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Guerras antigas de Angola.

por FJV, em 28.03.08

Tudo começou com uma entrevista de José Eduardo Agualusa ao Angolense. Nela, Agualusa dizia isto: «Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto. Foram todos eles grandes figuras do nacionalismo angolano, e eventualmente muito boas pessoas, não sei, não conheci nenhum deles, mas eram fracos poetas. Ruy Duarte de Carvalho é um bom poeta. Ana Paula Tavares tem um trabalho muito interessante. David Mestre merecia ser mais conhecido a nível internacional.»

Quem não gostou foi o Jornal de Angola, que publicou um editorial sobre o assunto: Agualusa procurava «humilhar figuras de relevo da História e da Literatura Nacional». Antes disso, Artur Queiroz, também no Jornal de Angola, protestava pela genialidade da poesia de Neto – mas alongava-se, tranformando a entrevista de J.E. Agualusa num problema de regime: «A grandeza da obra literária de Agostinho Neto foi reconhecida em todo o mundo por académicos, professores, críticos literários e confrades. Vem agora uma flatulência retardada do colonial fascismo sujar a sua memória com uma tentativa de assassinato de carácter.» No mínimo, duvidoso; mas não original, porque não é a primeira vez que este género de reacções tem perseguido escritores que não estiveram do lado certo em Luanda, de David Mestre a Sousa Jamba, passando, claro, pelo ódio de estimação a José Eduardo Agualusa.

Entretanto, Sousa Jamba publicou, no Angolense, um texto em defesa de Agualusa, a que se juntou outro de Justino Pinto de Andrade, logo depois de o director do Inald (Instituto Nacional do Livro e do Disco) ter declarado, para a posteridade, a genialidade da literatura angolana, e de o Jornal de Angola ter retomado o ataque a Agualusa («Agualusa foi longe demais ao atacar grandes figuras emblemáticas da literatura nacional, nomeadamente: Agostinho Neto, António Cardoso e António Jacinto. Afinal em que critério se baseia o agrónomo para fazer tal juízo do mais velho “Kilamba”? Agualusa precisa preparar um trabalho melhor elaborado para refutar todos os ensaístas que escreveram sobre Neto.»).

Guerras antigas de Angola. Convém estar atento, para que não pensem que ninguém ouve.


 

Entretanto, este é o texto de José Eduardo Agualusa publicado este fim-de-semana no jornal A Capital, de Luanda.

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9 comentários

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De nuno granja a 29.03.2008 às 02:25

não tendo competências para avaliar a produção intelectual de Agostinho Neto, fico muito contente por esta polémica, tipo "artigo de opinião" para cá e "artigo de opinião" para lá ser possível sem ninguém ser preso ou executado ...para já

so faltam mesmo as eleições livres e justas


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De Fernando Pessoa a 01.04.2008 às 09:52

não percebemos a opinião do FJV.

e já agora o que define a boa da má poesia. isso seria um assunto interessante de discorrer.
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De Filipe de Matos a 07.04.2008 às 19:40

A polémica despoletada pelo Agualusa é boa. Vem mostrar como parte da intelectualidade angolana está embotada, enquistada em lugares comuns laboriosamente construídos pela propaganda de um regime que, infelizmente, ainda vem sendo apaparicado por pessoas como aquelas referidas num dos artigos do Jornal de Angola, a justificar a genialidade do A.Neto . E o Artur Queirós nem sequer merece que lhe retribuam os insultos que dirige não só ao Agualusa, mas também a todos os angolanos que se prezam de pensar pela sua própria cabeça. É o reino da confusão: confunde-se nacionalismo com literatura, confunde-se gestão partidária com gestão de um país (isto é governação), confunde-se poder com direito e no meio disto tudo temos um país paralisado pela "baba" do lugar-comum, da lisonja, da falta de sentido crítico. Mesmo que o Agualusa estivesse errado, eu estaria do lado dele, porque ao menos deu uma pedrada no charco, passe o lugar comum. E a ajudou a confirmar que tem angolano com coragem de dizer: "Estamos fartos de aldrabices".
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De Miguel Marques a 09.04.2008 às 12:38

Sou angolano e vivo em Angola. O Agualusa foi infeliz, motivado pela sua arrogância que desta vez acompanhou e mal com ignorancia.O dito cujo não fundamentou o porque dos visados serem medíocres.A.Neto em particular viveu num contexto de guerra colonial e tinha um papel fundamental nessa guerra, logo as suas obras reflectem isso mesmo. Ele não era escritor, escreveu.É isso que o Sr.Aguaardente tem de compreender, o contexto.A.Neto escreveu encarcerado, nas matas,etc.Não como o esse senhor que escreve como profissão à beira-mar plantado.Tem de se relativizar os contextos, mais não escrevo por falta de tempo.
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De André Pinyo a 10.04.2008 às 17:27

"É isso que o Sr.Aguaardente tem de compreender, o contexto.A.Neto escreveu encarcerado, nas matas,etc.Não como o esse senhor que escreve como profissão à beira-mar plantado.Tem de se relativizar os contextos, mais não escrevo por falta de tempo."

Claro. Foi o desconforto da mata e do cativeiro que impediram o Agostinho Neto de escrever poesia interessante. Curioso... A literatura está cheia de exemplos de superaçao artística que surgiram "na mata, na prisao, etc." O Agostinho Neto escrevia poemas com um estilo e originalidade mediocres, sensaboroes.
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De Anónimo a 11.04.2008 às 14:46

O contexto? Por amor de Deus... O ponto de Agualusa foi vingado. Só alguém que acha que a qualidade da poesia depende do "contexto" e do (des)conforto pode pensar que Agostinho Neto é um grande poeta. E não, não ganha pontos extra (como poeta) por ter sido combatente e independentista.
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De Anónimo a 19.04.2008 às 15:55

Concordo que António Agostinho Neto não foi um grande poeta e sei dizer porquê. Porém, quando emito a minha opinião, não acarreto rancores e despeitos. Tão-pouco a sensação de ter perdido algo com a independência da jóia do império.
Agostinho Neto nunca foi um homem da literatura e nunca se afirmou um grande poeta.A sua verdadeira poesia era a independência da pátria angolana. E isso não lhe perdoam.
O contexto não conta, obviamente. Mas sempre é melhor escrever em Berlim, Rio de Janeiro ou Lisboa, do que nas matas de Angola.
Os grandes poetas e romancistas do momento, sê-lo-ão daqui a vinte anos?

Manuel Barata
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De Jerónimo a 18.11.2008 às 21:09

E nas sanzalas
nas casas
no subúrbios das cidades
para lá das linhas
nos recantos escuros das casas ricas
onde os negros murmuram: ainda

O meu desejo
transformado em força
inspirando as consciências desesperadas.

(Sagrada esperança
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De Jorge a 25.02.2009 às 21:57

Voces sao pessoas idiotas e inuteis!!! Voces n sabe de nada do mundo, da pobreza,da fome!!!

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