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||| O regresso do Dr. António Sousa Homem, 2.

por FJV, em 29.05.08

 

«Os livros de história pátria não deixaram de festejar os vencedores e os heróis do Mindelo, do cerco do Porto, de Angra e do teatro romântico. Portugal está cheio de derrotados que raramente mere­ceram atenção diante da hagiografia dos vencedores. Da desco­nhecida Dona Teresa, mãe do nosso primeiro rei, aos fidalgos que desafiaram o magnífico D. João II e por isso foram supliciados, pas­sando pelos assassinos de Inês de Castro, por D. Leonor Teles e pelo seu conde, ou pelos vícios bonacheirões do nosso trono — há por certo, aí algumas injustiças no juízo dos nossos contemporâ­neos, habituados ao heroísmo das vitórias e à queima de arquivos. Ora, de alguma maneira, o retrato de D. Miguel lembra-nos a virtude da derrota.
O velho doutor Homem, meu pai, assegurava que ninguém no seu perfeito juízo sabia mais do que três ou quatro fra­ses do discurso justificativo de José Acúrsio das Neves em defesa do Príncipe, e que provavelmente isso não teria importância porque as opções do passado não podem alterar-se dois séculos depois. O facto é que os homens não fortalecem o seu carácter colocando-se sempre do lado dos vencedores. Há uma estranha serenidade que só se adquire nas derrotas e, algumas vezes, na reclusão que deve suceder às humilhações. O nosso mundo não se compadece com esta filosofia despropositada - quer vencedores e, podendo, faz deles vencedores absolutos.
Por isso, quando enfrento o velho retra­to do senhor D. Miguel, na casa de Ponte de Lima, iluminado pela penumbra do Verão, fil­trada pelos freixos e pelas cortinas da família, penso que o mundo está bem feito. Não muito bem feito. Mas razoavelmente bem feito.»

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2 comentários

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De pedro oliveira a 29.05.2008 às 02:09

O Dr. Sousa Homem, um conservador convicto era natural que conservasse a ligação à Asa, curiosamente, não foi o único escritor a trocar a Asa pela Bertrand.
Espero que este ano encontre o Dr. Sousa Homem numa das Feiras do Livro a falar sobre a sua obra
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De Francisco C a 29.05.2008 às 12:32

o velho dr. homem (quase acrescentei "meu pai") é o melhor cronista português no activo. Para grande ventura dos seus leitores, e apesar dos seus 84 anos, há-de continuar a escrever por muito tempo.

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