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O córtex.

por FJV, em 22.06.08

No futebol, a Natalie Wood volta sempre ou por que razão Pacheco Pereira fala de futebol com o lado errado do cérebro. A crónica de Ferreira Fernandes no DN de hoje.

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6 comentários

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De Joaquim Lucas a 22.06.2008 às 12:58

Ainda me dói bastante o futebol. Fico feliz por saber que este 'post' não é sobre futebol.
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De C a 22.06.2008 às 13:22

Eu devo ter algum desvio no cortex porque faço , quase sempre, uma leitura diferente. Analisar o futebol sem os ímpetos do hipotálamo é muito mais tranquilo, menos agressor - porque não induz tanto o enfarte, o avc e toda aquela conspiração cardio respiratória que nos devolve os homens (amigos, maridos, filhos, namorados) com aquele ar esgazeado, fumarento, aflito e sem chama (dragões??) de homem em dia de derrota. Qual Nathalie Wood! Perante tais momentos, só mesmo o cortex é que a vê ou recorda. Quando há vitória, ora bom, uns Leões, não no sentido sportinguista do termo; antes na plena assumpção de rei da selva. Eu até gosto do meu Benfica (com o cortex), senão estava bem aviada, com os voos rasos que tem feito. A selecção, pois, a elite. Estamos sempre quase. Isto até me faz lembrar uma outra história, não sei bem se é do cortex se do hipotálamo. Beijinhos FJV
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De Quando Pacheco Pereira não convém... a 22.06.2008 às 18:00

16.12.07

11:24 (JPP)
O "MEIO"

Eu li o livro de Carolina Salgado com atenção e não devo ter sido o único. Pelos vistos, as polícias também o leram. Não vi ainda o filme feito a partir do livro, em que cada personagem fictícia é colada à personagem real. O Correio da Manhã fez até uma interessante página central em que para cada personagem do filme lá estava a figura real, a família Salgado, Pinto da Costa, o ex-presidente do Conselho de Arbitragem, o vereador de Gondomar que foi espancado, o major, os advogados, os médicos, os empresários do futebol à volta do clube, o líder da claque do FCP, Joaquim Oliveira, o patrão da Olivedesportos, tudo e todos num filme chamado Corrupção. Se os incomoda a figuração e o retrato não sei, o que sei é que é tudo público e conhecido com mais ou menos verosimilhança e ficção, e o retrato é aquele. E das duas uma: ou aquilo é para tomar a sério ou é de faz-de-conta. Parece que é de faz-de-conta.

Eu li o livro de Carolina Salgado com interesse, não pela absoluta veracidade do que lá vem, que cabe às polícias julgar, não pelos motivos dúbios da autora, não pela mão que possa haver de outrem na sua execução, mas sim pelo que ele comporta de descrição perfeita, psicológica, antropológica e sociológica de um "meio" que muitos conhecem mas preferem ignorar, ou por complacência, ou por cumplicidade, ou apenas por medo, puro e simples medo. E se o livro de Carolina Salgado acrescenta o detalhe dos actos individuais vistos de dentro, aquelas fabulosas histórias dos chocolatinhos aos árbitros, esse mesmo "meio" está retratado também nas escutas telefónicas do Apito Dourado, nos mil e um incidentes que envolvem a claque do Futebol Clube do Porto (seria bom conhecer os relatórios policiais e do SIS sobre a perigosidade desta claque), nas violências públicas diversas semeadas ao longo dos últimos 20 anos e que só têm em comum permanecerem impunes. Toda a gente sabe, vem nos jornais, é público, nada acontece. Há demasiado faz-de-conta para ser natural. Tem que haver cumplicidades.

Os incidentes naquilo que eufemisticamente se tem chamado a "noite do Porto" não estão longe deste "meio". Muitas personagens são comuns, muitos sítios são comuns, há fotos e circunstâncias comuns, amizades, companhias, más companhias, jantares, carros e seguranças. O relatório confidencial da PSP sobre a escalada de ajustes de contas entre grupos violentos que o Correio da Manhã publicou esta semana é um retrato preocupante não só sobre o que se está a passar, com o seu rasto de assassinatos, mas também da inacção das autoridades que, sabendo, nada fizeram, mesmo quando as vítimas as informaram das ameaças de morte, entretanto executadas sem dificuldade. As testemunhas calam-se com medo. É à luz destes factos que se devem entender as palavras de Mourinho quando veio ao Porto com seguranças e, perguntado sobre porque é que o fazia, respondeu: "Quando vou a Palermo tenho de tomar cuidado." O special one sabia do que estava a falar.

Pode-se dizer que faço uma amálgama indevida entre casos distintos que só têm em comum a ilegalidade dos actos? Significa isso que eu defendo que há uma causalidade de mando entre A e B? Só por má-fé e para confundir as coisas é que tal se pode afirmar. O que eu digo e repito é que há um "meio" muito pouco saudável no Porto, que se tem vindo a criar nos últimos 20 anos, que goza de consideráveis cumplicidades e complacências, policiais e políticas, no PS e no PSD, onde tudo acontece e parece que nada acontece, e que, quando se diz aquilo que é uma evidência, cai o Carmo e a Trindade.
Devia ter acrescentado jornalísticas, mas foi esquecimento. Fica aqui rectificado.
Não os meto no mesmo saco de responsabilidades criminosas como é óbvio, não digo que A foi mandante de B num crime determinado, nem nada que se pareça, nem confundo as instituições, nem o clube, nem a cidade, com os homens que se servem delas ou do seu nome. Apenas digo que o "meio" é comum e comunicante e que as sementes de violência, as protecções e cumplicidades, os serviços e os "servicinhos" não são estanques. A "noite do Porto" tem o seu dia. E digo mais: para atacar uma coisa tem de se atacar a outra e é preciso livrar o Porto dessa doença que lavra no seu seio. Só não vê quem não quer ver ou quem, vendo, tem...
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De Anónimo a 22.06.2008 às 18:03

medo de ver.

