por FJV, em 25.12.07
A ninguém escapou a intervenção decisiva do Estado na escrita do guião do «episódio BCP». Vítor Constâncio está no Banco de Portugal e sabia. Teixeira dos Santos esteve na CMVM e sabia. Porém, interessa considerar o primeiro aspecto importante do ponto de vista do argumento: diante da evidência do desastre, do perigo iminente de investigações aprofundadas e públicas, da ameaça de sanções e de prejuízos, houve uma reunião em que accionistas do BCP convidaram Santos Ferreira para liderar o banco.
Segundo aspecto importante do ponto de vista do argumento: sendo certo que o dinheiro não tem cor, que mais valias ofereceria a nova liderança para que, com a sua presidência, o cenário de crise fosse afastado? Será que, com a nova liderança, presidência e vice-presidências incluídas, estaria afastado o cenário de investigações aprofundadas e públicas, de sanções e de revelações dos pecados da finança?
É claro que, do ponto de vista do argumento, isso implicaria que alguém pressentisse o xeque-mate. Para salvar o rei, entregam-se os bispos e as torres. Ou convida-se o próprio adversário a poupar o prestígio do rei (e da rainha, uma vez que são precisas peças) para que o jogo continue. Como se sabe, o xadrez dá pano para mangas.
Porém (estamos a falar do ponto de vista do argumento), a nova liderança tem de dar a impressão de que vai salvar o jogo e não impor as suas regras a troco de um religioso silêncio. Não pode substituir todos os generais. Mas, por lapso e atrevimento, revela mais do que devia: o general-chefe quer levar todos os seus ordenanças e isso levanta suspeitas.
Do ponto de vista do argumento, estamos numa encruzilhada.
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