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Choque tecnológico.

por FJV, em 18.07.08

Há dias, o ministro da Cultura prometeu que iria digitalizar todo o espólio de Jorge de Sena para que fique “ao alcance de todos os portugueses”. Há semelhantes propostas em relação ao espólio de Fernando Pessoa, evidentemente. Em breve alguém prometerá a digitalização do espólio de Teixeira de Pascoaes, de Vitorino Nemésio ou de Vergílio Ferreira. A febre digitalizadora promete ser democrática e vital para a cultura portuguesa – mas não é. Na verdade, Sena continua a ser ignorado enquanto autor impresso e Pascoaes, Nemésio ou Vergílio afastados da escola secundária. O ‘choque tecnológico’ pode disponibilizar os papéis dos escritores, antes apenas acessíveis aos investigadores e estudiosos – mas não providencia nem mais leitores nem mais leitura. É a tentação dos novos-ricos.

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22 comentários

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De Henrique a 19.07.2008 às 17:51

Nem de propósito! Tenho 25 anos, formado em filosofia e a preparar mestrado em literatura africana. Há mais de dois anos que envio e-mails para a editora responsável pela última edição (conhecida por mim) para por obséquio divino (começa a parecer-me religioso) voltar a publicar o 'Sinais de Fogo' do Sena. Quanto a mim um dos melhores livros escritos na nossa língua. Não há meio de se publicar Sena. Percorre-se alfarrabistas e com sorte lá encontramos outras obras mas não essa. Com Aquilino o ridículo é maior: panteão nacional mais do que merecido, porém quando peço um dos seus livros fundamentais 'Andam Faunos pelos Bosques' obra para mim mais do que desejada, preencheu o meu imaginário de adolescente: esgotado, respondem-nos. De que serve digitalizar algo que não se publica em papel? se não se promove a nossa literatura, as digitalizações apenas promovem uma energúmena falta de respeito. Querem choque tecnológico, mas esquecem-se que não há choque tecnológico que substitua a linguagem fonte de todos os mal-entendidos (como Saint-Éxupery afirmou) mas também a principal (já nem digo a única porque parece-me que o governo não comunica por palavras e a sua linguagem deve ser só zeros e uns). Entristece-me uma coisa que podia ser facilmente resolvida e muito bem recebida.
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De Mónica a 20.07.2008 às 10:16

o Sinais de Fogo saiu há relativamente pouco tempo (2, 3 anos) numa colecção de Público (letras um bocadinho minúsculas demais, mas impresso).

quanto ao secundário, não sei se valerá a pena meterem mais autores nos programas para depois os tratarem como tratam. eu, que gosto de ler, que sou fan de V Ferreira e de Saramago, tentei há tempos ajudar alguém com o Porttugês de 12º e é intragável a forma como se fala daqueles livros e daqueles autores. transformam-nos numa coisa técnica, com uma terminologia própria a que a sua escrita é absolutamente estranha. talvez seja o que a Isabela dizia: é preciso menos Português e mais Literatura. precisamos de mais clubes dos poetas mortos. de mais gente que ame a escrita e os livros porque essa é uma paixão infecto-contagiosa.
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De Henrique a 21.07.2008 às 16:27

Sim, também foi publicado pela caminho pela mesma altura. Isso não significa de modo algum que seja suficiente, dado que não é acessível actualmente, e porque essas edições só revelam um desprezo das editoras pelo autor. Nada que não se saiba há bastantes anos.
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De Cátia a 28.07.2008 às 17:49

Adquiri "Sinais de Fogo" (Jorge de Sena) o ano passado, durante uma visita a uma livraria. Estava num expositor com vários livros de autores portugueses e estrangeiros a preços acessíveis (edições ASA). A edição que adquiri é a 9.ª edição e data de 2001.
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De JRV a 19.07.2008 às 23:21

Sim,´de facto parece contraditório. E se calhar é...
De qualquer modo, se numa presente fase a digitalização ainda é uma realidade de novos ricos, não tenhamos dúvidas que em breve deixará de o ser.
Não querendo entrar em clichês, a transição do papel para o digital é algo que deve ser progressivamente feito. Há muito a ganhar com isso. Se não a curto, pelo menos a médio prazo em termos de facilidade no acesso ao conhecimento.
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De Vicente a 29.07.2008 às 12:01

''Alguém'' disse que um livro só existe quando o abre e começa a ler.. de resto não passa disso mesmo, o resto!

http://purl.pt/index/geral/PT/index.html Graças a Deus que existe a digitalização. Não desprezando o suporte original dos livros, que eu tanto prezo e amo, mas sem ela não vejo outra forma, estando eu em Coimbra e a Revista Orpheu em Lisboa (e dela não existirem cópias, Re-edições), ter acesso a esta senão indo à B-ON e ''saca-la'' de lá.

Aconselho vivamente a que o façam porque o Amadeo e o Santa-Rita ''partem tudo'' !

Estudante de Ciência da Informação, Arquivística e Biblioteconomia

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