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Abrir a escola?

por FJV, em 23.02.08

A ministra da Educação garante que o decreto sobre o novo regime de autonomia e gestão escolar vai proporcionar “uma maior abertura ao exterior”. Precisamente o que eu temia. Exactamente aquilo que o leitor deve temer. Esta anunciada abertura da escola aos “agentes da comunidade local”, como pais, autarquias e “outros agentes” é muito perigosa. Já acho duvidoso que a gestão das escolas possa albergar pais e autarcas; o seu limite deve ser, apenas, uma espécie de conselho consultivo. Mais nada. A ideia de “abrir a escola à sociedade”, muito certinha, não quer dizer absolutamente nada. Penso, aliás, que a escola já está “aberta” demais à sociedade, que a enche de lugares-comuns, erros ortográficos, sintaxe de 'sms', discursos sem nexo, e vários elementos de distúrbio. A democracia, que transformou as escolas em “estabelecimentos de ensino”, uma espécie de “fábrica de cidadãos” em regime industrial, ainda não se desfez da ideologia que a conduziu ao desastre.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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17 comentários

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De Ana Cristina Leonardo a 25.02.2008 às 23:20

com o avançar dos anos escolares, há matérias duma complexidade tal que exigem do aluno algum grau muito evoluído de atenção/concentração, de pré-disposição para a ideia de estudo e sua assimilação; o que não acontece com os hábitos de muitos dos nossos alunos e das famílias respectivas.

Com certeza. Mas a questão da atenção/ concentração é muito mais complexa do que clamar apenas que a criança/jovem não estuda. Porque essa desatenção parece ter tendência a crescer e está, naturalmente, relacionada com a própria aceleração social. O computador, por exemplo, ao possibilitar respostas "instantâneas" cria-nos expectativas que não tínhamos quando precisávamos de passar dias numa biblioteca até encontrar o que queríamos. O computador que, pela experiência cá de casa, sempre me pareceu o verdadeiro rival da TV (e não da leitura, como muitos catastrofistas diziam), cria níveis de inter-actividade que a escola de hoje terá de aproveitar... ou morrer. Ou seja, a questão da atenção/concentração parece-me merecer um debate (odeio esta palavra, mas não encontro agora outra) muito mais amplo e profundo do que ficarmo-nos apenas por dizer que os miúdos não têm hábitos de estudo.
Depois, claro, e insisto - os programas. os manuais. professores sem vocação, muitas vezes amedrontados, o espaço físico das escolas, muitas vezes degradado, o que não estimula respeito pela instituição, etc., etc.

É a escola pública que está em causa, sendo ela o garante de muitos dos nossos miúdos, e se não queremos fragilizá-los, temos que ter uma cultura de exigência para com eles. Isso é estar a nivelá-los por cima.
Neste aspecto, estou inteiramente de acordo consigo. O problema, a meu ver, é que, como ninguém os ensina a pensar, a expressar um raciocínio com princípio, meio e fim, os miúdos, naturalmente, encostam-se à facilidade e ao papaguear (nos melhores casos). Mais 2 ou 3 gerações assim e vamos ter sociedades completamente imbecilizadas.

Em resumo: o meu comentário ao post só servia para sublinhar que o ensino me parece viver momentos dramáticos com esta nivelação por baixo (que já chegou às universidades), mas que não estará na evocação ad nauseum de disciplina! disciplina! disciplina! a solução para o problema.
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De C a 26.02.2008 às 07:39

Nem mais. Mas, Ana Cristina, talvez, e ainda, a ideia de "disciplina" pessoal, (que vive mesmo ao lado do respeito pelo outro) no sentido de levar a criança à crescente responsabilização e amadurecimento pessoal que o possa conduzir a um maior rigor na sua maturidade enquanto aluno (eu, na minha utopia, apostando no ser humano, porque as respostas sociais estamos a ver como são), e as famílias podem contribuir para isso. Relembro, aqui para si, uma frase de um dos meus professores mais velhinhos, da área da psicologia e pedagogia, quando , em partihada retrospectiva do seu tempo de aluno nos dizia :"Eram os meus professores a ensinar 'mal' e eu a aprender bem". Seja lido como metáfora. Assim o entendi então. Temos que nos responsabilizar uns aos outros mas, cada um por si, tem que fazer muito. Vamos a isso.

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