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Novas oportunidades.

por FJV, em 11.01.08
Novas oportunidades validadas por Roberto Carneiro; vai ser este o sentido da avaliação prometida. Roberto Carneiro foi o ministro que começou a tratar os alunos por aprendentes, o que teve consequências ainda mais nefastas do que se previa. O país dos aprendentes, da novilíngua, da nivelação por baixo, está para durar. Mas permitam-me que cite um depoimento (anónimo) à notícia do Público. Vale a pena:

«Como professora/formadora a trabalhar em Centro de Novas Oportunidades numa escola pública, posso afiançar que o facilitismo está presente nas nossas reuniões de validação. Não acrescentamos nenhuma aprendizagem ou ensinamento aos adultos que se pretendem certificar. Nunca lhes ministrei uma única aula... Ainda esta semana uma colega nossa, com base num trabalho escrito pelo adulto em processo (2 páginas A4 com uma reflexão sobre a aplicação das novas tecnologias) conseguiu validar 5 das 28 competências que o adulto precisa para ser certificado (ganhar?) o 12º ano, entre outras razões porque descreve que sabe mandar mails, usar o telemóvel e ler instruções do gravador de CDs...A mediadora /avaliadora achou correcto (eu e outras que ainda têm consciência nada pudemos obstar!) Será preciso dizer mais?»

Um outro comentário à mesma notícia:

«Mesmo que conceptualmente o programa Novas Oportunidades não tenha o carácter facilitista a que se está a assistir, a pressão que o governo coloca aos CNO (Centros Novas Oportunidades) com as metas só pode levar a isso. Quem não atingir as metas, perfeitamente loucas e irracionais, não tem futuro. Os horários dos profissionais RVCC (Reconhecimento, Certificação e Validação de Competências) é desumano só em nome das ditas metas. Estatística! A qualidade não interessa. Como vamos continuar a ter alunos no Secundário regular a estudar e a trabalhar com empenho se é tão mais fácil reprovar e obter certificação via CNOs? É o desprestígio total para os docentes e os alunos das turmas do ensino regular. Não interessa quem faz os dossiers; apresenta-se, entrega-se e estamos certificados. Simplex em acção.»


Aí está. O mundo dos aprendentes veio para ficar. Espero, sinceramente, mas com muitas dúvidas, que Roberto Carneiro tenha a presciência (eu gosto da palavra) de denunciar estas inanidades.

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11 comentários

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De Carlos a 11.01.2008 às 23:51

Pode parecer chocante mas o que vou relatar é a mais pura verdade: tenho um filho com 14 anos, que frequenta o 9º ano e que se nega, com toda a determinação, a continuar no ensino secundário. Clama que quer vai emprego como aprendiz numa oficina de automóveis e que, mais tarde, vai ao Centro de de validação de competências onde terá o diploma do 12º ano com muito menos esforço do que passando 3 longos anos na escola, estudando e correndo o risco de chumbar.
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De Anónimo a 03.02.2008 às 14:42

Penso que deve ter um pai que lhe possa explicar para que serve as novas oportunidades
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De Ana Cristina Leonardo a 12.01.2008 às 00:12

Juntando o post anterior - Larápios - e este, facilmente se conclui que o Programa Novas Oportunidades não serve mesmo para nada.
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De pedro_dealmeida@sapo.pt a 12.01.2008 às 12:48

Acompanhei muito de perto a experiência dum formando que tirou o 9º ano, surpreendendo-me pela negativa: o tempo é curto (creio que foram 3 meses), não se ensina (à excepção da informática para quem nunca trabalhou com word , excell e windows , mesmo assim a correr e mal dado) e das famosas "competências" reconhecidas, francamente...!

