De JLS a 09.03.2008 às 02:39
Não passei por lá, pela "escola", assim à tanto tempo quanto isso. Há que estabelecer um ponto prévio: o status quo é (era) uma autêntica merda!
Os professores queixavam-se e, simultaneamente, eram cúmplices e coniventes com esse status quo. Não se tenha disso alguma dúvida.
Pode-me explicitar, exactamente, o que é que o ME fez da vida das escolas?
Sabe bem como esta era antes? Sabe que passavam boa parte do tempo fora da escola? E engana-se se passavam o tempo a "preparar as aulas" ou "a corrigir testes". Que outro trabalhador da função pública podia ser visto, frequentemente, a passear na rua durante o dia? Choca-lhe que sejam obrigados a estar na escola? Choca-lhe que existam aulas de substituição (não creio que seja culpa directa do ME, que professores de português sejam chamados a "substituir" aulas de biologia - ou, doutro modo, não será culpa da introdução das aulas de substituição, que em si, são extremamente positivas). Não há qualquer dúvida que a classe dos professores era a classe da função pública com maiores regalias - como função pública. Ser professor era um verdadeiro luxo, por comparação.
«a proposta do ME está errada, cheia de maus critérios.»
Em que aspectos particulares é que o decreto regulamentar (leu-o?) http://min-edu.pt/np3content/?newsId=1540&fileName=decreto_regulamentar_2_2008.pdf
está assim tão fundamentalmente errado.
Fala dos critérios?
Refere-se aos critérios que são, por acordo entre o avaliador e o *avaliado* estabelecidos previamente? Estes critérios?
artigo anterior.
«2 — Os objectivos individuais são formulados tendo
por referência os seguintes itens:
a) A melhoria dos resultados escolares dos alunos;
b) A redução do abandono escolar;
c) A prestação de apoio à aprendizagem dos alunos
incluindo aqueles com dificuldades de aprendizagem;
d) A participação nas estruturas de orientação educativa
e dos órgãos de gestão do agrupamento ou escola não
agrupada;
e) A relação com a comunidade;
f) A formação contínua adequada ao cumprimento de
um plano individual de desenvolvimento profissional do
docente;
g) A participação e a dinamização:
i) De projectos e ou actividades constantes do plano anual
de actividades e dos projectos curriculares de turma;
ii) De outros projectos e actividades extracurriculares.»
Todos os critérios? Qual deles, então? Existem muitos mitos... mas a lei é clara e muito mais simples do que os professores querem fazer crer. Não é verdade que um professor que dê aulas a uma turma de 8s e "apenas" consiga que se torne numa turma de 10s vá ter uma pior avaliação do que um que dê aulas a uma turma de 18s e consiga manter os 18s. Apenas um mero exemplo, dos mitos, que são tratados oficialmente aqui: http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Ministerios/ME/Comunicacao/Outros_Documentos/20080306_ME_Doc_Avaliacao_Professores.htm
Mas que, se preferir, fiz questão de lhes colar a justificação legal: http://ohnaoehagora.blogspot.com/2008/03/sobre-os-professores-desmistificao.html
«e dos bons professores,»
Fala dos bons professores e muito bem... esta medida é fundamental para esses. Absolutamente vital. É o que vai afastar, definitivamente, os maus professores. E olhe que há muitos "cancros" no sistema. Sem exagero - e não passei por lá à muito tempo (ainda neste século) - apanhava *pelo menos* um por ano.
A manifestação é expressiva, mas tem por base muitos equívocos, facilmente resolvidos pela mera leitura da lei (que nem é muito complexa...). E os mitos foram-se gerando... Fomentados, por certo, pelos sindicatos.
De Anónimo a 09.03.2008 às 08:57
“É o que vai afastar, definitivamente, os maus professores.”
Ah, ah, ah, ah, ah!!!
Eu sou um bom exemplo. Ah, ah, ah! Passo a explicar:
- Não trabalho nem metade daquilo que a esmagadora maioria dos meus colegas trabalha.
- Não perco tempo a preparar aulas, a fazer testes (deixei de os fazer este ano), a organizar visitas de estudo, a colaborar em actividades extracurriculares, etc.
- Dou o maior número possível de notas positivas, para que pais e alunos não me chateiem.
- Preocupo-me, sim, com a burocracia. Graças a isso, sempre que lá vai a inspecção, ofereço-me para ser escrutinado. Os meus colegas agradecem (eles, coitados, pouco tempo têm, e por isso estão sempre inseguros de ter a burocracia em ordem, já que eles fazem coisas realmente), a inspecção elogia e o Conselho Executivo rejubila.
- Nunca falto. Na verdade, ao contrário dos meus colegas, raros são os dias (compreenda-me, os alunos não me chateiam, acham-me um professor porreiro) em que chego cansado ou doente a casa – para onde, aliás, nunca levo trabalho, fazendo o pouco que tenho a fazer na escola, o que tem três vantagens: dou a ideia na escola de que trabalho muito, aumentando o meu prestígio; fico com muito mais tempo livre; e não ponho gratuitamente o espaço familiar e privado da minha casa ao serviço do Ministério da Educação, como os parvos dos meus colegas fazem!
Com tudo isto, mais alguns segredos que não me interessa estar aqui a dar a conhecer, e ainda muita política (que é o que é mais importante agora nas escolas, graças a este governo; não estou, evidentemente, a falar da partidária), consegui:
- Tornar-me professor titular, passando à frente de muitos colegas que trabalharam muitíssimo mais que eu para os alunos, para os pais e para a escola em geral.
- Estar-me borrifando para este sistema de avaliação que, com a sua complexidade e infinidade de documentos (para isso tenho eu jeito e, aliás, diverte-me), só me vai deixar ficar bem visto, ao contrário dos palermas dos meus colegas que gastam as suas energias a tentar ensinar mais e melhor.
- Ficar a avaliar colegas que, não estejamos com falsas modéstias, são muito melhores professores do que eu (está a ver, já estou a preparar-me para que eles, tal como os alunos, também não me chateiem).
Ah, ah, ah, ainda estou a rir-me das patacoadas que você pr’aí escreveu...