Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Estatísticas.

por FJV, em 21.08.08

Em Portugal as estatísticas não são números e sim pretextos. Talvez por isso não tenhamos estatísticas fiáveis; as da criminalidade, então, não existem – porque Portugal é terra de paz e melros nas oliveiras. O responsável de um observatório resolveu o assunto dizendo que a criminalidade não aumentou; o que aumentou, sim, foi a ‘cultura da violência’. Ora, alguns dos ‘bairros sociais’ são zonas abandonadas à criminalidade que está acima da lei e já controla as ruas. Os desprotegidos não podem recorrer à violência e não têm para onde ir; enquanto os sociólogos discutem se existe ou não criminalidade, famílias condenadas ao subúrbio vêem os filhos serem assaltados. Ou assaltarem. Eles sabem que não há ‘pequena criminalidade’ e que cada ‘pequeno crime’ é uma afronta à sua honra.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

Autoria e outros dados (tags, etc)


5 comentários

Sem imagem de perfil

De Rui Curado da Silva a 22.08.2008 às 00:46

Caro Francisco,

com tristeza vejo Portugal a caminhar para a italianização da histeria criminal. As principais TVs são uma merda e a facada e o tiro é a única coisa que atrai publicidade a assinaturas de telemóveis e a contas bancárias.
Eu viajo pelos dois países há anos e constato várias semelhanças: sinto as ruas dos dois países bem mais seguras do que há 10 anos atrás (não ando de Jaguar, não resido em casas com criados, não durmo em hotéis de 5 estrelas, e em 93 acordei às 3 da manhã ao som de uma potente bomba que explodiu perto da minha residência em Pádua), nas TV's de ambos os países a criminalidade está a "aumentar" (tiros, ciganos, facadas, assaltos, ciganos, violência, ciganos é o principal conteúdo dos jornais) e o nível educacional dos dois países é baixo (Portugal o pior da Europa) o que justifica alguma dificuldade com estatísticas.

Eu pergunto-lhe agora o seguinte: qual é a estatística que tem mais credibilidade é a do INE ou é a da SIC, ou já agora da TVI, do 24 Horas ou do Correio da Manhã (não leio o CM, mas leio com prazer a Origem das Espécies)?

PS- E que tal aquela pale ale do Havai? ;)
Imagem de perfil

De FJV a 22.08.2008 às 01:44

Caro Rui, como vivi no Brasil durante um tempo, sei relativizar e pôr no seu lugar as notícias dos jornais. Precisamente o que eu acho é que devemos acreditar nas estatísticas, embora toda a gente esteja a torpedeá-las. De resto, veja-se http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1339891&idCanal=62
Quanto ao tema do post, penso que se mantém o que eu digo: geralmente despreza-se a «pequena criminalidade» porque ela não atinge os «poderosos» ou quem tem acesso aos média. Pergunte a quem vive nesses bairros problemáticos o que pensa do «pequeno crime»... Gente humilde, submetida diariamente à violência dos gangs ou apenas dos grupos de fedelhos organizados, e que nunca sabe se, quando voltam para casa, ao fim de um dia de trabalho, a encontram intacta -- ou vandalizada. Gente que não pode deixar os filhos sair à rua, porque tem medo que sejam assaltados ou que comecem a roubar. A ligeireza com que se despreza a «pequena criminalidade» é assustadora, porque é essa que atinge as pessoas mais directamente; não as que andam de Jaguar, mas as que andam a pé e têm de esperar pelo autocarro numa paragem deserta e estão sujeitos a assaltos, ameaças ou violência.

PS - Sabe, quanto à pale ale havaiana... Ainda não a bebi. Estou à espera de um grande momento, porque ela merece.
Sem imagem de perfil

De Rui Curado da Silva a 23.08.2008 às 23:01

Caro Francisco,

compreendo e partilho as suas preocupações sobre as pessoas que vivem em bairros onde o estado de direito não é respeitado, sei bem o que isso é. Tal como o Francisco, conheço uma realidade terrível s das cités francesas. Entre 98 e 2002 estive a fazer o meu doutoramento em Estrasburgo. O meu laboratório do CNRS ficava no meu de uma cité, chamavam-lhe a cité nucléaire por causa do laboratório. Não foram quatro anos descontraídos. Andei à porrada (pontapé, chapada e murro a sério) por três vezes, na passagem de ano deixava o carro a um colega de Moulhouse, porque eram queimados dezenas de carros na noite de passagem de ano no meu bairro. Vi Le Pen a ir à segunda volta com os votos da maioria dos meus vizinhos. É justamente por conhecer essa realidade que acho que tanto em Portugal como em Itália existe um clima de histeria injustificado. O crime está a mudar, como já aconteceu no resto da Europa, é mais violento, mais tecnológico, mas não está a aumentar como o demonstram as estatísticas, tanto em Portugal e ainda mais evidente em Itália. Quando estudei em Pádua em 93/94, explodiam bombas regularmente e as máfias controlavam como nunca a política. A Itália de hoje persegue os ciganos, coloca militares de metralhadora nas ruas de Roma (nunca tiveram tomates para o fazer em Palermo ou em Nápoles) e dá uma imagem miserável a toda a Europa. Nós temos dois ou três bairros problemáticos, temos que tratar deles e aí concordamos, em França vi bem o que acontecia quando se ignorava o crime, mas estamos a anos-luz da França ou do Brasil. O que me irrita mais é que temos criminalidade bem mais específica do nosso país e ninguém se importa muito (não dá audiência na TVI): 39 mulheres assassinadas em casa pelos maridos/namorados desde o início do ano e uma gigantesca fraude de depósitos em paraísos fiscais, que provocam indirectamente desemprego e miséria, coisas que não são fotogénicas...
Sem imagem de perfil

De Edgar Lopes a 22.08.2008 às 18:41

Mas afinal sempre há crime em Portugal ?...Bem, então temos mesmo que pensar em formar Dr.(s) Juízes ou criar um sistema de Justiça,...bem pensando melhor devíamos começar pelos jornalistas, sempre fica mais barato e não se mexe em tanta cadeira....ocupada.
Sem imagem de perfil

De roger a 22.08.2008 às 23:32

estive agora em itália e aproveito para dizer 2 coisas a propósito do cotejo com Portugal: 2 liceus de Roma-( o Enstein e um outro ) resolveram atribuir € 90 e €200 euros, dos seus orçamentos, aos alunos com melhores notas. Cá quanto vai ser? Ah, e a verba só pode ser utilizada em despesas culturais, livros, teatro, etc, já me esquecia...2ª coisa: o P.M. italiano tem problemas com a Justiça e atribui-se-lhe a intenção de fazer aprovar uma lei que lhe dê imunidade enquanto P.M. ; os jornais fazem disto um grande escândalo ( e eu até acho que é) mas , pelos menos os jornalistas portugueses- e comentadores e bloggers deveriam consultar a C.R.P. e lá leriam que o nosso P.R, , por ex, também só responde por crimes praticados fora do exercício das suas funções, depois de terminado o mandato...

Comentar post




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.