Quando afirmo que não se ensina (e reporto-me ao único caso que conheço) não estou a ser mauzinho, o facto é que só se exigem textos (ou exercícios de aritmética muito simples) baseados na vida e experiência de cada um. Se não forem escritos num computador, aí sim, pode ser meio caminho andado para o chumbo (daí o meu acompanhamento pro bono ).
Ainda tive a esperança que ajudassem o formando a ter algumas noções de construção de frases, a organizarem ideias para compor textos, regras de composição, enfim...acabei por ficar com pena daqueles que acreditaram no programa e se viram sozinhos frente a uma folha de papel branca. Como se safaram? Recorreram a amigos, familiares ou a explicadores?
Porém, nada disto me surpreende, pela minha experiência de formador/formando em acções de formação profissional financiadas pelo Fundo Social Europeu.
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De helena sérgio a 12.01.2008 às 14:58

Quem validou as competências? A ministra? O ex-ministro? O governo? O primeiro ministro ? Os formandos? Que eu saiba, e sou professora há 30 anos, foram os professores. Será que um pouco mais de competência e menos cobardia e acomodamento dariam uma mãozinha ao assunto?
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De Mónica a 14.01.2008 às 09:47

bravo Helena! se não somos parte da solução, não somos parte do problema
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De Mónica a 14.01.2008 às 09:48

se não somos parte da solução SOMOS parte do problema, claro (que significará este lapsus linguae?)
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De Anónimo a 28.02.2008 às 17:05

Ma por acaso são todos licenciados? é que eu não tive um paizinho que me pagasse a universidade!
Sinceramente, as novas oportunidades podem não servir de muito, mas ajudam pessoas como eu a terem a esperança de conseguir ser igual aos outros ea ser olhada da mesma forma quando afirmar que tenho o 12º ano. Frequento as novas oportunidades e onde eu ando temos que marrar bastante pra conseguirmos o diploma!
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De Jose Moreira a 15.05.2008 às 16:54

Pois é pena que alguns centros rvcc venham por incompetencia, ministrar mal estes processos e tirar o devido valor aos processos de reconhecimento de competencias, É tambem pena que se facilite o reconhecimento para atingir objectivos, mas temos de reconhecer que ter o 12 pela via de ensino normal nao significa ser competente ou ter conhecimento. Anda ai muito sr que mesmo sem escolaridade ou curso superior prova a muito bom eng. que a vida é uma escola. É feio e mostra fraqueza o medo que os doutorados deste país revelam ao sentirem-se ameaçados por um movimento destes... façam voces tambem prova no dia a dia do vosso valor e competencia...e deixem quem luta...
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De Susana a 01.04.2009 às 16:44

Conheço duas pessoas que frequentam actualmente o Programa Novas Oportunidades, são meus amigos desde sempre. Nenhuma das duas escreveu uma linha sequer! O trabalho de uma delas é feito por mim e as perguntas feitas são muitas vezes absurdas, mal escritas e com erros ortográficos. Sempre pensei que iriam rever conhecimentos de gramática, matemática e outros, aprender a utilizar um computador em tarefas simples ou aprender noções, mesmo que básicas, de uma língua estrangeira, mas as perguntas são sempre as mesmas (por vezes fazem a mesma pergunta mais do que uma vez!). Perguntam o que fazem durante o dia, pedem para descrever o primeiro telemóvel, para anexar instruções de electrodomésticos, solicitam informações sobre o que fazem no trabalho, sobre os familiares, até receitas de culinária...Há dias pediram para anexar uma página da internet sobre o Programa, deveria anexar este blog!
Mas o que mais me espantou foi uma das formadoras ter dito à pessoa a quem faço o trabalho que se tivesse dificuldades, ela própria responderia às questões!! E que já o fizeram a outros alunos. Alunos esses que estariam já em condições de receber o diploma!! Fiquei sem palavras...Sou completamente a favor da aprendizagem ao longo da vida, mas não posso compreender esta maneira de obter resultados. Será que num futuro próximo vamos ter também licenciados desta forma. Beberiam água analisada por alguém assim diplomado!?
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De Lúcia Duarte a 14.06.2011 às 12:00

Avaliar o trabalho de centenas de pessoas através de comentários e notícias avulsas na comunicação social parece-me intelectualmente pouco sério.

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