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Feira do Livro, um passeio.

por FJV, em 01.06.08

 

Gosto da Feira do Livro com as barraquinhas. Gosto de ir lá à tarde e de encontrar amigos, gente que não vejo há muito tempo, trocar «notícias» por «notícias». Gosto de ir às barraquinhas de livros velhos, stocks, obras completas de Mao, Escritos Escolhidos de Lenine, A Cozinheira Ideal ou os John Le Carré em hardcover. Gosto de comprar Rex Stouts repetidos. Não gosto de novidades na Feira; prefiro livros de há anos, são esses os que procuro, os que perdi e que quero repor na estante. Gosto de comprar livros por 1€, 3€, 5€. Gosto de encontrar amigos a dar autógrafos e de ir para as filas pedir-lhos. Gosto de churros com chocolate (este ano estão a 2€, o que é um assalto). Gosto das cores das barraquinhas. Gosto dos grupos que se sentam ao sol, na relva do Parque. Gosto de encontrar editores que vão sempre à Feira. Gosto de gente que atravessa a Feira assinalando títulos nos catálogos. Gosto da Feira com ar saudável e relativamente anárquico, com cadeirinhas na calçada onde autores se sentam perto de quem passa, com ar desprotegido (por isso é que se reconhece um editor; é ele que está , ao lado, a fazer companhia). Gosto de ir à Assírio & Alvim perguntar se tem o Equador. Gosto da Feira com sol, gosto quando chove. Gosto quando o MJM me telefona a dizer que encontrou um livro meu com uma fotografia que nem vista se acredita. Gosto das sacolas pretas da Tinta-da-China e de ficar por ali. Gosto das cores da Oficina do Livro. Gosto de ir à Guimarães Editores, à Relógio d'Água ou às bancas da Vampiro. Sinto-me um provinciano feliz que está onde quis ir. À Feira.

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18 comentários

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De ViriatoFCastro a 01.06.2008 às 02:06

Acho que não poderia concordar mais consigo FJV. A minha feira do livro costuma ser mais na Lusa Atenas, sempre que a decidem fazer na Praça da República. E apenas lá, sinto um prazer enorme em gastar dinheiro em raridades ou naqueles outros livros que já não vou encontrando nas livrarias. Kerouac e Kundera, dois de muitos outros que deram de caras comigo e que não resisti a trazer para casa, porque estavam, ali, ao alcance da minha mão e, ainda por cima, com bom desconto.
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De Ortotó a 01.06.2008 às 22:41

Olha o castrotó!
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De ViriatoFCastro a 01.06.2008 às 22:54

Como em qualquer feira, parece-me, apenas me parece, que nem os macacos podiam faltar.
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De Ortotó a 01.06.2008 às 23:00

Aparências, aparências e considerações sobre aparências. E uma confissão. Bravo. Eu não seria capaz de tanto.

E toda uma diabética dialéctica.

O, ó.
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De Ortotó a 01.06.2008 às 23:01

Aparências, aparências e considerações sobre aparências. E uma confissão. Bravo. Eu não seria capaz de tanto.

E toda uma diabética dialéctica.

O, ó.
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De Manuel Antunes a 01.06.2008 às 03:08

E então agora que descobriu que o PTP é do seu FCP deves adorar a Guimarães, não?
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De Regras de boxe a 01.06.2008 às 22:28

Golpe baixo, falta, para trás.
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De Rui Almeida a 01.06.2008 às 10:13

Não fala do stand de Cabo Verde?
No primeiro dia tinha lá 3 exemplares do "Exemplo coevo" de João Vário.
(foi a 2ª vez q eu vi livros de JV à venda - a 1ª foi o ano passado num alfarrabista do Porto)
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De Cristina GS a 01.06.2008 às 14:23

Nem mais, é isso mesmo, ir à feira ;-)
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De Laura a 01.06.2008 às 15:30

Ir à feira, pois.
Então se gostam, têm de convener o António Costa a dar um local para fazerem um Mercado das Pulgas. A Feira da Ladra não chega.
Todas as cidades grandes têm a nostalgia das feiras, que são uma espécie de "hortas" do consumo urbano:)
Passada a fase do deslumbramento e depois a da euforia dos lugares da moda, quando vivi em Paris fiquei viciada no Marché aux Puces.
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De Margarida Balseiro Lopes a 01.06.2008 às 19:11

Tenho 18 anos e vim agora estudar para Lisboa. Fui, por isso, pela primeira vez à Feira do Livro.

