Se Manuela Ferreira Leite se candidatar à presidência do PSD, é provável e desejável que ganhe, até para acabar de vez com epifenómenos rasantes que têm ocupado mais espaço do que algumas vez teriam em
circunstâncias normais. Circunstâncias normais e
com cabeça.
Eduardo Pitta vaticina-lhe não só a oposição febril de Santana Lopes como, também, um desaire com pouca glória: «A senhora arrisca um desaire estrondoso.» Isto porque Manuela teria a boa-vontade e os votos da blogosfera, das elites e dos comentadores -- mas não os votos do maralhal. Ora, acontece que «o maralhal» já devia ter aprendido (não sei se aprendeu) com Santana Lopes e com Menezes o que valem os pantomineiros na política. E, se não aprendeu, então merece mais seis, dez anos de castigo, com Ribau Esteves e Gomes da Silva a dançar em redor do líder mais que putativo, uma mistura de Ângelo Correia, Santana e Meneses, para não referir Pedro Passos Coelho.
Pode brincar-se várias vezes ao ressentimento. O ressentimento conduziu Santana ao despautério, tanto no governo como na triste e patética campanha eleitoral que nos obrigou a assistir, engripado e rodeado de ausentes. O ressentimento contra a «ausência de elites» conduziu Menezes à presidência, e foi isto. Por isso, pode brincar-se várias vezes ao ressentimento, mas não sempre. É por isso que a candidatura de Manuela Ferreira Leite tem uma carga de
compensação por esse abandono e por essas ausências; por mais delírio entre as massas que provoquem os nomes de Santana ou Menezes, trata-se das
massas do partido. As massas do partido podem, por desfastio, querer um pirotécnico a participar nos jantares das concelhias ou distritais; mas não gostam de ver esses cavalheiros e a sua gentinha, promovida da JSD às direcções, no governo. E, se gostarem, então desfaçam o partido e juntem-se todos numa discoteca de Ílhavo. É o mínimo.
Por isso, a
desvalorização penitencial de Manuela Ferreira Leite é perigosa para o próprio sistema político, por mais gozo que dê, vista de fora. A sua eleição significaria o regresso da política com gente. Seja em que partido for.