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Maio de minha mãe.

por FJV, em 01.05.08


O primeiro de Maio de minha Mãe
Não era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do Avô
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.

Já não se usa poesia descritiva.
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mão?
O primeiro de Maio nas ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cúmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
Límpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mãos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por essa época: eu é que não sabia!)

A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu Avô,
Cujas quedas iguais, gravíficas, profundas,
Muito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,

Muita estrela atraíram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Favas de Maio do meu tempo!
Havia poder popular
Nas mãos de minha Mãe, que as descascava como flores
E flores eram de si, na Flórea abada
Como se já guardassem flor de laranjeira e açaflor
Nas suas intenções de Maio 1918, para as depor
(Nem pensada sequer) na fronte à minha amada.

Vitorino Nemésio

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2 comentários

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De VFS a 20.05.2008 às 17:54

Para não cair no esquecimento.

SE BEM ME LEMBRO (À MEMÓRIA DE VITORINO NEMÉSIO)


Se bem me lembro,
com saudade o faço.

Eu,
e certamente
também vós,
recordo com emoção
o som da sua voz
e aqueles desenhos
que pintava,
enquanto gesticulava,
na nossa imaginação.

Do Homem
tive,
já no seu poente,
uma ténue ligação.

Do Ser
tenho
uma enorme recordação,
presente
e sempre viva no meu coração.
Ele
que é, para mim,
uma nascente
neste desejo de escrever.

Do Mestre,
terei
a eterna convicção
que a sua universalidade
provinha da sua simplicidade.

Se bem me lembro,
com amor o faço ...

in Odes & Homenagens

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