Revejo-me integralmente nas suas palavras. As pequenas editoras, aqueles livros cuja edição remonta às primeiras décadas do século XX, as edições anotadas, ou os autores que vemos sentados descontraidamente à medida que percorremos o longo percurso da feira fazem as minhas delícias.

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De isabela a 01.06.2008 às 21:10

é disso mesmo que eu gosto também. Este ano não gosto da propriedade privada da Leya, cheia de staff fardado de vermelho, com sistema anti furto no circuito dos seus stands... os escritores sentados à parte, tudo muito parecido com uma loja, as novidades aos gritos... não gosto, não é esse o espírito da feira, mas o das barraquinhas com livros como fruta ou peixe... os livros raros ou esquecidos e os amigos que só na feira se encontram...
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De Pedro Gomes a 01.06.2008 às 22:00

Aproveitei o bom tempo de hoje à tarde para dar um saltinho ao Parque Eduardo VII e espreitar a edição deste ano da Feira do Livro. Deu para ver metade (que estas coisas são para ver com calma e o número de stands é enorme) e para trazer algumas pechinchas debaixo do braço:

* Girls in Bikinis de Pedro Paixão (por 2€, um verdadeiro achado!)
* O Fim do Petróleo de James Howard Kunstler (tema cada vez mais actual)
* Boca do Inferno de Ricardo Araújo Pereira (este com direito a autógrafo do próprio RAP, que andava por ali)
* Invista e Fique Rico de Joel Greenblatt (há que fazer pela vidinha, não é?)

Como curiosidade, deixo aqui o meu depoimento em relação ao stand da famigerada Leya: não me chocou absolutamente nada, pois está bastante apelativo e facilita a a vida aos leitores (junta-se todos os que se quer e paga-se no fim, tipo supermercado). Não percebo mesmo porque houve tanta polémica. No entanto não há bela sem senão: não é que foi este o único stand em que não consegui efectuar o pagamento por multibanco? Logo no mafarrico capitalista que tanto irritou a APEL e José Saramago?

Para a semana há mais.
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De Paixonetas a 01.06.2008 às 22:41

Tudo que tenho do Pedro Paixão foi comprado baratinho...
Pedro. espero que essa angústia de ser ou não ser escritor, digo, não lhe esteja a depreciar a obra.

Sobre a Leya, essa do multibanco é risível.

O Saramago, esse, não.

Escreveu boas histórias, mas já meteu (ou deveria ter metido) a viola ao saco há muito, muito, muito tempo. Lustros e lustros e lustros.

O que lhe sai agora da boca sai da régie.
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De Francisco S. Costa, Brasília a 02.06.2008 às 01:12

Belo post. Quem me dera ir à Feira.
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De Carlos a 02.06.2008 às 10:45

A sua descrição da feira comoveu-me. Sinceramente. Há um bom par de anos que por lá nao passo. Nem perto, para não ver as bandeirinhas e sentir aquela dor no peito. A primeira onde fui - ainda de calções - foi na Av. da Liberdade, de onde regressei ufano com um álbum de BD (já nem me lembro qual). Bibliófilo contumaz, tenho a minha casa repleta de livros (tudo lido, claro). Quase todas as paredes têm estantes até ao tecto, onde os meus queridos repousam. Milhares, muitos milhares, nem nunca os contei. Seria falta de respeito para com eles reduzi-los a essa expressão quantitativa. Entretanto, a crise adensou-se, o emprego passou-se e deixou de haver dinheiro para mais, porque é preciso meter o pão na boca dos filhos. Ainda recordo os bons anos em que vinha da feira com uma farta sacola, que mal chegava para um ou dois meses. Aqui, na província, as bibliotecas são uma completa anedota e quem programa a Rede Nacional de Leitura parece que nunca saiu da paróquia. Ainda se estivesse em Lisboa, perto da minha velha faculdade, teria possibilidade de lavar os olhos com umas letras novas, de vez em quando... Da última vez que passei na feira, sem um centavo, saí de lá carregado de catálogos e de lágrimas. Não volto lá nunca mais. Agora, choro sozinho em casa, a ler a sua crónica, aqui ao lado dos meus queridos meninos - os meus amados livros.
Da Internet não desistirei nunca. É o meu cordão ao mundo e devo aos bloggers muito mais do que podem supor. Obrigado por tudo.

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