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Cores vivas. Ou mortas.

por FJV, em 12.03.08

“Chegou, empurrou a porta com força e deitou o meu irmão [José Torres] ao chão.” Ele tinha sido “um pouco bruto”, diz a crónica do crime de Boticas, publicada ontem no jornal. O que fez então José Torres, de 78 anos? Conta a própria irmã: “Com os nervos foi buscar a pistola e disparou.” Atingiu o outro com dois tiros no coração. O leitor passa por esta história e não lhe encontra o sabor da “criminalidade urbana” que atinge os subúrbios e as noites de Lisboa e do Porto; é um homicídio de vinganças antigas, no intervalo de um jogo de futebol – mas hoje mata-se mais, mais friamente, com o sentido da banalidade muito apurado. Há umas semanas, depois de ter disparado por duas vezes um revólver contra o peito de um antigo amigo com quem andara a jogar à bola da vizinhança (depois, as namoradas separaram-nos), o rapaz olhou à sua volta e perguntou: “Queriam que eu fizesse o quê?” Não é a imagem de um país, mas ajuda a compor o retrato com cores vivas. Ou mortas.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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2 comentários

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De pepe a 12.03.2008 às 11:24

No século passado, assim como em todos os que o antecederam, os intervenientes levantavam o pau e rachavam cabeças ou puxavam pela navalha e espichavam-se um ao outro, como o famoso Malhadinhas bem relembra em suas memórias.

A diferença está na arma, porque o que (n)os move nessas "horas do diabo" são os mesmos demónios, "coisinhas más" que passam ali, fazendo que se veja "tudo vermelho".

Assim como a pergunta "queriam que eu fizesse o quê?" condensa a falta de individualismo frente aos "outros", ao colectivo, que o incita à violência para limpar o nome, amesquinha-o se reagir de outro modo.

Então, o que há de novo é mesmo o matar mais e friamente, com o apuro do sentido da banalidade? Pode ser, mas até isso soa a velhos temas da filosofia e da literatura da 2ª metade do sec.XIX .
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De Pipas a 13.03.2008 às 19:22

Há coincidências terríveis, sou colega de trabalho do irmão da vítima e estava com ele quando soube da notícia.
É incrível como a vida humana nestes dias tem tão pouco valor! Mata-se tão facilmente uma pessoa como se mata um insecto.
Dá que pensar...
Abraço
Pipas

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