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Hoje, 9 de Dezembro, na Livraria Bertrand do C.C. Dolce Vita, em Coimbra, pelas 21.30h, vamos estar com o Filipe Nunes Vicente no lançamento do seu novo livro, Amor e Ódio (edição Quetzal). Paulo Mota Pinto apresenta.
Alguns textos do livro:
«Anos a fio a ouvir histórias de amores e é sempre a mesma coisa: elas querem tudo, eles só querem uma coisa. Se há um amor feminino, ele é uma mancha de óleo no mar do norte. Elas querem filhos, carinho, segurança, dinheiro, diversão. É um amor adulto, total, absoluto.
Se existe um amor masculino, ele enrola-se na posse. O corpo delas, evidentemente, mas também a cabeça. O ciúme masculino é sempre um adiantamento que a imaginação faz ao lençol. Mas esgota-se quando chega o novo catálogo. É um amor igual ao que as mulheres têm por um par de sapatos novos.»
«Ter prazer é o programa oficial para a família ocidental de hoje. É um bom programa, melhor até do que o anterior que assentava na cooperação e na reprodução. O problema é que é um programa curto. A maioria das pessoas divorcia-se porque deixa de ter prazer na convivência com o outro. Este desprazer pode advir da essência ou dos reflexos dos aromas ( jogo subterrâneo, recusa da humilhação, etc). Uma vez livre, a pessoa inicia outro projecto de prazer familiar. Tudo correcto. Subsiste, no entanto, um pequeno aroma a rolha na degustação. A antiga estabilidade da família , robusta e encorpada, desaparece para dar lugar a um arranjo molecular altamente volátil. Como ainda somos animais, transportaremos este hábito para o espaço social ( repetição, repetição, já dizia o Deleuze das longas unhas). Daqui decorre que em breve os alunos de sociologia substituirão a ladainha "o homem é um ser social" por outra mais tautológica: "o homem é um ser individual".»
«A crueldade pode portanto ser crime ou afecto, mas é sempre eficácia em movimento. A decisão, o ataque à garganta, a escolha do momento absolutamente certo. Pode ser própria do mais fraco, mas bem executada altera a correlação das forças. Clausewitz demonstra como Frederico II, em inferioridade numérica, ganhou a batalha de Leuthen: enviou o grosso das tropas ao coração dos austríacos. A crueldade é, frequentemente, o que em cada momento é necessário fazer, e o momento não se julga; quando muito, há-de julgar-nos.»
«Podemos falar da traição. Com ou sem casamento, hetero ou gay, cyborg ou simiesca, ela existe sempre. Menos nos leões. O leão assiste o seu pride e nunca é traído enquanto vive ( já não assiste ao saque do invasor); também nunca trai as sua fêmeas, só acasala com as mulheres do grupo. Um arranjo interessante. As leoas são livres da esperança que ainda infecta as mulheres obedientes: podia ser que ele mudasse, esperei que ele ficasse mais carinhoso. Tudo em troca do perdão que assegurou a unidade da célula. Um arranjo não menos interessante. Os poucos homens que perdoam não esperam nada a não ser o segredo e uma imaginação misericordiosa; os leões pagam com a vida.»
«Há mulheres que enquanto remodelam ou compram casa nova e familiar já pensam em deixar o marido. Tenho deparado com várias e fico sempre a olhar para elas. Extasiado. Como é que coabita naqueles cérebros a ideia de alargar o ninho e a vontade de despachar o providenciador de genes? A resposta é simples: aqueles cérebros são muito mais sofisticados do que os masculinos. Diante de um marido irremediavelmente bronco e sem conserto, elas apostam naquilo que ele lhes pode ( ainda) oferecer: ajuda para melhorar a caverna. Uma vez concluída a obra podem finalmente despachar o taralhouco. A cultura actual - subsistência garantida e sexo sem coacção - recuperou uma velha e paleolítica aspiração feminina: palerma, homens há muitos!»
«A morte nunca morre. O tempo encarrega-se da reanimação consecutiva. O amor morre com frequência: umas vezes à nascença, outras devido à seca extrema, com frequência levado na tempestade. A morte esconde-se em fotografias, nas janelas entaipadas, no nariz tantas vezes. Como não vive, não envelhece. Está sempre disponível, é forte, concreta e fiável. Fingimos que o amor nunca morre porque somos dados ao espiritismo.»
«Se a culpa fosse um animal seria uma hiena. Fisi ou m'Pisi tanto faz: chega de noite e come qualquer coisa. É longeva, a besta. Julgo mesmo que sobrevive às recordações dos episódios, pelo menos de forma mais intacta. Como todos os scavengers, a culpa é um agente ecológico. Não fosse ela e seríamos tentados a pensar que tudo aconteceu devido a uma sucessão de imponderáveis; não fosse ela e as sobras das nossas acções apodreceriam ao sol. Assim apodrecemos nós.»
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