Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



A senhora Condessa.

por FJV, em 19.06.08

Cansado e com insónias, redescubro sempre os livros que me tranquilizam. Ontem foi Os Maias de novo. A velha escola explica o fascínio pelo livro: os personagens, os diálogos, as cenas, o fio da navalha. Podia ser A Grande Arte ou O Monte dos Vendavais (redescobri a velha edição Romano Torres, cheia de anacronismos) enquanto espero que a Antígona faça a reedição do Tristram Shandy num só volume. Podia ser A Cidade e as Serras, que me ilumina e reconforta muito mais. Ou Memórias Póstumas de Brás Cubas, que chama pelo riso. E, ao voltar as páginas, elogio sempre a senhora Condessa de Gouvarinho. Tenho por ela uma secreta admiração; é uma personagem injustiçada pelo machismo de Eça. Na verdade, destinada a distrair Carlos da Maia do seu tédio mortal (mas é ela que toma a dianteira, que decide, que seduz), a senhora Condessa dava, por si só, um romance, arrastando aquele perfume de verbena, os vabelos ruivos, a vontade de trair e de ir expiar os seus pecados à igreja de Santos. Ela e Craft, à distância, com a música de Cruges em fundo, podiam ser dois personagens fatais. Na verdade, são dois personagens fatais.

Autoria e outros dados (tags, etc)


4 comentários

Sem imagem de perfil

De henedina a 20.06.2008 às 02:37

Os Maias e outros livros ao serem relidos parece que a vida decorre mais devagarinho. São como o rumorejar das folhas pelo vento. São como a luz da lua cheia a iluminar um cantinho da nossa vida. Não há nada na vida tão íntimo, tão nosso, tão único como esta satisfação plena de emergir num livro e nos perdermos.
E o tamanho dos Maias tb ajuda lembro-me de pensar que ainda tinha folhas e folhas de puro prazer.
E quando se lê a primeira vez perdermo-nos na acção, quando relemos importamo-nos em saborear, e a pequena coisa, o detalhe é que é importante.
Tb serve para a vida. As vezes ando tão cheia de coisas que me perco do essencial, tb na vida tenho que amadurecer para dar importância não a acção mas ao detalhe.
E quando estou triste meço a minha tristeza pela capacidade de um livro me fazer esquecer tudo. Se não fizer esquecer, é grave.

Comentar post




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.