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O Espírito das Leis.

por FJV, em 04.12.08

O que pede o Ministério da Educação? Que se cumpra a lei sobre “a avaliação”. Quem fez a lei? O governo e a sua maioria. A quem se dirige a lei? Aos professores. Os professores concordam com a lei? Não. É possível aplicar uma lei quando aqueles a quem ela se dirige não querem a sua aplicação? Não. Este imbróglio diz respeito a todas as leis, ou seja, ao “espírito das leis”, de que falava Montesquieu. Há quem pense que basta redigir uma lei para que a lei se cumpra; seria fácil, a um punhado de “pessoas esclarecidas”, passar um ano a produzir leis e três anos a mandar executá-las, fechando um ciclo eleitoral. Infelizmente, as leis dirigem-se a pessoas concretas que vivem em condições concretas, nem sempre as desejáveis. As “pessoas esclarecidas” às vezes não vêem isto.

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32 comentários

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De Bruno Vieira a 04.12.2008 às 17:59

Pois, tudo isso até é verdade, agora só falta responder a uma questão de fundo...
Mas comecemos por partes, fazendo um enquadramento da presente situação . Os professores pertencem a um grupo sócio/profissional que durante toda a sua carreira tiveram como únicos critérios de avaliação, o grau académico que obtido, acções de formação frequentadas e participação em actividades extracurriculares. A proposta do governo passa por uma avaliação ligada á sua actividade "core": Desempenho dos alunos e qualidade pedagógica.
Não se pode deixar de considerar que tendo em vista uma VERDADEIRA avaliação de qualquer funcionário em qualquer profissão, a aferição do sucesso no desempenho das suas funções se deve prender com os seus resultados funcionais...que eu saiba a função dos professores ainda é ensinar e não frequentar seminários ou tirar mestrados....é para isso que o povo português lhes direcciona uma parte dos seus impostos. Defender o contrário é o mesmo que dizer que a avaliação do FJV enquanto colunista não é feita pela qualidade dos seus escritos/nº de leitores que se interessam pelo que escreve, mas sim pelo número de livros que leu ou pelo número de prateleiras que tem em casa repletas de livros.
Outra questão em debate prendesse com a existência de quotas. Bom quanto a isto apenas me parece justo realçar que a excelência não é um valor estanque, mas que se apresenta como um elemento dinâmico face á media ou seja mesmo que o patamar de qualidade dos professores suba, engrossando o número de professores bons e muito bons isso apenas faz com que o que é exigido para se ser excelente também aumente. Defender o contrário é o mesmo que defender que devem existir 2 editores de jornais, 2 primeiros ministros apenas porque existem dois ou mais indivíduos com qualificações semelhantes para o poderem desempenhar. Teoria que levada ao extremo levaria a termos 10 directores de escola para cada professor (de preferência estagiário).
o Francisco diz que é impossível passar uma reforma contra uma classe inteira....e é claro que tem razão, mas apenas em parte julgo. O facto da classe dos professores ser contra não se prende com nenhuma demanda racionalista, mas apenas emocional, se quisermos uma questão de natureza humana. Se tivermos uma empresa em que a evolução na carreira (vulgo ordenado ao final do mês) era feita de forma cilíndrica e com factores de validação tão simpáticos quanto o número de seminários frequentados (mesmo que de beneficio organizacionais dúbios) e passarmos para uma evolução piramidal em que os resultados requerem um esforço diário, constante e de verificação analítica e concreta (em que só alguns ganham mais ao final do mês em vez de todos), parece-lhe estranho que os trabalhadores em causa sejam contra. Num prato da balança tudo para todos, do outro, tudo mas só para alguns (os melhores)...será tão estranha assim a posição dos professores?
As desculpas dos professores em relação a complexidade dos processos de avaliação, lembra-me os miúdo que não gostam de sopa, quando se queixam que esta ou está fria ou muito quente ou estragada....quando todos na verdade sabemos que eles não gostam é de sopa.
O nosso problema é que mimámos de mais as nossas crianças.
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De juliamar a 04.12.2008 às 19:01

É evidente que o caro Bruno Vieira não sabe do que fala. Os professores gostam de sopa e não estão contra esta avaliação por birra.
Mas diga-me, não lhe parece estranho que depois de meses de contestação a Sr.ª Ministra tenha finalmente assumido em directo na televisão (pode rever a entrevista conduzida pela Judite de Sousa) que este modelo de avaliação contém "erros técnicos", obriga a um "trabalho sem sentido" e é demasiado burocrático"?
A sorte deste ministério é que ainda tem professores sérios e empenhados a trabalhar e que põem o interesse dos alunos acima de tudo. Em qualquer empresa - já que gosta tanto de comparações - uma equipa de trabalho que tivesse produzido documentos com erros técnicos há muito que estaria despedida...
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De Afonso Roque a 04.12.2008 às 22:31

Falar as coisas a sério é assim: Voçês 'falavam' é se vivessem num regime de comunas da merda! Vai para Cuba e faz greves. Deixas de ser Professor e passas a engraxar sapatos. Se souberes cantar boleros, podes ter sorte em cruzar-te com o Ry Cooder e depois cantas no Buena Vista Social Club. Até lá cuida-te!
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De jccatarino a 05.12.2008 às 15:23

Permita três observações rápidas: (i) há muito que a principal função dos professores não é ensinar - se duvida, leia as orientações e os documentos do ME; (ii) sobre a frequência de mestrados, etc., lembro Eça: "para ensinar só é precisa uma formalidadezinha: saber o que se ensina"; (iii) na educação, os resultados levam, pelo menos, uma geração a manifestarem-se.
Quanto ao resto, a discussão seria longa e fastidiosa, o que seria também deselegante em blogue alheio.

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