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“Chegou, empurrou a porta com força e deitou o meu irmão [José Torres] ao chão.” Ele tinha sido “um pouco bruto”, diz a crónica do crime de Boticas, publicada ontem no jornal. O que fez então José Torres, de 78 anos? Conta a própria irmã: “Com os nervos foi buscar a pistola e disparou.” Atingiu o outro com dois tiros no coração. O leitor passa por esta história e não lhe encontra o sabor da “criminalidade urbana” que atinge os subúrbios e as noites de Lisboa e do Porto; é um homicídio de vinganças antigas, no intervalo de um jogo de futebol – mas hoje mata-se mais, mais friamente, com o sentido da banalidade muito apurado. Há umas semanas, depois de ter disparado por duas vezes um revólver contra o peito de um antigo amigo com quem andara a jogar à bola da vizinhança (depois, as namoradas separaram-nos), o rapaz olhou à sua volta e perguntou: “Queriam que eu fizesse o quê?” Não é a imagem de um país, mas ajuda a compor o retrato com cores vivas. Ou mortas.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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