainha "o homem é um ser social" por outra mais tautológica: "o homem é um ser individual".»

 

«A crueldade pode portanto ser crime ou afecto, mas é sempre eficácia em movimento. A decisão, o ataque à garganta, a escolha do momento absolutamente certo. Pode ser própria do mais fraco, mas bem executada altera a correlação das forças. Clausewitz demonstra como Frederico II, em inferioridade numérica, ganhou a batalha de Leuthen: enviou o grosso das tropas ao coração dos austríacos. A crueldade é, frequentemente, o que em cada momento é necessário fazer, e o momento não se julga; quando muito, há-de julgar-nos.»

 

«Podemos falar da traição. Com ou sem casamento, hetero ou gay, cyborg ou simiesca, ela existe sempre. Menos nos leões. O leão assiste o seu pride e nunca é traído enquanto vive ( já não assiste ao saque do invasor); também nunca trai as sua fêmeas, só acasala com as mulheres do grupo. Um arranjo interessante. As leoas são livres da esperança que ainda infecta as mulheres obedientes: podia ser que ele mudasse, esperei que ele ficasse mais carinhoso. Tudo em troca do perdão que assegurou a unidade da célula. Um arranjo não menos interessante. Os poucos homens que perdoam não esperam nada a não ser o segredo e uma imaginação misericordiosa; os leões pagam com a vida.»

 

«Há mulheres que enquanto remodelam ou compram casa nova e familiar já pensam em deixar o marido. Tenho deparado com várias e fico sempre a olhar para elas. Extasiado. Como é que coabita naqueles cérebros a ideia de alargar o ninho e a vontade de despachar o providenciador de genes? A resposta é simples: aqueles cérebros são muito mais sofisticados do que os masculinos. Diante de um marido irremediavelmente bronco e sem conserto, elas apostam naquilo que ele lhes pode ( ainda) oferecer: ajuda para melhorar a caverna. Uma vez concluída a obra podem finalmente despachar o taralhouco. A cultura actual - subsistência garantida e sexo sem coacção - recuperou uma velha e paleolítica aspiração feminina: palerma, homens há muitos

 

«A morte nunca morre. O tempo encarrega-se da reanimação consecutiva. O amor morre com frequência: umas vezes à nascença, outras devido à seca extrema, com frequência levado na tempestade. A morte esconde-se em fotografias, nas janelas entaipadas, no nariz tantas vezes. Como não vive, não envelhece. Está sempre disponível, é forte, concreta e fiável. Fingimos que o amor nunca morre porque somos dados ao espiritismo.»

 

«Se a culpa fosse um animal seria uma hiena. Fisi ou m'Pisi tanto faz: chega de noite e come qualquer coisa. É longeva, a besta. Julgo mesmo que sobrevive às recordações dos episódios, pelo menos de forma mais intacta. Como todos os scavengers, a culpa é um agente ecológico. Não fosse ela e seríamos tentados a pensar que tudo aconteceu devido a uma sucessão de imponderáveis; não fosse ela e as sobras das nossas acções apodreceriam ao sol. Assim apodrecemos nós.»

Autoria e outros dados (tags, etc)


6 comentários

Sem imagem de perfil

De Rui Curado da Silva a 09.12.2008 às 01:21

Lá estarei cheio de curiosidade para ouvir o FNV.
Sem imagem de perfil

De FRNUMBER9 a 09.12.2008 às 01:24

Bem, só poderia ser quem é. Criativo, cheio de humor, uns outros quantos "supplies" fazem desta pessoa um bom professor, e por sinal, um bom escritor. De certeza que vou adquirir este livro.
Sem imagem de perfil

De ViriatoFCastro a 09.12.2008 às 02:32

É de Coimbra. Que mais dizer?
Sem imagem de perfil

De Henrik a 09.12.2008 às 23:39

Excelentes excertos. Muito cativantes de facto.
Sem imagem de perfil

De Isa_ a 10.12.2008 às 07:32

olá! n concordo c essa parte de considerar as mulheres basicas só pq desejam ter filhos.. há mulheres e mulheres.. a necessidade de um ser humano deixa de ser básica e começa a ser elevada a partir do momento em q a ela se dedica c clareza, certeza e uma quase sacralidade.. as mulheres, tal como os homens, por vezes querem ter tudo e n conseguem ter nada, precisamente pq tentam se suplantar da maneira errada: sonhando demais c aquilo q n sao.. qto a mim uma mulher foi feita primeiro q tudo p ser uma mae perfeita, a maternidade antes da procriaçao, o amor antes do prazer, a inteligencia antes da exigencia, a compreensao antes da acçao, desenvolver algum talento q adicione um extra ao seu ser, e n exigir daquele q ama mais do q ele pode dar.. n exigir demasiado..
eu quero ser mae, uma boa mae! os instintos existem p ser melhorados, lapidados.. mas n amputados.. temos mto a aprender c os indios, embora os chamemos "tribos", ao menos parece-me q compreendem o significado das palavras harmonia, beleza, respeito.. mas talvez seja dos genes..
Sem imagem de perfil

De nobigdeal a 16.12.2008 às 11:50

"O leão ... nunca trai as sua fêmeas, só acasala com as mulheres do grupo"

sei q me estou a fixar numa árvore em detrimento da floresta, mas esta afirmação não é verdadeira

Comentar post




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.