Imaginemos o mais extremo dos cenários:
a demissão de José Sócrates. E novas eleições. Ganharia as eleições de novo? É provável (o factor Menezes conta...). O que quereria isso dizer? Que os eleitores não são sensíveis a
essas notícias. Dir-se-ia, então, que foi tempo perdido. Ou seja, que é tempo perdido avaliar ou conhecer o trajecto dos nossos políticos. Que o
homem comum é sempre desculpado, porque o eleitorado gosta de pessoas comuns, aprecia manigâncias, tem um secreto gosto por
desenrascados, gente que trata da sua vida. Eu tenho admiração por alguns deles, pantomineiros, gente que subiu a pulso, que enriqueceu ou rompeu com o passado de humildade. Mas não aceito que eles me forneçam, com abundância ou com parcimónia, lições de moral ou exemplos para a minha vida.
Ora, pode acontecer que os eleitores até
nem sejam sensíveis a estas notícias sobre José Sócrates. Quer isso dizer que devemos desculpar ou deixar passar os
factos como irrelevantes? E, se deixarmos passar os
factos como irrelevantes, por que razão nos aborrecemos com a cigarrilha de António Nunes no Casino Estoril, com os presentes oferecidos a um autarca, com o sobrinho nomeado por um ministro ou um gestor público, com uma multa de trânsito desculpada? Não são essas as características do
homem comum?