É um "meio" que só exista no Porto? Outros "meios" existem em Lisboa, no Algarve, nos subúrbios de Lisboa, nalguns casos com diferentes níveis de perigosidade e com outro tipo de ligações políticas, com problemas étnicos diferentes, mas, em nenhum outro sítio, se associou ao nome da cidade, ou o nome de um clube, a um mesmo grupo de personagens, a um mesmo milieu, a melhor palavra para designar o ambiente miasmático em que tudo se passa.

Numa também típica reacção "italiana" - os mafiosos dos Sopranos quando são perseguidos pelos seus crimes respondem que se trata de uma perseguição aos italo-americanos -, levantam-se vozes indignadas a defender, imaginem, o Porto e o FCP "nojentamente" atacados por mim. Um deles escreve que "crimes como estes não são fáceis de explicar, as suas razões profundas são difíceis de entender. Fácil, fácil, é dizer que a culpa é do FC Porto", o que como é óbvio ninguém disse, e outro escreve esta pérola: "De Pacheco Pereira podemos esperar tudo, desde que vivamos na Área Metropolitana do Porto." As mais sinistras intenções me são atribuídas e as ameaças veladas ou às claras abundam. As mesmas pessoas que em público dizem que nada disto existe e que estou a exagerar, dizem-me depois em privado para ter cuidado, muito cuidado.
Os artigos citados são de David Pontes no Jornal de Notícias e de Manuel Tavares no Jogo, os dois de 14 de Dezembro de 2007. Ambos se inserem numa campanha de ódio ad hominem, sendo que a desonestidade e falsidade do primeiro, escrito por um responsável do jornal de que José Saraiva foi director, intitulado "As costas largas do FC do Porto", representa uma deturpação deliberada destinada a acirrar a violência cujos ecos se encontram aqui entre insultos e apelos à agressão física.
Os jornais do Porto e alguns desportivos, cujo papel na denúncia deste tipo de "meios" é escassa para não dizer nula, mesmo quando agressões violentas a jornalistas os deveriam ter obrigado a um sobressalto moral, fazem assim um péssimo serviço à cidade e aos seus valores. Deveriam lembrar-se do rol das agressões a jornalistas que se estende desde o final dos anos 80 até aos dias de hoje e em que os jornalistas desportivos têm um lugar de honra, mas não só. Carlos Pinhão, Eugénio Queirós, João Freitas, Manuela Freitas, Marinho Neves, Paulo Martins, entre outros, a que se associa José Saraiva, militante do PS e director durante muitos anos do Jornal de Notícias, já falecido, conheceram o "meio" na prática.
"20.11.1988 – Em Aveiro, Carlos Pinhão de A BOLA foi agredido no final de Beira Mar-Fcporto. O MP não acompanhou a queixa por falta de provas. No mesmo dia, Martins Morim, do mesmo jornal quando abandonava o estádio foi empurrado por um grupo de indivíduos entre os quais identificou Tonio Maluco. O guarda Abel disse aos jornalistas que “era melhor do que cair por uma ribanceira” (...)
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De O lado errado do cérebro...Pois. a 22.06.2008 às 18:04


(...)
O mais espantoso é que muitos deles nunca apresentaram queixa, outros nunca souberam o resultado das suas queixas, e mesmo quando as agressões são públicas, não se passa nada. Nunca se passa nada e nunca ninguém quer ver. E quando se fala do que está à vista de toda a gente, é uma conspiração "lisboeta", "benfiquista", contra o Porto, o Norte e o FCP e os tambores do ressentimento regionalista rufam contra os "mouros". Têm pouca sorte comigo, porque menos "mouro" que eu é difícil.

De poucas coisas gosto mais do que do Porto, a minha terra. Vou para lá e, ao fim de meio dia, já troco os "vês" pelos "bês". Os meus lugares são a D. João IV, Santos Pousada, o Padrão, a Batalha, o jardim de S. Lázaro, o Marquês, o Liceu Alexandre Herculano, os Leões, o Piolho, a Sé (onde nasci), a Ribeira, a Foz, a Circunvalação, e a memória, infelizmente só a memória por que o estão a estragar, do Cabedelo visto do Porto. É lá que quero ter as minhas cinzas deitadas, onde o Douro, o único rio a sério em Portugal, entra pelo Atlântico, com fúria. E também, imaginem, o "meu" clube, na forma mínima como me dou com o futebol, é o Futebol Clube do Porto...

Só lá me sinto inteiro, sem heimatlos. E é exactamente por isso que a doença que grassa já há uns anos na minha terra me preocupa e não me cala. Não foi "Lisboa" que a inventou, foram portuenses que a fizeram e que a mantêm com todos os maus argumentos e com a única lógica que conhecem, a do poder e a do dinheiro, com a mesma dimensão do Bada Bing. Tenho a veleidade de considerar que, falando desta doença e destes "meios", sirvo melhor a minha terra, o Porto.

(No Público de 16 de Dezembro de 2007)
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De Anónima a 24.06.2008 às 16:46

Fantástico, a representação fiel do que é sentir futebol... nos meandros só trocava a Natalie Wood pelo Warren Beatty, convenhamos.

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